Ter acesso antecipado a Splatoon 3 sem ter também jogadores preenchendo as salas dos modos multiplayer é um pouco triste, mas não completamente sem propósito.
A exemplo de seus predecessores, o terceiro título da série tem um modo campanha cujo propósito principal é ensinar as mecânicas e armas que os jogadores precisam entender antes de adentrar as arenas competitivas das Splatlands. No papel, é só um tutorial; mas na prática, a campanha esbanja criatividade e engenhosidade em um nível que deixa muitos jogos completos no chinelo.
Sem conseguir jogar Splatoon 3 online no período de testes pré-lançamento, investi cerca de 12 horas para completar a história com todos os seus itens colecionáveis e objetivos secretos. O veredicto: caso a campanha seja um demonstrativo real do resto da experiência, Splatoon 3 deverá se provar um jogo familiar, mas muito mais ambicioso que os anteriores.
No controle de uma nova Agente 3 do New Squidbeak Splatoon, o jogador começa sua jornada de uma maneira idêntica ao que acontece nos jogos anteriores: recrutado em uma missão para encontrar o Great Zapfish, que alimenta a rede de energia elétrica da civilização. Após algumas poucas fases introdutórias, porém, algumas reviravoltas colocam o verdadeiro escopo da campanha em evidência.
A Agente 3 precisa explorar as diferentes ilhas de uma estação subterrânea chamada Alterna. É um ambiente curioso: monumentos como os Moais da Ilha de Páscoa lotam o cenário, que está disposto ao redor da plataforma de lançamento de um enorme foguete.
Alterna funciona de maneira parecida com o castelo da Peach em Super Mario 64, escondendo não apenas entradas para as fases, como também itens colecionáveis e outros segredos. Novos caminhos são desbloqueados com a ajuda do Smallfry, um companheiro diminutivo da protagonista que consegue consumir a gosma mortal que cobre todo o cenário.
Com esse foco na exploração e fases muito diversas, a campanha de Splatoon 3 é melhor que as campanhas bases de seus predecessores, e está à altura da Octo Expansion de Splatoon 2, ainda que tenha menos fases e seja mais voltada para jogadores iniciantes em seu nível de desafio.
A mecânica básica de pintura do cenário que permeia todos os modos competitivos de Splatoon também funciona muito bem em fases de plataforma, como prova com confiança a campanha de Splatoon 3.
Tudo é muito intuitivo: você pinta o chão e as paredes com sua tinta para conseguir explorar o cenário mais livremente, e logo descobre que a mesma mecânica funciona para inúmeras outras coisas. Imerso na tinta, por exemplo, você consegue andar lentamente e pegar inimigos despercebidos, ou então pegar mais velocidade para realizar saltos em direção a plataformas distantes.
Cada fase de Splatoon 3 obriga os jogadores a aprenderem na marra uma mecânica específica do jogo para progredir. A lista de coisas com as quais os jogadores tornam-se familiarizados ao longo da campanha incluem fatores simples, como pulos, até técnicas avançadas, como o controle em movimento da mira de uma Bamboozler 14 Mk I, que é um tipo de rifle de precisão.
A sensação de que você está em um tutorial glorificado é palpável – mas o esquema funciona. Em vez de aprender lendo caixas de texto com descrições de comandos como em tantos outros jogos, o jogador aprende colocando a mão na massa e sendo recompensado por isso.
Além de itens capazes de fortalecer a Agente 3 dentro do modo campanha, Alterna também esconde cosméticos para a personalização do armário do jogador e arquivos que revelam muito mais do que o esperado sobre o mundo da franquia Splatoon, e que tornam a experiência divertida até mesmo para veteranos.
Ainda que seja apenas um gostinho do jogo completo, a campanha de Splatoon 3 dá ao jogador acesso a várias das novas armas e poderes especiais que não estavam presentes nos títulos anteriores, como o arco que dispara três flechas explosivas Tri-Stringer e o tanque de guerra caranguejo Crab Tank. Todos se encaixam de maneira fluída com a mecânica básica da série, e não é difícil vislumbrar como seu uso no multiplayer renderá mais variedade nos combates.
Mas no que toca especificamente a campanha, o que mais impressiona não são os novos apetrechos, mas sim as maneiras engenhosas com as quais os desenvolvedores da série ainda conseguem surpreender usando apenas a mecânica básica da série.
Um exemplo: na segunda ilha de Alterna, há uma fase que se passa em um labirinto. Quem entende bem a mecânica da pintura logo percebe que, em vez de realmente andar a esmo pelo labirinto atrás de uma saída, é possível pintar a parede e correr por cima de todas as curvas sem saída do mapa. Só que aí vem a surpresa: chegando do outro lado, o jogador ativa um botão que faz com que o labirinto fique na vertical. Para terminar a fase, ele precisa escalar pelo caminho que acabou de atravessar.
E é aí que mora a genialidade da fase: o jogador que respeitou o labirinto e trilhou seu caminho pelos corredores certamente pintou o chão do percurso, criando naturalmente um caminho fácil de escalada rumo ao fim do desafio. Já o jogador que se achou o espertão e saltou por cima do labirinto acaba sendo forçado a fazer o mais difícil: procurar o caminho por dentro do labirinto com ele na vertical. É claro que eu me dei mal nessa – mas não tinha como ficar bravo, porque a sacada do time criativo foi muito boa. Tive que dar o braço a torcer.
Nem todas as fases são tão engenhosas como essa, mas muitas são – e desvendá-las é muito recompensante. Outro destaque que merece uma menção, mas não uma descrição para preservar a surpresa, é a épica batalha contra o chefe final do jogo.
A campanha de Splatoon 3 é um deleite, mas é também a parte menos importante do pacote completo, que tem como foco os modos competitivos e cooperativos em rede.
Reservo meu julgamento completo para um momento posterior ao lançamento oficial do game, mas já me sinto confortável em cravar que Splatoon 3 não é, de forma alguma, fruto da falta de criatividade da franquia. Pelo contrário: é prova de que ela ainda tem muito a oferecer.