E se as criaturas de Monster Hunter pudessem ser nossas aliadas?

Monster Hunter Stories 2 é um RPG por turnos que investiga essa possibilidade. Em vez de ficarem presos ao eterno ciclo de caça e caçador, os humanos do jogo encontraram uma alternativa: domar monstrões como o Rathalos e trata-los como... Pokémon.

Sequência para um spin-off que nasceu no 3DS, o lançamento de Switch e PC expande o universo de Monster Hunter com um foco narrativo e uma nova perspectiva.

Apesar de depender de uma fórmula um pouco repetitiva, Stories 2 é como uma refeição versátil: ele é uma boa sobremesa para quem se empanturrou com Monster Hunter Rise, mas também pode ocupar o lugar de prato principal para aqueles que não são fãs dos jogos tradicionais da franquia.

Divulgação/Capcom

A aventura do protagonista sem nome começa durante um festival na Aldeia Mahana. Condutores de um estilo de vida bucólico, os aldeões vivem em harmonia com a natureza e com os Monsties – versões domesticadas de perigosos monstros, que são unidos a seus Montadores por meio de uma conexão que parece beirar o campo da telepatia.

Ainda que o festival pareça correr bem, uma estranha luz vermelha brilha no céu, indicando que algo está errado. O protetor da região, Ratha Guardião, é espantado por um grupo de caçadores visitantes, e logo a ausência da criatura é sentida nos ecossistemas locais, que começam a ficar desequilibrados.

Monster Hunter Stories 2 tem uma trama em grande parte previsível, mas que é carregada nas costas de um time carismático de coadjuvantes e de uma excelente dublagem em inglês (a tradução para o português do Brasil fica restrita aos textos).

Na cronologia da série, Stories 2 se passa após os eventos do original de 3DS e até chega a fazer leves alusões aos eventos do título anterior, mas pode ser aproveitado sem qualquer problema por quem está conhecendo este universo pela primeira vez. E assim, tentando fazer justiça ao legado de seu avô – um Montador lendário – o protagonista deixa a Aldeia ao lado de seu Monstie para tentar desvendar o real motivo da luz vermelha que colocou a paz de seu lar em cheque.

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Após trombar com um monstro vagando pelo mundo, o jogador é levado para a tela de batalha, que apenas parece com a de um RPG de turnos tradicional.

Em Monster Hunter Stories 2, o jogador só controla um dos combatentes de seu time. A maior parte das ações de seus parceiros são selecionadas automaticamente pelo computador. Além disso, praticamente todos os ataques são regidos por uma dinâmica de pedra, papel e tesoura, e é preciso tentar adivinhar como um oponente atacará para obter a vantagem naquele turno.

Monstros como o Velocidrome costumam utilizar ataques de Velocidade – o que faz com que a estratégia de ataque mais efetiva contra eles seja o uso de ataques de Técnica. Quando eles se aproximam da morte, porém, seu comportamento fica errático, e os tipos de ataque ele usa mudam.

Elementos de sorte não são novidade em RPGs, mas são raros os casos em que eles tomam os holofotes como fazem em Stories 2 – Crisis Core e Persona 3 sendo outros dois exemplos de peso. O jogador que estuda bem os inimigos não depende tanto da sorte quanto no primeiro Stories, mas a roleta invisível ainda está ali, e inevitavelmente mostra a cara para causar problemas em algumas das batalhas mais difíceis.

Pessoalmente, achei a imprevisibilidade limitada do combate de Stories 2 muito mais tolerável do que a aleatoriedade desenfreada do jogo original. Não é difícil de imaginar, porém, que a mecânica possa frustrar quem joga RPGs de turno justamente para ter o controle completo da ação.

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Mas há mais a ser dito sobre o sistema de combate, que encontra maneiras engenhosas de adaptar mecânicas do Monster Hunter tradicional ao mesmo tempo em que faz a relação entre Montador e Monstie transparecer na maneira como eles lutam.

Uma vez por turno, sem qualquer penalidade, o jogador pode trocar a arma que está empunhando e o Monstie que está ao seu lado em preparação para o que virá.

