Após o 11 de setembro, a noção de herói apareceu no inconsciente coletivo com freqüência cada vez maior (...). Contudo, no furacão jornalístico em torno destes desastres e emergências das primeiras páginas, é fácil não perceber a importância dos heróis que sacrificam imensuravelmente vida e trabalho em suas vidas diárias pelo bem dos outros, mas que o fazem em ambientes um pouco menos espetaculares.

O trabalhador imigrante mexicano em Nova York é o exemplo perfeito do herói que passa despercebido.

Foi a partir desta idéia que a artista mexicana Dulce Pinzón criou a mostra fotográfica La Verdadera Historia de Los Superhéroes, na qual 12 imigrantes mexicanos são retratados nos uniformes coloridos dos personagens de quadrinhos. Confira o trabalho:

Pinzón escolhe o super-herói de acordo com o trabalho do imigrante, sempre com um toque de ironia. Assim, o cozinheiro e maratonista Álvaro Cruz veste o uniforme do Flash para sua foto. Paulino Cardozo, carregador de encomendas, coloca músculos falsos e uma roupa verde e roxa para ficar igual ao Hulk. O Aquaman Juventino Rosas tira escamas de peixes. Ernesto Méndez, michê em Times Square, só poderia estar vestido de Robin.

Além dos conhecidos heróis americanos, são retratados também os super-heróis do povo mexicano: Chapolim Colorado (Adalberto Lara, trabalhador da construção civil) e o lutador Santo (José Resendo de Jesús, sindicalista).

Sob cada foto, Pinzón detalha o nome, a ocupação, tempo de trabalho e a quantia em dólares que o imigrante envia para casa mensalmente. É comum nos EUA atual a forte entrada de trabalhadores mexicanos que ganham salários, mesmo que baixos (relativamente aos salários do país), para sustentar suas famílias no México.

A economia mexicana subrepticiamente tornou-se dependente do dinheiro enviado por trabalhadores nos EUA. Da mesma forma, a economia estadunidense subrepticiamente tornou-se dependente do trabalho de imigrantes mexicanos. Ao lado da profundidade de seu sacrifício, é a quietude em torno desta dependência que torna os trabalhadores imigrantes mexicanos um assunto interessante, conclui Pinzón na apresentação de sua mostra.

Itinerante, a mostra já foi exibida na Galería Kunsthaus Santa Fé, em San Miguel de Allende, e na Galería de La Universidad Iberoamericana, na Cidade do México.