Nenhum período histórico tão breve rendeu tantas produções culturais quanto o Velho Oeste Americano. A era dos cowboys durou de meados de 1800 a 1920, o fim da Revolução Mexicana, representando a conquista e o desbravamento de toda a fronteira sul e ocidental dos Estados Unidos em formação. Tanto aconteceu em um espaço de tempo tão exíguo que a intensidade desse momento gerou seu próprio gênero. Nunca 70 anos renderam tantas histórias.

O cinema, a literatura e a televisão aproveitaram-se com entusiasmo das ideias do oeste selvagem, terra sem lei, de homens fortes e perigos naturais, e o público consumiu esses produtos com voracidade. Mas o excesso de produções, facilitadas pelo baixo orçamento do gênero, nas décadas de 1930, 40 e 50 exauriram o faroeste, que encontrou ainda algum fôlego nas décadas de 1960 e 70, primeiro em uma fase revisionista, depois com histórias mais irônicas e violentas, em que seus anti-heróis eram reflexos do revolucionário radicalismo cultural.

Red Dead Redemption

None

Red Dead Redemption

None

Red Dead Redemption

None

Red Dead Redemption

None

Nos anos 1980 em diante, contam-se nos dedos os grandes westerns surgidos. Daí o fato de não existirem muitos grandes games do gênero. Afinal, conforme a era em que a cultura era dominada por pistoleiros chegava ao fim, começava a popularização dos videogames - e o cowboy cedeu seu espaço aos space marines...

Um dos bons jogos de Velho Oeste é Red Dead Revolver, de 2004 para PlayStation 2 e Xbox. O jogo de tiro em terceira pessoa levou aos games um dos subgêneros mais apreciados do estilo, o chamado Bang Bang à Italiana ou Western Spaghetti, com direito a influências do mestre do gênero, o cineasta romano Sergio Leone (1929-1989), e trilha sonora com clássicos inconfundíveis de Ennio Morricone.

Agora, chega às prateleiras uma verdadeira carta de amor dos games aos westerns. Red Dead Redemption, que a empresa chama de sucessor "espiritual" de Red Dead Revolver, mantém a ambientação spaghetti do primeiro título da Rockstar no gênero e a cerca com possibilidades dignas de um Grand Theft Auto IV.

O jogo segue o estilo sandbox de GTA. Há as missões principais, que levam a trama à frente, as paralelas, que servem para dar dinheiro e fama, e também os objetivos-relâmpago. Esse último tipo é uma benvinda novidade e requer raciocínio rápido. Você pode estar cavalgando pelo campo ou andando em direção a uma missão em uma cidade quando alguém aparece gritando com um problema. Resolvê-lo normalmente exige muita velocidade e reflexos... já que o desfecho normalmente acontece em segundos e não raro a vida de alguém está, literalmente, por um fio (ou corda de enforcar).

Além dessas possibilidades, há os desafios de caça, sobrevivência e como caçador de tesouros. Todos eles aumentam a fama e seus frutos (peles, plantas, chifres, carne...) podem ser vendidos mais tarde. Enfim, há uma enorme gama de atividades e não faltam também jogos de azar, duelos, trabalho nos ranchos e recompensas a serem cobradas depois de localizar um bandido procurado. Com tanto o que fazer é difícil ficar entediado jogando Red Dead Redemption - mas se for o caso você pode participar da comunidade online gratuita Rockstar Social Club para desafios e rankings adicionais.

Como nos melhores jogos do gênero, cada ação tem sua reação: faça o bem e sua honra aumenta, comporte-se como um fora-da-lei e aguente as consequências em uma sociedade que tenta estender ao Oeste selvagem as maneiras do leste civilizado.

Tecnicamente, as tecnologia do engine Rage e o simulador de física para corpos Euphoria, empregadas no jogo, nunca pareceram funcionar tão bem. Uma novidade na jogabilidade, o sistema de mira Dead Eye, uma câmera lenta temporária que dá ao jogador os reflexos de um pistoleiro treinado, permite que seja apreciada a qualidade do Euphoria: partes diversas de humanos ou animais reagem como esperado quando atingidas por balas. É possível, por exemplo, desarmar um inimigo para depois, enquanto ele tenta pegar a arma do chão, laçá-lo e amarrá-lo. Entregar um criminoso vivo, afinal, sempre rende mais dinheiro.

Mas o que realmente emociona em Red Dead Redemption é a qualidade dos cenários e a preocupação em retratá-los não de maneira realista, mas com a atmosfera cinematográfica dos westerns das telonas. Ao primeiro sinal de perigo, começam os assobios da música, o lamento das gaitas e o dedilhar dos bandolins. Acompanhados pela trilha sonora, disparos passam rasgando com a sonoplastia consagrada dos bang bangs italianos, tudo isso enquanto o sol se põe por sobre uma colina desértica de onde fogem coiotes e bolas de feno passam ao longe... o universo do game é um dos mais ricos e interativos já criados nesse meio.

O multiplayer não foi esquecido e tem agradado os fãs dos jogos em rede. Há modos competitivos e cooperativos clássicos para até 16 jogadores, sendo que um deles, o Free Roam tem atraído atenção. Nele, até 16 pessoas podem juntar-se para explorar o mapa single player na íntegra. É possível formar bandos e aterrorizar vilarejos, fazer cumprir a lei contra grupos de criminosos, correr atrás dos amigos para um bom e velho tiro na cabeça ou simplesmente vagar pelas pradarias, observando o cenário e conversando. A cada desafio, missão ou objetivo conquistado ganham-se pontos que podem ser usados para destravar personagens, modos, cavalos...

O único pequeno problema - ainda que esteja sendo sanado através de arquivos para download - são os bugs visuais que arrancam temporariamente do jogador qualquer imersão obtida. Mais de uma vez uma casa de fazenda tornou-se invisível, por exemplo, mantendo apenas os contornos de portas e janelas, ou o cavalo do protagonista conseguiu ficar entalado em um detalhe da paisagem. Nada que não desse pra arrumar forçando o controle para um lado ou outro... mas ainda assim talvez o produto pudesse ter ficado mais um ou dois meses na Rockstar para polimento antes de ser colocado à venda. De qualquer maneira, um problema menor para uma experiência marcante, que deve deixar lembranças tão duradouras quanto os melhores momentos de um Leone, Ford ou Hawks.

Compre aqui Red Dead Redemption (PS3 ou X360)

Nota do crítico