Seis dos tipos de armas presentes na série principal estão disponíveis em Stories 2 desde o início, e cada um deles tem usos e habilidades distintas. Um martelo, por exemplo, serve para quebrar com mais eficiência as rochas que o Kulu-Ya-Ku carrega. Já o Arco usa munições especiais para causar condições anormais nos inimigos, como envenenamento.

Os Monsties têm suas próprias predileções por tipos de ataques específicos. Na hora de enfrentar um Yian Kut-Ku com seus ataques de Técnica, por exemplo, é melhor colocar o Bulldrome com seus ataques de Força em campo. Na medida em que os turnos avançam, a confiança entre o Montador e o Monstie cresce. Quando a barra está cheia, eles passam a atacar juntos por alguns turnos, ou até o jogador desferir a técnica combo especial da dupla.

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Acompanhar a linha narrativa das missões obrigatórias sem qualquer consideração pelo conteúdo opcional é possível, mas muito difícil.

A recomendação é mergulhar de cabeça no conteúdo opcional, cumprindo missões secundárias em troca de itens e recursos para a forja de armas melhores, e adentrando ninhos atrás de ovos que podem conter Monsties mais poderosos.

E é aqui que a natureza repetitiva de Monster Hunter Stories 2 revela-se. Em sua maioria, ninhos são cavernas geradas processualmente que são colocadas em lugares aleatórios do mundo aberto. Dentro, o jogador encontra monstros, cenários e itens repetidos – analogias perfeitas para os encontros aleatórios que fãs de RPGs clássicos usam para ‘grindar.’

A busca por versões dos mais de 80 Monsties com as melhores combinações de genes e atributos é recompensante, mas também é melhor aproveitada em doses homeopáticas. O segredo para aproveitar o mundo de Stories 2 é alternar entre sessões rápidas de conteúdo opcional e progresso na história.

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Parte do prazer de explorar o mundo do jogo nasce das escolhas feitas pela direção de arte, que aplica com consistência impressionante um visual de desenho animado a todos os elementos da aventura.

Até mesmo cenários comuns como planícies e praias enchem os olhos em uma explosão de cores, enquanto monstros horrendos dos jogos principais ganham um certo toque de fofura.

Apesar de estar disponível também para PC, essa crítica foi feita com base na versão de Nintendo Switch do jogo.

Monster Hunter Stories 2 é mais um título a ingressar no já bem povoado grupo dos títulos de Switch que impressionam visualmente, mas estão presos em um embate interminável contra as limitações técnicas do hardware. A ação raramente alcança a estabilidade dos 30 quadros por segundo, e qualquer cutscene mais agitada faz com que a performance rasteje.

Como as batalhas ocorrem em turnos, os momentos de lentidão não chegam a atrapalhar a mecânica do jogo – mas é uma pena, por exemplo, que as carismáticas e explosivas animações de ataques especiais não possam ser aproveitadas com a devida fluidez.

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A tradução para o português do Brasil merece atenção: apesar de funcional, ela não é tão boa quanto a de Monster Hunter Rise, que incluía até mesmo trocadilhos para o público local. Em vez disso, a localização de Stories 2 parece ter sido feita sem o devido contexto; há frases cuja tradução não está incorreta, mas não condiz com a cena. O erro mais grave está na tela de missões secundárias, na qual o “Turn In” de “Entregar” tornou-se “Desistir” na versão PT-BR.

Amplamente ignorado por ter sido lançado de maneira muito tardia no 3DS, Monster Hunter Stories agora pode ser redimido. Stories 2 prova a versatilidade da franquia Monster Hunter, que é capaz de mudar de gênero de jogo sem perder a própria identidade.

O jogo sofre com problemas técnicos no Switch e tem uma estrutura simples e repetitiva, mas se sobressai pelas forças do mundo em que é situado e do engenhoso sistema de combate. E sim: chocar ovos e colecionar monstros continua sendo um deleite inigualável, como qualquer fã de Pokémon sabe bem.

Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin sai em 9 de julho para Nintendo Switch e PC.

  • Lançamento

    09.07.2021

  • Publicadora

    Capcom

  • Desenvolvedora

    Capcom

  • Censura

    12 anos

  • Gênero

    RPG

  • Testado em

    Nintendo Switch

  • Plataformas

    PC Nintendo Switch

Nota do crítico