O ano é 2003. Frente a uma concorrência cada vez maior de jogos de corrida realistas e com listas de carros robustas, a franquia Need For Speed se inspira nas corridas de rua de Velozes e Furiosos em Need For Speed: Underground, que aproveita esse hype e se transforma em um dos grandes sucessos da franquia. Corta para 2015 e, quando nem o próprio Velozes e Furiosos é mais sobre corridas de rua, a Electronic Arts volta a essa temática para fazer mais um reboot de sua série de games de corrida, batizado apenas de Need For Speed.

A relação com Underground, entretanto, é superficial. O reboot mais parece um “Velozes e Furiosos da geração Y”: assim como Brian O’Connor, você é um corredor talentoso e novato que quer seu lugar no mundo das corridas noturnas de Ventura Bay (a versão de Los Angeles do game), acompanhado de uma equipe de amigos que vão ficar te ligando e mandando mensagens o tempo todo. A interface do jogo também vai na mesma linha, imitando um smartphone, com direito a tweets e hashtags comentando seu desempenho ou te dando dicas nas telas de carregamento.

Entre uma missão e outra, há diversas cutscenes com atores, sempre em plano-sequência, com a câmera dando a perspectiva do protagonista, que às vezes fazem transições supostamente fluidas (mas bem perceptíveis) para o cenário renderizado. Os personagens são pouco memoráveis e a narrativa está longe de ser envolvente, como diz o verso da caixa do game, mas cumpre seu papel de notificar o progresso do seu personagem.

Esta noite vamos correr

Assim como seu antecessor, Rivals (2013), Need For Speed se passa em um mundo aberto no qual o single-player e o multiplayer são um só (embora você possa correr sozinho). Você vai trombar com algum corredor no meio do caminho e pode desafiá-lo na hora, ou tentar bater o seu tempo. É um multiplayer funcional, mas a falta de atividades dedicadas o tornam o elo mais fraco da mistura de modos proposta pela Ghost Games e, certamente, não justificam a exigência de uma conexão online para jogar.

Need For Speed trabalha com um sistema de reputação, no qual você sobe de nível para desbloquear corridas, carros, modificações e por aí vai. Os pontos de experiência são obtidos em cinco vertentes diferentes: fora da lei (com batidas, finas e desafiando os policiais), estilo (drifts), customização (fazendo modificações no seu carro), velocidade (esse é auto-explicativo) e equipe (sincronizando manobras com seus amigos). Estrelas das corridas, como o piloto Ken Block ou a lenda da tunagem de Porsches Akira Nakai fazem as vezes dos “chefes” de cada estilo. Eventualmente, suas manobras vão chamar a atenção da polícia, mas as perseguições não chegam ser um foco do game como em Rivals.

À medida que você vai avançando, mais opções de customização do seu carro são desbloqueadas e, com isso, você acaba se apegando a um carro só - algo raro atualmente no gênero, cujos concorrentes dão ênfase em garagens cheias e trocas de veículos constantes. Tanto as modificações quanto as mudanças da parte externa do veículo e pintura são feitas dentro da garagem, em uma interface unificada, simples e bem elegante.

Tunagem é coisa séria

Embora o clima de corrida de rua sirva mais para pescar a memória afetiva dos jogadores do que qualquer outra coisa, a tunagem desempenha um papel fundamental na jogabilidade, já que você é encorajado a mexer constantemente nas configurações do seu carro. Não adianta tentar fazer uma prova de drift com todas as configurações de estabilização e travamento de rodas ligadas ou fazer uma prova de equipe com um carro muito superior ao dos outros - cada prova (e cada estilo) exige o tipo de veículo certo.

Além de conferir uma sempre bem vinda variação ao jeito de jogar, a tunagem é feita com um menu simples e fácil de entender e, eventualmente, molda o veículo ao seu estilo de jogo de forma natural. Só ficou faltando uma maneira de salvar diferentes configurações de carro, já que, para fazer os ajustes, você precisa ir para a garagem, para a qual há fast-travel, mas, de lá, é preciso andar todo o caminho de volta até uma prova e a navegação no mapa é um pouco confusa, com o caminho sendo mostrado apenas no mini-mapa - o traçado só aparece nas corridas. Como Ventura Bay, a exemplo de Los Angeles, é cheia de auto-estradas com entradas únicas, é chato ter que ficar com o olho grudado no canto da tela e perder as belas paisagens.

Na parte técnica, Need For Speed surpreende. Antes do lançamento do game, algumas de suas screenshots foram comparadas com imagens de verdade e essa sensação de fotorrealismo se estende para a movimentação dos carros em Ventura Bay, no qual os efeitos de iluminação, por conta das corridas noturnas, são o maior destaque. Durante as partidas, houve algumas quedas de frame rate, mas não foi nada que atrapalhasse a experiência como um todo.

O que mais atrapalha - e aqui está provavelmente o maior defeito do novo Need For Speed - é o sistema de inteligência artificial que, assim como os velhos e bons arcades de corrida, deixa quem está atrás mais rápido para tornar as corridas competitivas e dar mais desafio ao jogador. Além de desmerecer um pouco todo o cuidado com modificações e tunagem, este balanceamento pode ser bem frustrante, já que as batidas em alta velocidade são uma espécie de “game over” em que a tela reseta e você volta, parado, no local onde bateu. Se você se envolve nesse tipo de acidente, pode se preparar para uma corrida de recuperação, ou já reinicie o percurso.

Durante a conferência da EA na E3 2015, Need For Speed foi vendido como a experiência definitiva da série, mas, no fundo, o game não faz nada que o destaque como o primeiro Underground conseguiu em 2003. O game une sistemas já testados em outras entradas com a temática de maior popularidade da história da franquia em um resultado agradável, e só.

Need For Speed está disponível para PlayStation 4, Xbox One. A versão de PC será lançada em 2016. A versão testada foi a de Xbox One.

Nota do crítico