Durante o Brasil Gaming Day, evento da LGZN Marketing em parceria com a FIAP sobre a inclusão de jogos e eSports em projetos universitários, a Brasil Gaming House — equipe que representou o Brasil na Copa do Mundo de Overwatch 2017 — conversou com os presentes e compartilhou alguns de seus pensamentos sobre o momento que o competitivo da modalidade está vivendo e as expectativas para o futuro.

Conversamos com o suporte Rodrigo “Kolero” Kroeber e o DPS Murillo "murizzz" Tuchtenhagen sobre o desempenho da equipe no mundial, o cenário brasileiro em uma visão geral, o papel da Blizzard nessa consolidação e o que os jogadores sentem quanto ao crescimento da modalidade.

Percebemos que o Brasil está um passo atrás — não apenas em Overwatch — em relação a outros cenários internacionais. Isso faz com que os jogadores recebam muitas críticas e muitas vezes faz com que os torcedores não consigam assimilar que um dos motivos do Brasil chegar lá fora e apresentarem um pouco de dificuldade em bater de frente  com as equipes internacionais se dá ao fato de que as equipes latino-americanas não possuem tantas oportunidades de treinar ou competir com outras regiões e não possuem tantos torneios internos para fortalecer a competitividade nacional. O que vocês acham que está faltando para que o cenário cresça e se torne cada vez mais forte?

Kolero: Acho que, sendo bem superficial aqui, falta a Blizzard dar uma luz para os seus jogadores. Eu acho que essa falta de informação, falta de campeonato, falta do que eles vão fazer no futuro, o que eles planejam para a América Latina acaba deixando o pessoal um pouco desanimado. Então já vi muito time desistindo, muitos players desanimados com o cenário e parando de jogar porque não sabem como vai ser daqui pra frente. Ai fica aquela coisa "Ah, não vamos entrar em campeonato porque já sei qual vai ser o resultado, como vai ser, quem vai ganhar. Ah, pra que treinar se eu não sei nem qual campeonato vai ocorrer daqui um mês, eu não sei o que vai acontecer" então acho que a gente tá meio que no escuro. Pra gente (BGH) ainda é menos crítico isso porque estamos consolidados, conseguimos nos solidificar no cenário, mas pros times que estão começando, que estão querendo entrar e buscar o topo, acabam perdendo o interesse porque eles não sabem o que vai ser daqui pra frente. Então acho que falta uma luz da própria Blizzard pra falar o que eles querem pro futuro do nosso cenário, isso tá faltando bastante e desanimando os jogadores.

Murizzz: Acho que, sobre grande parte dos torcedores que fizeram críticas, eu concordo com eles. Eles esperavam mais, nós também esperávamos mais, mas a maior parte das pessoas são jogadores casuais, que realmente não acompanham o competitivo, não sabem como é,  não sabem o que estamos fazendo e nem o quão grande é o nosso cenário comparado com o lá de fora. Eles não sabem nem a extensão do nosso cenário, como eles vão saber o internacional? A diferença entre os times e a estrutura, tudo que tem nesse meio... Então realmente acho que é importante até fazer um convite para o pessoal acompanhar também o nosso cenário, saber ponto a ponto qual o nível que estamos comparados com o lá de fora, porque realmente aqui é muito muito pequeno ainda. O cenário inteiro.

O eSport está crescendo muito e existem muitos jovens que já possuem o sonho de ser um jogador profissional. Para quem está começando agora, qual o conselho principal?

Kolero: O conselho é não ir pensando só em dinheiro no início. Tem muita gente que quer jogar já tendo um salário, já quer sair mostrando pros pais que tá ganhando salário, que já é sua renda e tá fazendo alguma coisa com isso. E isso é muito difícil, nosso cenário ainda tá engatinhando, o eSports no Brasil ainda é bem pequeno mas tá crescendo bastante. A dica que eu dou é: faça por amor. Fazer o que você gosta tá acima de ganhar dinheiro, ganhar salário, sair mostrando pra todos que você é "Nossa, sou profissional". Não. Faça o que você ama. Eu faço isso, sempre gostei de jogos, sempre treinei duro pra isso, então treine bastante, se dedique ao jogo, faça por amor que o que você vai colher depois é fruto do que você está plantando. Então que venha lucro por isso, por fazer por amor e se dedicar muito.

