A uma distância segura, é fácil apontar o dedo para todos os tropeços e oportunidades perdidas de um novo jogo Pokémon.

Como ponta de lança para aquela que é literalmente a maior franquia do entretenimento mundial, a linha de RPGs parece estar sempre operando abaixo de seu real potencial – sempre perseguindo as expectativas dos fãs, e não ditando o próprio ritmo conforme avança. Novidades celebradas em um capítulo específico da série desaparecem no seguinte, e pedidos que a comunidade faz há anos continuam ignorados. Cada nova geração acompanha também uma nova lista de concessões.

A uma distância segura, porém, também é fácil esquecer de como os primeiros jogos de uma nova geração de Pokémon sempre compensam cada grande erro com dúzias de pequenos acertos. Coisas que tomamos por garantidas, como o prazer de entrar na grama alta e ser surpreendido por um monstrinho completamente desconhecido, que foi concebido com esmero suficiente para, em instantes, fazer por merecer seu lugar ao lado de outras criaturinhas colecionáveis que já amamos há mais de duas décadas.

Pokémon Sword & Shield existem neste estranho limbo entre o decepcionante e o apaixonante. Por vezes, os jogos podem parecer desleixados – mas as aparências enganam. Calculista, a série se dá ao luxo de errar onde pode, porque sempre acerta onde realmente importa.

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Nintendo/Divulgação

A nova região do mundo de Pokémon a ser explorada em Sword & Shield chama-se Galar. Inspirado pelo Reino Unido, o novo mapa é o mais impressionante de toda a série – resultado direto da tardia (porém bem-vinda) transição da série para o universo da alta definição.

Diferente de Alola, que era dividida em ilhas no 3DS, Galar passa a impressão de ser um único mundo coeso. Cidades e pontos de interesse que o jogador só vai visitar dali a várias horas podem ser vistos no horizonte logo no início da jornada, por exemplo.

É evidente, porém, que a equipe de desenvolvimento precisou sacrificar certos aspectos técnicos do jogo para criar tamanha escala. A resolução dos gráficos sofre visivelmente quando o Switch está no modo portátil, e a performance tropeça em vários momentos durante a exploração, principalmente quando efeitos climáticos e grandes grupos de monstrinhos se misturam na tela ao mesmo tempo. Felizmente, as cenas de batalha foram poupadas dos problemas de performance.

Mas, mesmo com tantas ressalvas, a apresentação de Sword & Shield consegue impressionar, especialmente considerando o salto em relação a Sun & Moon. As paisagens do jogo são das mais diversas – colinas esverdeadas, castelos medievais, picos gélidos, cidades industriais e túneis lotados de pedras preciosas são algumas das surpresas que aguardam e agradam quem explora a região.

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Nintendo/Divulgação

E enquanto o assunto é a escala da aventura, convém mencionar a Wild Area: conjuntos de enormes zonas abertas tomadas por vida selvagem que compõem a maior novidade que Sword & Shield oferecem. Nestas áreas, pela primeira vez na série, o jogador é capaz de controlar livremente a câmera – algo que parece banal relativo a todo o resto da indústria, mas que representa uma pequena revolução para o mundo de Pokémon.

Ainda que a Wild Area não chegue nem perto da vastidão de algo como Zelda: Breath of the Wild, o sentimento evocado pelos dois mundos abertos é bem semelhante. Em ambas, há descobertas divertidas a serem feitas por todos os lados – no caso de Pokémon, principalmente na forma de centenas de espécies diferentes de monstrinhos.

A lista de Pokémon selvagens que aparecem pelo mapa não só é enorme, como também muda de acordo com fatores como o clima. Assim, até mesmo áreas que o jogador já visitou podem esconder surpresas em outros horários.
Um enorme trecho da Wild Area já pode ser explorado antes mesmo do primeiro Ginásio da aventura. Isso é marcante porque permite que os jogadores experimentem com uma tonelada de potenciais configurações para seu time de monstrinhos logo de cara – algo inédito na série.

A Wild Area também permite que jogadores vejam uns aos outros e interajam entre eles, seja dentro de acampamentos onde é possível brincar com os Pokémon, ou nas Max Raid Battles, que são batalhas cooperativas para quatro pessoas contra Pokémon gigantes que em muito lembram as raides de Pokémon GO.

Tais batalhas parecem bobas a princípio, pois as mais fáceis podem ser vencidas mesmo ao lado de treinadores virtuais controlados pelo computador. Mas o novo modo brilha quando entram em campo as Raids de níveis de dificuldade 4 ou 5 estrelas, que são capazes de desafiar até mesmo times de quatro jogadores veteranos de carne e osso. Os Pokémon gigantes guardam várias surpresas nas mangas, como ataques especiais e escudos, e as recompensas justificam o esforço necessário para vencê-los.

