Uma das poucas produções irretocáveis da história do cinema, O Poderoso Chefão

Godfather

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novamente é adaptado para a jovem arte dos videogames.

Há três anos, a Electronic Arts lançou o bom Godfather, jogo no estilo mundo aberto em que um jovem criminoso na família Corleone galgava os degraus do crime e passava de meros músculos a chefão da máfia. O jogo foi bem recebido - especialmente pela nostálgica ambientação que misturava acontecimentos do longa de Francis Ford Coppola com ação interativa - e a EA resolveu tentar novamente. Godfather II, porém, não tem nada a ver com o segundo e excelente filme da trilogia, dividindo com o filme apenas o nome. Assim, esqueça as duas linhas temporais distintas do filme, Robert De Niro como o jovem Vito Corleone e Al Pacino estabelecendo-se como chefão.

A trama, que toma inúmeras liberdades em relação aos filmes (o que deve desagradar os grandes fãs da série), começa em Havana, durante a invasão das forças revolucionárias de Fidel Castro. Na fuga de Michael Corleone, Aldo Trapani - personagem protagonista do primeiro jogo - é morto. O "Padrinho" decide então promover um sujeito chamado Dominic, até então um soldado da família do morto, a capo. De volta a Nova York, cabe ao recém-empossado mafioso - o jogador - impedir que outras famílias dominem a cidade e expandir o império Corleone.

A opção pelo início de jogo controlando alguém que já tem certo poder é interessante e traz novidade ao gênero. Toda aquela trabalheira começando por baixo é eliminada e a sensação de responsabilidade dentro da hierarquia do crime é potencializada por conta disso.

A principal ferramenta de apoio para o controle do grupo criminoso é a bacana Visão do Don, um mapa 3-D extremamente bem feito que mostra pontos de interesse, conflitos e objetivos. Esse recurso dá um ar de jogo de estratégia a Godfather II, já que a cidade se desfralda como um tabuleiro à sua frente, permitindo que sejam analisadas ações e seus impactos a médio prazo no fortalecimento da família. Outra novidade é que existem mais tipos de estabelecimentos agora, que podem ser combinados em redes criminosas, dando bônus e vantagens financeiras à família. Obviamente, grupos rivais também parecem ter sua própria Visão do Don e não demoram a fazer seus próprios planos contra os Corleone. O problema - e esse é um dos maiores do game - é que eles simplesmente não são lá muito inteligentes. Demoram a atacar e quando o fazem jamais empregam estratégias dignas de nota ou força realmente expressiva. Assim, o grau de dificuldade não oferece um desafio muito grande e o game fica um tanto repetitivo.

Pelo menos, as ações possíveis contra inimigos aumentaram consideravelmente. Além de atacar e capturar estabelecimentos, agora é possível também bombardeá-los e sabotá-los. Para cada ação há um tipo de capanga específico - outra boa novidade. Conforme Dominc cresce em poder e influência, pode contratar mais soldados e até promovê-los. Quanto mais alto na hierarquia, mais poderoso é o personagem, chegando a um ponto em que, se o jogador quiser, nem precisa entrar em ação fora do módulo de história (imprescindível para liberar certos eventos), mandando apenas seus homens para evitar ações inimigas com a Visão do Don.

Mas se esse recurso funciona a contento, o mesmo não pode ser comentado a respeito do sistema de favores. Como num RPG normal, Dominic pode fazer favores a personagens não-jogadores em troca de dinheiro ou informações. Para isso, porém, ele só precisa chegar em pessoas aleatórias nas ruas e perguntar "o que posso fazer por você", o que soa extremamente gratuito.

Igualmente problemático é o visual. Ainda que o mapa seja estiloso, não há grande avanço em relação ao Chefão original nesse sentido. O jogo parece um tanto genérico, ainda que a opção pelo visual setentista seja interessante e as cenas animadas estejam bem realizadas. Já o som teve melhor cuidado. A música, incluindo interpretações da trilha clássica de Nino Rota, é ótima, assim como a sonoplastia.

Godfather II pode até ser um jogo de máfia com alguma inovação e interesse, mas erra em dar ao jogador opções condizentes com os objetivos reais da trilogia. Michael Corleone, um dos personagens mais complexos do cinema, é reduzido a um gângster qualquer nos games. Se o jogador tivesse opções não apenas relacionadas com crime, mas também com corrupção de políticos, juízes e mesmo uma maneira de administrar empresas legítimas, isso sim iria ao encontro da obra cinematográfica de Coppola e representaria um game de mundo aberto de verdade, um em que não apenas o jogador possa cometer crimes e ampliar seu império criminoso, mas tentar legitimá-lo - o grande desejo de Michael.

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