“Ligada no 440v”, como disse o narrador André Meligeni, Maria Paula Bonino, ou só Maria Bonino, é a novidade da vez no corpo de apresentadores do Brasileirão de Rainbow Six na temporada.
Maria é natural de Porto Alegre, e com 20 anos de idade integra o time de transmissão de uma das principais competições de esports do país, uma baita responsabilidade, e algo inimaginável há algum tempo atrás. Mas se engana quem acha que Maria caiu de paraquedas no cenário ou no Rainbow Six.
Bonino teve o seu primeiro contato com videogames há muito tempo atrás, quando ainda tinha cinco anos de idade, ganhando um Macintosh Performa de presente. O amor pelo Power Pete mais tarde se transformou em uma paixão por dois fenômenos do passado, CrossFire e Point Blank, que a cativaram aos dez anos de idade e trouxeram à tona a proximidade com o gênero. Maria, que no passado teve interesse em seguir carreira no CrossFire, conheceu o cenário competitivo atrás do Point Blank, um xodó da apresentadora.
“Point Blank é um marco na minha vida, foi um jogo que joguei durante anos, todos os dias, o dia inteiro. Minha rotina nessa época era muito gostosa, ia para a aula de manhã, voltava pro almoço e já sentava direto no pc pra jogar um Downtown ou Luxville, às vezes eu jogava enquanto almoçava de tanto que curtia o jogo. Foi com o PBIC que tive meu primeiro contato com o esports, a 2Kill estava a caminho da Tailândia e eu achei aquilo muito interessante, o Brasil sendo representado por um grupo de meninos em outro lugar do mundo” contou Bonino.
Maria e o relacionamento com o cenário de R6
Maria conheceu o Rainbow Six e quando a oportunidade de trabalhar com o tático da Ubisoft surgiu, ela abraçou e se aproximou ainda mais do FPS. Foram horas dedicadas a aprender mais a fundo sobre o R6, seus mapas, operadores, funções, etc.
Relembrando suas primeiras partidas, a apresentadora admite que sentiu-se frustrada sem saber como atacar e o que fazer na defesa, mas o espírito competitivo foi um dos grandes aliados na busca pelo aprendizado. Maria dedicou boa parte do seu tempo ao Rainbow Six quando estava dando seus primeiros passos no cenário e a vontade de chegar no Platina a motivou ainda mais. Em sua primeira melhor de dez, alcançou o Ouro II, bem próximo da meta, mas desanimou devido a rotina e o temperamento explosivo fora do casual, que a deixava bem estressada.
Bonino fez sua estreia como apresentadora no palco do Rainbow Six Esports Brasil no começo do ano, na Copa Playstation, dando indícios de que meses depois estaria no time do BR6. O caminho até lá teve seus percalços, mas a apresentadora, que desde cedo lidou bem com as câmeras, acredita que construiu muito bem a sua trajetória até o palco.
“Tudo o que eu fiz nesses últimos anos foi preparar o terreno para o momento de colocar a minha cara a tapa e ser apresentadora de fato, fazendo meu conteúdo, mostrando que sei me portar em frente às câmeras, e na hora que teve que acontecer, aconteceu”.
De mulher para mulher
Maria, assim como Nyvi Estephan, Cherrygumms, entre outras personalidades femininas que foram citadas como suas referências, lutaram muito para ter uma posição de destaque no cenário de esportes eletrônicos, que ainda não lida muito bem com as mulheres em uma posição de prestígio. De coração aberto na entrevista para o The Enemy, a apresentadora desabafou:
“Eu estou na internet há muitos anos, mas quando me tornei uma figura pública, falando por um jogo ainda por cima, o cuidado com o que eu falo e faço tem que ser redobrado. Minha maior dificuldade atualmente é cumprir os requisitos da comunidade, são milhares de pessoas me assistindo, eles vão julgar minha roupa, a forma como eu converso, minha maquiagem, meu tom de voz, tudo!
Minha primeira transmissão foi na Copa Playstation lendo os tweets que a galera mandava durante o intervalo da transmissão no começo deste ano, eu estava extremamente animada para estreia e levei aquele primeiro dia de gravação como uma diversão, afinal, eu estava vivendo meu sonho, apresentando um torneio online de um jogo que eu curtia; Mas, nem tudo são flores... eu estava tão leve e feliz que me permiti errar, dei risada, falei do jeito que sempre falo etc.
