Os estúdios de jogos brasileiros estão, cada vez mais, ganhando destaque e lançando títulos incríveis que fazem sucesso não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
É muito importante que essas empresas tenham espaço e conquistem cada vez mais o mercado internacional. Afinal, nosso país está em 12º colocado no ranking mundial de receita gerada pela indústria de videogames.
Em um movimento importantíssimo, o estúdio brasileiro Rogue Snail fechou duas parcerias importantes não apenas para a trajetória deles, mas também para o mercado de games brasileiro: com a Netflix Games e a Gearbox.
Criada de experiências diferentes — filha da Critical Studio e da Behold Studios —, a Rogue Snail é comandada por Mark Venturelli, Caio César e Betu Souza, que se uniram com a intenção de criar um novo estúdio de games no Brasil totalmente remoto, muito mais humano, muito mais diverso e com processos e modelos de organização inovadores.
Os primórdios do desenvolvimento profissional
Antes da Rogue Snail, Mark Venturelli, junto de 4 amigos, fundou o Critical Studios. O estúdio foi responsável pelo jogo Dungeonland, lançado no Steam, que conseguiu entrar na lista dos 10 mais vendidos da loja da Valve — chegou até mesmo ao 3º lugar.
O primeiro sucesso da Rogue
Relic Hunters Zero nasceu de uma game jam em que Mark e Betu participaram. Decididos a colocá-lo no Steam gratuitamente, eles também deixaram o código fonte do jogo aberto para que as pessoas pudessem mexer e criar coisas novas.
“Foram mais de 1 milhão de downloads e uma comunidade apaixonada de fãs. Isso nos motivou a investir em criar um Relic Hunters maior e que pudesse ser vendido”, disse Mark Venturelli.
A Rogue Snail tem um olhar bastante apurado sobre tendências de games, especialmente jogos mobile, que fazem grande sucesso entre o público — brasileiro ou não — e, segundo Venturelli, eles sempre planejaram seus jogos globalmente. “Mesmo sendo um estúdio composto somente por brasileiros, nossos jogos são todos feitos em inglês, sem deixar de lado a nossa raiz brasileira, claro”, diz.
“Acredito que os jogos brasileiros têm esse potencial global. O nosso país é muito rico em influências culturais, aqui é um caldeirão de tudo misturado, e acho que pessoas do mundo inteiro conseguem se conectar com a arte brasileira por causa disso”, completa ele.
Com grandes projetos vêm grandes responsabilidades
Como de costume, dentro da indústria de jogos brasileiros, os estúdios sempre realizam reuniões para apresentação de seus projetos para investidores. Com a Rogue não foi diferente.
Antes da pandemia vir à tona, o PAX 2020 foi onde o estúdio teve seu primeiro contato com a Gearbox e onde eles apresentaram o Relic Hunters Legend para a empresa.
A parceria entre Gearbox e Rogue Snail é um passo muito importante para o cenário de jogos brasileiro. Títulos gigantescos como Half-Life, Tony Hawk’s Pro Skater 3 e a franquia Borderlands fazem parte do catálogo da gigante norte-americana, e ter um jogo feito totalmente por brasileiros entre esses títulos vai mostrar o quanto nosso cenário está crescendo e expandindo cada vez mais.
De acordo com Venturelli, esse é o momento para o cenário brasileiro de desenvolvimento de jogos. “O mundo está olhando para cá, estamos com um holofote muito grande apontando para o nosso país e isso é motivo de orgulho. Os brasileiros trabalham com muita garra e carinho, e sabemos os desafios que encontramos no nosso país quando o assunto é apoio à arte por parte do nosso governo.”
“Estamos muito felizes e empolgades com essa parceria, inclusive foi bem difícil esconder esse segredo durante alguns anos. Admiramos muito a Gearbox, vários devs da Rogue são super fãs de Borderlands e de outros jogos da Gearbox, então é uma honra poder finalmente contar para o mundo que eles vão publicar o nosso maior jogo”, diz Venturelli.
A liberdade criativa e o aprendizado que a Rogue Snail está absorvendo da Gearbox e das pessoas que estão trabalhando no projeto de Relic Hunters Legend é um dos pontos principais para o estúdio.