A outra grande novidade de Pokémon Sword & Shield é justamente a existência dos Pokémon gigantes. Por influência de um fenômeno misterioso que incide apenas sobre a região de Galar, os monstrinhos são capazes de ganhar proporções de Godzilla em determinadas circunstâncias, como em Max Raid Battles ou em desafios contra líderes de Ginásio.

Chamada de Dynamax, a mecânica herda e combina aspectos das Mega Evoluções da Geração VI e dos Z-Moves da Geração VII. Apesar de ser divisivo em termos estéticos, o sistema é melhor que seus predecessores por dois motivos: o primeiro é o fato de que todos os Pokémon podem usufruir da novidade; até mesmo o Caterpie pode ficar gigante (ainda que só alguns monstrinhos mudem de aparência quando ficam gigantes); O segundo, e mais importante, é justamente o fato de que a mecânica só pode ser ativada em momentos especiais. Assim, ela acaba mantendo seu charme ao longo de toda a aventura, e evita a banalização.

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Infelizmente, os jogos hesitam em lançar um novo olhar sobre como as narrativas da série costumam ser contadas. Como em tantos jogos Pokémon anteriores, a história da aventura em Galar é repleta de clichês e personagens bobos, e parece estar lá só para cumprir tabela.

É uma pena, pois os jogos até têm algumas boas ideias em relação ao ritmo de narrativa. Um exemplo importante disso acontece logo no começo: jogadores experientes têm uma oportunidade de capturar Pokémon selvagens antes do tutorial que ensina tal mecânica aos novatos. Caso eles abracem a oportunidade, o tutorial sequer acontece.

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Outra novidade é a maneira como praticamente todos os líderes de Ginásio de Galar são apresentados ao jogador logo de cara, e voltam a aparecer em diversos pontos da aventura antes de serem enfrentados em suas respectivas arenas. Isso faz com que as batalhas ganhem um peso maior do que em jogos anteriores, nos quais era comum só conhecer um líder minutos antes de vencê-lo.

Os próprios Ginásios – que em Galar são basicamente estádios de futebol, com direito até mesmo multidões de espectadores que vibram a cada nocaute – têm um ritmo mais legal do que o padrão da série por influência dos Trials de Sun & Moon. Em Sword & Shield, todos os desafiantes precisam resolver curiosos minigames ou quebra-cabeças antes de terem a chance de enfrentar os líderes.

Também como em Sun & Moon, porém, Sword & Shield vacila no pós-jogo. Tomando cuidado para evitar spoilers, é possível ao menos afirmar que ainda não foi desta vez que a série conseguiu voltar a criar atividades pós-créditos tão envolventes quanto a Battle Frontier ou o Battle Train.

Apesar de ter sofrido com um dos ciclos de hype mais traumáticos da história da franquia, Pokémon Sword & Shield chegam ao Switch com um saldo muito positivo. A ausência de centenas de espécies clássicas de monstrinhos machuca, mas também cria oportunidades: para cada ausência chocante na Pokédex, há pelo menos uma inclusão surpreendente de monstrinhos que raramente tinham sido contemplados antes na série.

Deixando alguns dos monstrinhos já consagrados de lado, os jogos têm mais tempo para dar os holofotes para os novos Pokémon, que são fofinhos, estilosos, mal-encarados, coloridos, mas acima de tudo, excelentes personificações dos mais diversos temas da cultura britânica. Até mesmo as novas variações de espécies clássicas merecem destaque; enquanto muitas das formas de Alola em Sun & Moon forçavam a barra apenas para apelar para a nostalgia da Geração I, todas as formas de Galar parecem existir simplesmente por serem boas ideias.

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Por fim, é importante ressaltar que Pokémon Sword & Shield são jogos que têm noção de que servirão como porta de entrada (ou reentrada) para muita gente na série. Assim, ele elimina vários dos fatores que dificultavam a vida de iniciantes em capítulos anteriores. Um exemplo evidente é o fim dos encontros aleatórios contra monstrinhos selvagens, mas há vários outros que não são tão óbvios em um primeiro momento, como sistemas que facilitam o cruzamento e o treinamento de Pokémon pensados para disputas competitivas.

Sword & Shield não são experiências Pokémon tão completas quanto os jogos da era DS, mas talvez representem o passo mais importante que a série já deu até hoje. Foi uma caminhada longa e difícil, mas a última grande franquia dos games que ainda estava para trás finalmente completou a transição para a alta definição. E começamos com o pé direito.

  • Lançamento

    15.11.2019

  • Publicadora

    Nintendo

  • Desenvolvedora

    Game Freak

  • Gênero

    RPG

  • Testado em

    Nintendo Switch

  • Plataformas

    Nintendo Switch

Nota do crítico