PES 2017 é divertido. Há dez anos isso seria uma afirmação óbvia, mas levando em conta o histórico recente, o elogio se tornou algo raro. Por isso, entreter sem dar espaço para falhas técnicas ou desequilíbrios drásticos é um mérito louvável para a franquia. Depois de alguns anos procurando um estilo próprio à sombra do concorrente, a Konami achou uma forma de se diferenciar, baseada na agilidade - os gols saem com mais frequência, os controles respondem com mais rapidez e a física do jogo reflete o esporte com mais fidelidade. Em suma, o conceito de jogabilidade e sistema que Pro Evolution procurou durante uma geração inteira se estabelece na edição 2017.

Se as mecânicas funcionam, o mesmo não se pode falar da localização. A presença dos times, jogadores e narradores nacionais sempre foi um diferencial positivo. Esse ano, o jogo virou. Apesar de contar com os uniformes oficiais dos times brasileiros e um novo (e excelente) narrador, PES 2017 não consegue aproveitar o potencial que esses atributos trazem - a começar pelos jogadores inventados que povoam os clubes do Brasileirão. Não são poucas as escalações com nomes fictícios ou feições longe da realidade, que distanciam o fã da série do campeonato oficial. Dessa forma, o licenciamento da CBF ajuda pouco, já que os elencos estão desatualizados, os nomes trocados e alguns jogadores faltando. O Brasileirão de PES é um quase Brasileirão genérico.

A narração de Milton Leite é o ponto mais decepcionante do game. O talento do narrador é reduzido a um catálogo limitado de falas e uma programação falha. Os clássicos bordões 'que beleza', 'meu deus' e 'segue o jogo' são repetidos à exaustão, deixando claro que faltou tempo e material para gravação. As conversas com Mauro Beting, o comentarista, muitas vezes soam fora de contexto e sem a química necessária para uma dupla que está envolvida na partida. Não é raro ver Milton falar que o chute foi forte e Beting dizer que o arremate só entraria 'se o goleiro fosse ele'. Também é comum ouvir o narrador comentar a entrada dos times em campo quando, na verdade, a bola já está rolando. Não são defeitos relativos à qualidade da narração em si, mas da programação feita para inclui-la no game, que acaba desperdiçando o potencial dos nomes envolvidos.

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Com o controle na mão

Para quem jogou as últimas quatro edições de PES, experimentar o 2017 é um alento. Tirando o título do ano passado, todos os outros jogos da franquia tinham problemas grosseiros relacionados à física/movimentação dos jogadores (colisão e reação) e aos toques na bola - basicamente o cerne de um jogo de futebol. Agora, a disputa física entre os atletas está com uma resposta boa, realista e com bugs insignificantes. A disputa da bola área, o contato entre os jogadores e até a reação à divididas acontecem de forma natural e com um tempo de recuperação razoável - os jogadores se levantam e reagem na velocidade necessária para que o jogo mantenha o ritmo acelerado.

Os chutes e os toques na bola estão melhores, cada vez mais sob o controle do jogador. A força média dos toques e chutes é alta - a partir dos botões modificadores essa força e o tipo de chute muda, como em todos os outros títulos. A diferença do PES 2017 para os antecessores é a importância que ele dá a essas modificações. Em um nível mais alto de dificuldade, por exemplo, é complicado superar a zaga e os goleiros sem colocar o chute da forma certa - seja um toque colocado ou uma bomba no meio do gol. Sem um pouco de dedicação para entender essas mudanças, é fácil a partida se tornar um 'perde e ganha' constante.

Essa situação se repete não só na hora de chutar com a bola rolando, mas também com ela parada. As faltas e os cruzamentos necessitam de um cuidado maior na hora da execução; a trajetória, a força e até a movimentação dos jogadores na área são essenciais para que a jogada dê certo. Por outro lado, isso não quer dizer que é preciso ser meticuloso para se divertir. O jogo trata de equilibrar chutes fortes demais e cruzamentos super longos, possibilitando partidas mais disputadas e uma curva de aprendizado menos rigorosa.

Os cruzamentos na área, outro problema clássico dos jogos de futebol digital, melhoraram em PES 2017. Ainda há uma clara preferência ao ataque, mas a resposta dos zagueiros ficou melhor. É preciso ter um tempo de bola perfeito para superar o mais baixinho dos atacantes no alto. Leva um tempo para entender como se movimentar na área, mas depois fica claro que é tudo uma questão de posicionamento - a resposta dos controles segue eficiente, o que deixa as partidas mais corridas (de novo).

Mais técnica, mais opções

O jogadores de PES 2017 estão melhores individualmente. Os atributos são usados de maneira mais acertiva na jogabilidade, o que faz os jogadores mais técnicos se destacarem não só na velocidade e no chute, mas também no controle de bola e nos domínios - o que faz uma diferença tremenda em partidas tão velozes como a desta edição. Os goleiros, tão criticados em versões anteriores, agora sabem defender sem espalmar todas as bolas - e nem precisa ser o Neuer para isso.

Os modos de jogos ganharam algumas melhorias, mas nada que altere drasticamente o que foi visto em 2015. Master League tem um gerenciamento de orçamento melhor, myClub tem olheiros específicos, os jogadores lendários dão um ar nostálgico mais relevante ao game e a Champions League continua como competição oficial do título. E apesar de não contar com a maioria dos licenciamentos dos grandes times europeus, existe um modo robusto de edição que permite modificar todos os times e jogadores do jogo. Não é o suficiente, mas ajuda os fãs mais dedicados a mudarem os uniformes genéricos que infestam o título. Nestes aspectos visuais (uniformes, feições) e de modos de jogos, PES 2017 pouco evolui, mas não chega a decepcionar.

Esse ano, a franquia Pro Evolution escolheu focar na melhoria de seus controles e definir um ritmo de jogo. O licenciamento, tanto dos futebol brasileiro quanto do europeu, é falho e deixa muito a desejar, assim como a narração de Milton Leite. Porém, no fundo, o mais importante para um jogo de futebol é que a diversão supere estes problemas, e a Konami consegue fazer isso. PES 2017 exige um tempo de adaptação, mas entrega uma boa experiência, que diverte e exige do jogador uma dedicação que traz recompensas no fim da jornada.

PES 2017 está disponível para PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360, Xbox One e PC. O jogo foi testado em um PlayStation 4.

Nota do crítico