Vocês tocaram nesse assunto antes (durante a palestra), sobre a relação/comparação com outros eSports, que vocês percebem um sentimento de que os outros já estão mais desenvolvidos, principalmente nessa questão de ser encarado como trabalho ou esporte. O que vocês acham que falta para aproximar essa distância entre o cenário de Overwatch dos de outras modalidades?

Kolero: Acho que, principalmente, falta um campeonato oficial da Blizzard mesmo, tipo uma liga, uma Copa América, qualquer coisa que pelo menos mostre que estão fazendo alguma coisa no cenário daqui, investindo aqui, que faça as pessoas jogarem sabe? Treinar pra dizer "Olha, tem um campeonato aqui que o vencedor vai ter uma vaga em uma liga maior no cenário Norte Americano.", sei lá, algo que faça as pessoas se dedicarem. Porque tudo que temos agora são campeonatos pequenos que a Blizzard 'apoia', e não parte dela própria o campeonato oficial. Sentimos falta disso porque dá um sentimento de não ser profissional, parece semi-profissional, jogando campeonatinho de fim de semana. Então falta a Blizzard colocar na mesa, se impor e falar "Olha, queremos fazer um campeonato oficial no Brasil ou na América Latina, a gente quer chamar os jogadores, queremos chamar os times e chamar visibilidade para o cenário." porque só com investimento e campeonato oficial que começam a ver as coisas com seriedade e encarar como profissional. Algo que ajudou muito foi o torneio da Old Spice, que fez a galera acompanhar com dias marcados para o torneio, já tava sempre marcado no calendário e já chamava o pessoal para vir assistir, meio que virou um Campeonato Brasileiro, sabe? Isso ajudou muito pra aquecer o cenário. É muito importante você fazer um capeonato, colocar ele pra durar sei lá, um mês, dois mêses e colocar dias definidos na semana que irão ser transmitidos. Isso ajuda até a acompanhar a evolução de um time, do cenário como um todo também.

Murizzz: Completando o que ele falou, agora com o campeonato da Promo Arena vai ser um grande passo pra essa consolidação, principalmente pro público que assiste: em uma semana uma equipe joga com outra, na próxima semana uma outra equipe, levantando aquilo de "Ah, será que essa equipe é boa? Vamos ver quem vai jogar!", ajudando a crescer o cenário, os jogadores vão se tornando conhecidos, o pessoal vai acompanhando com mais frequência, vai gostando mais, vai criando gosto, porque simplesmente assistir o campeonato ali, acabou e quem assiste não entende nada o que tá acontecendo, o time simplesmente apareceu e bateu em todo mundo ou só perdeu, não tem como o público realmente engajar nisso, então acho que isso vai realmente ajudar, é algo muito importante.

Algumas equipes de esportes estão começando a observar o cenário de eSports e até já fecharam algumas parcerias ou até mesmo confirmaram seu ingresso no futuro. Se vocês pudessem escolher qual camisa desejam representar, qual equipe gostariam?

Kolero: Alguns anos atrás eu era muito doente por futebol, não sou mais tanto, mas sou tricolor doentão então pra mim é facil, eu gostaria de estar representando o Fluminense.

Murizzz: Não necessariamente falando de um time em específico, mas eu gostaria de representar um time que estivesse realmente engajado com os eSports, não que simplesmente quisesse pegar o nome, colocar ali e é isso ai, tchau valeu. Queria um time que quisesse crescer junto, mostrando isso para os próprios torcedores deles, então eu acho que eu gostaria e ficaria muito feliz de representar um time desse tipo, que fizesse essas coisas levando a sério realmente essa parceria.

 

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