Uma economia de jogo balanceada
Relic Hunters Legend, o próximo grande lançamento da Rogue Snail em parceria com a Gearbox, será um jogo totalmente gratuito com monetização feita por meio de itens cosméticos e utilidades na conta.
“Todo o sistema de monetização foi pensado para ser o mais justo possível tanto para os jogadores quanto como para nós, os desenvolvedores, pois precisamos pagar nossas contas e dar qualidade de vida para o nosso time”, diz Venturelli.
Ele também garantiu que o jogo não contará com “compras com ganhos randomizados (as famosas ‘loot boxes’)” ou qualquer outra mecânica predatória que desbalanceie a economia e diversão dentro do jogo.
Uma novidade é que o time está desenvolvendo formas de conseguir a moeda premium do jogo (Time Crystals) sem a necessidade de pagamento em dinheiro real. “Queremos que todes possam se divertir da mesma maneira. Por enquanto estamos planejando trocas entre jogadores, e também uma moeda chamada ‘Bondade’ (Kindness), que é ganha ao ajudar as pessoas no jogo e ser uma parte legal da comunidade, e que pode ser usada para comprar produtos premium”, relata ele.
O pesadelo das microtransações
Venturelli acredita que é possível contornar a monetização por microtransações dentro de jogos. “Na minha opinião, muitas das tensões que existem no espaço ‘free-to-play’ vêm do fato de que frequentemente não são as mesmas pessoas que estão preocupadas com a diversão e a intenção artística do jogo, e as que estão preocupadas com a rentabilidade do produto e o crescimento do negócio.”
“Daí o que acaba acontecendo é que um dos lados acaba sempre ‘vencendo’ - ou você tem jogos que são divertidos mas não conseguem fazer dinheiro e acabam fechando por falta de recursos; ou você tem jogos em que a diversão e a visão artística são sacrificadas por uma visão de ganho de dinheiro de curto prazo.”
“Aqui na Rogue é diferente. E nós temos a coragem e a imaginação necessárias para tentar coisas novas, errar, aprender, até chegarmos em um modelo saudável que funcione pra todo mundo - jogadores, estúdio e publicadora. Talvez não vai ser logo de primeira, mas vamos chegar lá.”
“E falando em publicadora, a Gearbox tem sido uma parceira incrível nisso. Eles nos dão muita liberdade e confiam na gente e na nossa visão, além de trazerem muita experiência e recursos pra nos ajudar a transformar essa visão em realidade”, completou.
Não só uma: duas parcerias de sucesso! (E muito mais para alcançar!)
A Gearbox não foi a única parceria de sucesso que a Rogue Snail conseguiu alcançar neste ano. Com o game Relic Hunters Rebels já disponível por meio da Netflix Games, Venturelli conta que as adaptações necessárias para o projeto seguir foram relacionadas ao modelo de jogos da plataforma.
“Inicialmente, o Rebels foi planejado para ser um jogo free-to-play e com microtransações e ads, então isso tudo teve que ser adaptado. Com relação à criação e desenvolvimento do jogo em si, tivemos total liberdade para fazer do jeito que a gente desejava”, afirmou ele.
Com dois grandes projetos rodando na casa, as coisas foram bastante corridas, mas a Rogue Snail cumpriu sua proposta inicial de ser um estúdio mais humano e sempre deixou claro seu principal pilar: priorizar a saúde mental e física de suas pessoas.
“Não somos um estúdio que faz ‘crunch’, nunca fizemos e nunca vamos fazer. Acredito que estamos hoje entre os melhores estúdios do mundo em qualidade de vida e ambiente de trabalho. Temos vários times dentro da Rogue trabalhando nesses projetos e todo mundo trabalha com muito carinho. Os times que desenvolvem o Rebels e o Legend são diferentes. Fizemos isso para que o desenvolvimento do Legend não fosse de maneira alguma impactado ou prejudicado pelo desenvolvimento do Rebels. E é uma sensação indescritível ver o Rebels sendo lançado”, diz Venturelli.