Quando a Io-Interactive lançou Hitman, em 2016, a ideia era reiniciar a história do Agente 47. Não à toa, o game se dá ao trabalho de mostrar os primeiros passos do personagem, e como ele se tornou um dos assassinos mais famosos do videogame. Aos trancos e barrancos, o reboot deu certo e acabou virando uma trilogia.

De certa forma, a trajetória também serve para descrever o aperfeiçoamento do próprio estúdio dinamarquês, que traz em Hitman 3 a culminação de cinco anos do desenvolvimento de um estilo de jogo que pode ser considerado a versão definitiva da franquia: mapas densos e repletos de camadas, amplos ou não, nos quais é possível atingir o seu alvo de inúmeras maneiras.

O encerramento da trilogia é esta nova versão do Agente 47 em sua melhor forma. O que (ainda) era ruim foi descartado, e o que era bom melhorou, com o acréscimo de algumas novidades sutis de gameplay.

Hitman 3
Divulgação/Io-Interactive

Hitman 3 traz o Agente 47 e sua parceira, Diana Burnwood, na caçada aos membros remanescentes da Providence, a organização secreta que gira as engrenagens do mundo nas sombras e antagonizou a dupla durante boa parte da trilogia. Pela primeira vez, a jornada de 47 ao redor do mundo chamou tanto a minha atenção quanto o gameplay.

Não seria uma história de espionagem sem segredos e traições, e as surpresas fazem do roteiro de Hitman 3 o melhor desde o game de 2016, se permitindo até fazer uso de cenas mais lineares quando a narrativa pede, algo que vai na contramão da fórmula livre proposta pelos últimos três jogos.

É claro que esse foco levemente maior na narrativa não seria possível caso as mecânicas e as estruturas de jogo de Hitman 3 não estivessem encaixadas como um relógio suíço. O último jogo da trilogia já recebe boa parte das melhorias estruturais de seus antecessores, e a Io-Interactive apenas implementou o que já sabia fazer de melhor.

Hitman 3
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A única novidade de destaque no arsenal do Agente 47 consiste em uma câmera digital que faz jornada dupla como o modo fotografia do jogo e uma ferramenta para hackear portas e janelas.

Cenários

Embora Hitman 3 jogue seguro com as ações básicas e as ferramentas ao redor do Agente 47, as principais mudanças estão no mundo ao seu redor. As fases do terceiro jogo trazem algumas novidades que privilegiam ainda mais a exploração e a variedade de rotas a se tomar do início da fase até o seu alvo.

Os níveis em Hitman 3 são mais verticalizados, valendo-se mais de janelas, parapeitos e telhados como formas de travessia. Isso é somado a outra novidade mais sutil, porém não menos importante: a capacidade de abrir portas de dentro para fora e mantê-las abertas até mesmo quando se joga a fase pela segunda vez, permitindo ainda mais liberdade de exploração.

Hitman 3
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Hitman 3 conta com seis fases inéditas. Vamos a elas:

  • Dubai: A fase introdutória do jogo se destaca mais como tutorial das duas novidades de exploração do jogo: a abertura de janelas com a câmera e os segmentos mais verticalizados, incluindo uma introdução espetacular entre as nuvens de um arranha-céu emiradense. Fora o uso de mecânicas inéditas, o nível traz o esquema clássico de Hitman: uma festa com oportunidades de interação social com bastidores e andares cheios de seguranças, no qual você precisa eliminar dois alvos.
  • Dartmoor: Em uma mansão no interior da Inglaterra reside a melhor fase de Hitman 3 - talvez, de toda a trilogia. O objetivo é assassinar uma senhora que acabou de forjar a própria morte, além de obter documentos sigilosos de seu escritório. Ao chegar lá, porém, você se depara com uma outra morte, e tem a oportunidade de encarnar o próprio Daniel Craig e, na pele de um detetive particular, pode investigar esta tragédia familiar, no melhor estilo do filme Knives Out (Entre Facas e Segredos). O segundo mapa é o melhor exemplo de como a Io-Interactive dominou esta fórmula atual de Hitman, utilizando as melhores características do jogo para entregar uma experiência inteiramente nova.
  • Berlim: Qualquer fase teria dificuldade em empolgar após o espetáculo de Dartmoor, mas esta desce o nível de forma vertiginosa. É uma fase totalmente sem inspiração, na qual você precisa eliminar uma série de inimigos disfarçados dentro de uma festa numa fábrica abandonada na capital alemã.
  • Chongqing: Situada em uma noite chuvosa e entre os neons da cidade chinesa, esta fase usa e abusa da verticalidade proposta em Hitman 3. Há dois prédios, um de frente para o outro, e em cada um deles está um alvo - um está no topo de um prédio, e outro no subsolo. É preciso eliminar ambos para revelar um terceiro objetivo, em uma fase na qual é preciso acertar o timing de diversos eventos para não ser pego.
  • Mendoza: a última fase aberta de Hitman 3 adere à fórmula clássica da trilogia. Um mapa imenso, dividido em uma vinícola na famosa região argentina, um amplo salão de festas e uma casa mais reservada (e fortemente protegida). Para cumprir seus objetivos, é preciso transitar pelos três ambientes, com oportunidades curiosas de se aproximar dos alvos.
  • Os Cárpatos: situada num trem que cruza a cordilheira do leste europeu, a fase final de Hitman 3 é totalmente linear, servindo mais para o encerramento da narrativa do que qualquer outra coisa.

Pós-jogo

Hitman 3
Divulgação/Io-Interactive

Para além da campanha e das novas fases, Hitman 3 oferece a experiência mais robusta da franquia, especialmente para quem já está acompanhando os demais jogos da série. O título conta com uma integração aos dois primeiros jogos da trilogia. Se você já os comprou, poderá jogar todas as fases dentro do aplicativo do terceiro game, como se fossem três temporadas de uma série.

Além disso, todos os modos de jogo que vão além da narrativa continuam lá, expandindo a vida útil de Hitman 3 e proporcionando novas maneiras de explorar as fases dos três games com os Contratos, que permitem ao jogador escolher qualquer pessoa dentro de um cenário para ser marcada como alvo.

Os outros modos de Hitman 2 também retornam, como os Contratos de Agravamento, uma série de missões em que você precisa assassinar alvos em um nível crescente de dificuldade, e os incríveis Alvos Elusivos, que servem como eventos únicos do jogo, com tempo limitado, e só podem ser jogados uma vez.

Ao longo dos últimos cinco anos, a Io-Interactive transformou a experiência desastrada do primeiro Hitman em um jogo de fórmula robusta, sólida e altamente criativa, construindo o melhor jogo de ação furtiva da geração de PlayStation 4 e Xbox One. Hitman 3 é uma conclusão à altura desta empreitada, refinando ao máximo o estilo de jogo do Agente 47 revelado em 2016.

Hitman 3
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HITMAN III
Nota do crítico