Neymar, FIFA e lenda do Barça: ex-gerente fala de bastidores do PES no Brasil

Desde 2011 que André Bronzoni se consolidou como um dos grandes nomes do Pro Evolution Soccer no Brasil. De responsável pelas redes sociais da marca ele foi promovido até chegar ao cargo de gerente da franquia PES nas Américas e encarou alguns dos períodos mais intensos e desafiantes da franquia de futebol da Konami no país.

De 2012 até o início de 2020 a série viu o rival FIFA crescer como um adversário à altura e promoveu também uma aproximação sem precedentes com o futebol brasileiro, incluindo clubes exclusivos, estádios nacionais e até a presença de Neymar Jr. na capa do PES quando o craque ainda jogava no Santos.

Nos últimos meses, Bronzoni saiu da Konami e hoje em dia é gerente global sênior de marcas para a 505 Games, publisher responsável pelo lançamento de games como Bloodstained e Indivisible.

Aproveitamos a mudança de casa e o aniversário de 25 anos da série de futebol da Konami no ocidente para conversar com o executivo e ouvir algumas histórias de bastidores de PES no Brasil.

Confira abaixo a entrevista completa!

The Enemy: Como você começou a trabalhar na franquia PES? Você já jogava os games da série?

André Bronzoni: Sempre gostei muito da franquia, joguei durante toda a minha infância e foi via Winning Eleven e PES que eu aprendi a conhecer jogadores fora do Brasil.

Eu comecei a trabalhar na franquia no ano de 2011 bem no final do ciclo de divulgação do PES 2011, o Messi estava na capa e eu louco para conhecer ele. Infelizmente, ainda não foi naquele ano que eu o conheci.

The Enemy: Um dos grandes momentos da franquia no Brasil foi ter Neymar Jr. na capa do PES 2013, quando ele ainda jogava no Santos, antes de ir para o Barcelona. Como foi essa negociação? Como foi o impacto dessa capa no mercado nacional?

André Bronzoni: Foi muito legal colocar um brasileiro na capa depois de tanto tempo. O Neymar já era uma celebridade nacional e tinha uma visibilidade incrível. Eu não liderei a negociação naquele momento, mas ajudei a coletar muitos dados para a finalizar a negociação. Lembro que o contrato foi assinado no mesmo mês que eu entrei na Konami.

The Enemy: Em 2015, o Neymar Jr. visitou a Konami para fazer escaneamento 3D para o PES 2016 e conhecer a equipe de desenvolvimento da série. Como foi essa visita?

André Bronzoni: O Neymar sempre fez parte de momentos importantes na minha era dentro da Konami. No PES 2016, foi o meu primeiro ano à frente da marca nas Americas, quando me perguntaram se o Neymar seria uma boa opção para ser a cara da capa global. Eu não pensei duas vezes e disse: "Claro"!

Neymar tem a cara do PES, além de toda a história dele com a marca. Logo depois disso, o Neymar foi para o Japão com todos os 'parças' aonde foram recebidos por toda a equipe. Lá o Neymar pôde ver como se faz o jogo e como funciona o escaneamento 3D, uma prática ainda bem recente no mercado. O Neymar jogou PES 2016 em primeira mão bem antes do que eu por exemplo.

The Enemy: Ao longo dos anos você fez parte de um processo incrível de trazer conteúdo do futebol brasileiro para o PES, como narradores, estádios e equipes exclusivas. Como começou esse trabalho? Quais foram as conquistas mais importantes e as mais difíceis?

André Bronzoni: Esse trabalho teve início em conjunto com o gerente de vendas do Brasil na época, Anibal Vera. Nós começamos com o Corinthians e Flamengo.

Logo conseguimos exclusividades com o Vasco e depois com Palmeiras, São Paulo e, por fim, Atlético-MG e Sport. Todas as exclusividades tiveram suas peculiaridades e importâncias.

Eu gostei muito da negociação com o Palmeiras, uma equipe com ótimos profissionais como Victor Assis, Ricardo Padoveze e o Roberto Trinas. Nós saímos de um contrato simples de licenciamento e fomos para um contrato de patrocínio, uma grande vitória para a franquia PES.

Já um momento difícil foi a negociação com o Corinthians na era do Rosenberg, um cara bem duro de se negociar, mas conseguimos a renovação e além disso estampar a marca PES na barra da camiseta.

