Ao som de Memories of Green

O vento caminhava lentamente pela montanha. Era como se o próprio palco soubesse que uma grande batalha estava se aproximando e se aquietasse aos poucos para receber os convidados. No ponto mais alto, uma figura escura e com uma grande foice observava o horizonte, esperando os heróis que chegavam para enfrentá-lo.

Magus, filho da rainha Zeal e irmão da princessa Schala, é um dos inimigos mais conhecidos de todos que se aventuraram pelo clássico Chrono Trigger. No pacote de momentos épicos que se fixaram na memória dos gamers, as duas batalhas contra ele estão entre os meus momentos favoritos de toda a série — uma contra os heróis em seu misterioso castelo e o acerto de contas final na beira de North Cape. Ambas inesquecíveis.

Chrono Trigger é sempre relembrado por sua trama atemporal, onde o inimigo é um conceito mutável que vai se formando no decorrer da aventura. Em determinado ponto, você acredita que Magus é o responsável por invocar Lavos, o destruidor de mundos, e causar o fim da humanidade. Mas há muitos outros motivos que levaram ao personagem a fazer isso, e você também descobre isso com o tempo. Ou através dos tempos.

Acontece que, no fim, Magus era o bispo no tabuleiro em que Lavos era o rei. Só que você não sabia — ainda — de qual lado ele estava. Mas isso não o tornava menos inimigo do que qualquer outro que você enfrentou pelo caminho. Pelo contrário, isso mostra que ele é mais importante do que você imagina.

Magus tem um simbolismo único entre todos os adversários que já enfrentei pelos videogames. Há poucos, ou este seja o único, que você pode perdoar e deixar que a vingança não consuma mais uma vida em vão. Frog, com o coração cavaleiro que sempre teve, me pareceu digno dessa escolha, e essa foi a que fiz. Qual foi o choque ao descobrir que o mesmo rival que você estava pronto para destruir se junta à equipe para combater o mal supremo?

Um inimigo nem sempre é o responsável por todo o mal. Ele pode ser o simples e inocente lacaio de Bowser que Mario pula em cima e segue em frente na sua aventura para salvar a princesa. Ou ele pode ser o mago poderoso de capa e foice que você acredita que causou todos os problemas no espaço-tempo — isso até que ele revele sua intenção: matar Lavos e reaver sua irmã Schala. Ou seja, ele quer destruir Lavos tanto quanto Crono. Ele tem o mesmo objetivo, mas fez a busca por meios diferentes. O quão diferente isso o torna de você?

Em meio a diversão dos videogames, a genialidade de Chrono Trigger me faz refletir porque o The Enemy precisa também se lembrar dos grandes inimigos dos jogos eletrônicos. Para mim, Magus é quem brinca com os conceitos que todos estamos acostumados: na visão de Crono, ele é o inimigo, mas para Schala e as criaturas místicas, ele pode ser um herói.

Para o início da sua aventura, ele é o inimigo. Para o confronto final contra Lavos, ele pode ser o salvador.

Tudo depende da sua escolha e do seu ponto de vista.

Magus relembra, enfim, que o lema do site se revela ainda mais importante para os fãs de um bom game. Sem inimigo não há jogo — e nem grandes histórias.