Acabou o intervalo e fui ler o chat da Twitch toda animada, algo que eu definitivamente não deveria ter feito, me deparei com muitos comentários maldosos, falando que o que eu estava fazendo era vergonha alheia.
No instante em que eu li aquelas coisas eu fiquei gelada, parei por um momento e o instinto foi chorar, mas não chorei, no lugar do choro veio um sentimento de gana, esperei a minha próxima entrada e dei uma resposta direta e reta para o pessoal: ‘Estou vendo que muitos de vocês acham vergonha alheia o que eu estou fazendo aqui, mas eu muito feliz de estar realizando meu sonho de ser apresentadora, e você? Tá aí em casa me assistindo, né?!’"
Após esse dia, a felicidade em ir para o estúdio fazer a transmissão já não era mais a mesma, e eu tentei de todas as formas não deixar os comentários me abalarem, mas não adiantou muito, nota-se uma grande diferença do primeiro dia para o último, eu não estava me divertindo mais, estava triste em virar chacota para um bando de pessoas que nem conheço e muito menos me conhecem.
Hoje em dia eu apresento o Brasileirão junto do Léo Bianchi, Domitila Becker e Ique, duas pessoas que são jornalistas de profissão e um game designer que entende 100% do jogo. Eu nunca apresentei programa algum, não tenho formação, não sou jornalista e muito menos entendo do jogo em um nível profundo, sou uma jogadora mediana de rankeada, a diferença do meu perfil pros outros é gritante.
Quando uma pessoa nova entra no cenário e ainda mais como apresentadora, o público geralmente estranha, se perguntam "quem é essa pessoa", "será que ela entende do jogo mesmo?" e comigo não foi diferente. A história da Copa Playstation se repete no Brasileirão, no primeiro dia fui 100% animada para apresentar e levar um conteúdo bacana para galera, em troca eu recebi novamente comentários maldosos.
É tentador querer saber o que as pessoas estão falando de você no chat, mas essa semana excluí o aplicativo da Twitch para que isso não aconteça mais. Ao total já apresentei seis dias de transmissão, em todos eu levei um balde de água fria ao ler os comentários, mas assim que eu chegava em casa, me recompunha e me preparava para o próximo dia.
Eu saí do Rio Grande do Sul para São Paulo sozinha aos 20 anos para trabalhar com o que eu mais gosto sem nunca ter tido experiência na área, a pessoa que mais aposta em mim, sou eu mesma.
Se as pessoas acham que uma equipe inteira sentou comigo para me ensinar a apresentar, estão errados. Os erros que eu cometo durante a transmissão só serão consertados na próxima e assim por diante.
Sou nova nisso tudo, eu opino em horas que não devo, tenho falas razas, me embolo, tenho o sotaque carregado, ainda sinto dificuldade em formular perguntas para entrevistar os jogadores, mas tudo isso está sendo passado para mim pela produção, são eles quem me apontam os erros e dizem onde devo mudar.
É impossível conversar com cada pessoa das mais de 200mil que assistem a transmissão e mostrar que eu o que eu mais quero é entregar um produto de qualidade para elas consumirem, muitas delas não querem ouvir o que eu tenho a dizer e tudo bem.”
Maria, que depois do balde de água fria passou a se enxergar como uma referência, não só para si mesma, mas também para as mulheres que buscam uma oportunidade no cenário, sente o peso da posição que ocupa. Mas apesar de tudo, a apresentadora ainda sonha com o dia que levará o seu trabalho como algo leve e divertido: “Parece fácil, mas não é”.
Fechando, Maria Bonino deixou um recado para as meninas que sonham em trabalhar na área, apresentando ou criando conteúdo, aconselhando que é preciso “Ter em mente um objetivo e ele ser claro, dessa forma você consegue ir direto a ele, sem olhar pros lados, concentrar toda uma vontade na sua intuição de que vai dar certo e que você tem potencial, de resto as coisas vão surgir naturalmente”.
“O seu objetivo é ser uma grande streamer? Começa a streamar amanhã mesmo, eu por exemplo, comecei a streamar pelo celular. Você quer ser apresentadora? Converse com as pessoas do meio e mostre seu potencial, ninguém vai conseguir ver você se não se exibir”, completou.