Tive também um momento delicado, em que eu tive de colocar a paixão de lado e negociar com o São Paulo, meu time de coração. Na época o diretor era o Luiz Fiorese, o que fez ficar tudo mais fácil e bem profissional. Naquele momento o PES também conseguiu estampar a sua marca na camisa do time.

Não posso esquecer também de um momento de transição importante quando o Silvio Luiz saiu do jogo para a entrada do Milton Leite, um cara muito importante que elevou junto com o Mauro Beting a franquia a outro nível.

The Enemy: Durante a época que você trabalhou na Konami o Brasil se tornou um dos principais mercados para o PES no mundo inteiro. Como foi conseguir essa grande conquista e como os produtores japoneses da Konami enxergavam o mercado brasileiro?

André Bronzoni: Na época que eu era o gerente das Américas eu mostrava importância e a paixão que os brasileiros e sulamericanos têm com o futebol, como o futebol impacta no dia-dia das pessoas. Eu mostrava para eles que o futebol não é apenas um jogo e que podíamos entrar para a historia apenas dando todo o suporte para os clubes e colocando um conteúdo autêntico para todos poderem se sentir mais parte daqueles clubes.

Logo, muitos produtores do jogo foram para o Brasil entender o que é essa paixão de perto, levei essas pessoas em jogos do, Palmeiras, Flamengo, Corinthians, São Paulo, Boca Juniors, River Plate, Seleção Brasileira e outros mais.

Levei uma vez o produtor chefe, Manorito Hosoda, no São Cristóvão, um bar na Vila Madalena, em São Paulo, para assistir ao primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo de 2018 e aproveitei para mostrar um pouco mais da história do futebol brasileiro e todas as relíquias que aquele bar possui.

The Enemy: A série PES sempre teve um rival muito bem definido no Brasil e no mundo com o FIFA, da Electronic Arts. Como você, pessoalmente, encarava essa rivalidade?

André Bronzoni: Acho bem complicada porque a Electronic Arts tem poderes monetários e de influência gigantescos. A EA sempre tenta inovar, o que é bom para a concorrência, mas eu acredito que eles podiam fazer algo parecido com o que eu fiz quando estava no Konami, que é dar mais atenção a um mercado tão apaixonado por futebol como o sulamericano.

The Enemy: Com tanto tempo trabalhando com uma série tão querida, você deve ter várias histórias divertidas e curiosas sobre PES e o mundo dos games. Alguma história especial que você gostaria de contar e compartilhar?

André Bronzoni: Tenho várias histórias bacanas mesmo, porém a mais legal é uma que aconteceu em Nova York, durante um evento do Barcelona. Nesse dia estávamos eu e Robbye Ron (hoje gerente da marca no meu lugar), nós estávamos no evento para cobrir e criar conteúdo. Por sinal, foi o último momento que o Neymar usou a camisa do Barcelona antes de se transferir para o PSG. Também estávamos nesse evento para fazer um “meet & greet” com os jogadores.

Nesse momento, nós ficamos amigos de vários jogadores como Piqué, Suárez, Neymar, Messi, Iniesta e outros. Como nós dois somos sulamericanos e não temos muita vergonha, começamos a relembrar fatos da carreira desses jogadores e perguntar sobre lances polêmicos na carreira deles.

Em um desses momentos, o Iniesta virou para a gente e disse que nós parecíamos ex-jogadores do Barcelona dos anos 80 e o gerente de relações públicas do Barcelona escutou.

Com o evento perto do fim, o pessoal do Barcelona nos chamou para ir em um bar, mas o lugar estava lotado e não estávamos conseguindo entrar. Então o assessor de imprensa do Barcelona teve a brilhante ideia de falar que eu e o Robbye éramos jogadores lendários do Barcelona dos anos 80 e que tínhamos acabado de ganhar uma medalha por serviço ao clube, tudo história inventada para poder entrar no bar.

Final da história: conseguimos entrar e o gerente do bar ainda nos deu uma rodada de graça porque o pai dele gostava muito do Barcelona e da cidade!

The Enemy: A série PES completa 25 anos no ocidente e segue como uma das principais referências em games de futebol. Qual é o segredo do sucesso da série na sua opinião?

André Bronzoni: Jogabilidade. Porém, acredito que o jogo precisa trazer mais aquela ousadia que tinha nos anos 2000, inovando e divertindo ainda mais os fãs da marca.