Para que a franquia de RPGs Pokémon retorne aos eixos, é de suma importância que a Game Freak encontre uma maneira de alcançar o quanto antes um desastroso fracasso comercial.
É evidente que as chances disso acontecer são baixíssimas, já que nem mesmo a aparente ira dos fãs em resposta ao ‘Dexit’ impediu que Sword & Shield, de 2019, quebrassem recordes de vendas. Mas, à essa altura, a ameaça da catástrofe financeira parece ser um dos remédios mais eficientes contra o mal que assola essa que já foi uma das séries mais inovadoras dos RPGs.
Não convém adjetivar os desenvolvedores da série de “preguiçosos,” como costuma-se ler nas redes sociais. Basta atentar-se aos fatos: a Pokémon Company provou que está confortável lançando jogos progressivamente menos impressionantes para manter a máquina de merchandising girando.
É inaceitável que jogos como Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl sejam o máximo que a maior franquia do entretenimento consegue nos oferecer em 2021. Especialmente como remakes que deveriam celebrar a época em que Pokémon ainda ousava fazer coisas diferentes.
Talvez vendas baixas acenderiam um fogo debaixo das cadeiras dos diretores da Pokémon Company, fazendo com que eles voltassem a se mexer.
Os novos jogos de Nintendo Switch, que foram o segundo maior lançamento da plataforma no Japão, são o ápice da mediocridade. A recriação “em alta definição” da região de Sinnoh é tosca, inundada por bugs e tem o mesmo nível de ambição de uma ida à padaria.
Por 300 reais, fãs podem aproveitar menos conteúdo do que havia em Pokémon Platinum, de 2008, e também algumas poucas novidades que mais atrapalham do que ajudam, como o compartilhamento obrigatório de experiência, que faz com que 99% do jogo seja tão desafiador quanto escorregar em um toboágua.
Sim: é possível divertir-se com Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl. Eu mesmo me divirto. O charme inigualável de Pikachu e companhia ainda estão lá, assim como a engenhosidade das mecânicas de coleção e batalha dos monstrinhos. E isso só torna a trajetória da série ainda mais decepcionante.
O universo de Pokémon é um dos mais ricos e coesos da ficção. A combinação entre jogos, baralhos, anime, mangá, filmes e tudo o mais nos permite explorar o mundo dos monstrinhos de inúmeras maneiras distintas.
Títulos como o recente New Pokémon Snap nos mostram como até mesmo ideias inicialmente rasas como a de um safári de fotografia em formato de game podem resultar em uma experiência apaixonante quando adicionamos o fator Pokémon à mistura.
Mas os RPGs da série principal ignoram todo esse potencial, resumindo-se a fazer o mínimo para caracterizar “uma aventura Pokémon jogável.” Fãs são obrigados a contentarem-se com jogos de Switch que são deixados para trás em escopo e esmero técnico até mesmo pelo primeiro Yo-kai Watch – um jogo de 3DS com quase 10 anos de idade. É difícil pensar em um desperdício maior em toda a indústria.
Pode ser estranho escrever um texto como esse às vésperas da estreia de Pokémon Legends: Arceus, que ao menos parece tentar algo diferente dentro das limitações técnicas da Game Freak, mas vislumbrar Brilliant Diamond & Shining Pearl é desesperador.
Os fãs de Pokémon merecem mais, e precisam começar a se valorizar – pelo bem da própria série.