Na última semana, a Epic Games conseguiu – finalmente! – posicionar sua loja oficial dentro do iOS, o sistema operacional do iPhone. Apesar de a vitória valer apenas para a Europa, onde legislações recentes agora permitem que apps sejam baixados nos smartphones da Apple por outros marketplaces que não a App Store – alguns desenvolvedores contaram ao The Verge como isso pode não ser a grandiosidade que a Epic espera.
Basicamente, a situação resume-se a “ou você tem muito dinheiro, ou você sai perdendo de qualquer jeito”.
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Na ocasião do anúncio, a Epic afirmou que quer fomentar a entrada de outros desenvolvedores terceirizados, que levarão seus apps à loja oficial da dona de Fortnite. O problema: da mesma forma que a Apple cobrava taxas bem altas de hospedagem para os jogos da Epic Games, a empresa de Tim Sweeney também cobra uma tarifa – ainda que bem menor – dos desenvolvedores que hospedam jogos em suas loja.
E é aí que mora o perigo: conforme um desenvolvedor afirmou ao Verge, qualquer cobrança pode ser um problema caso você não tenha um faturamento do tamanho de Fortnite. E mesmo que um app esteja hospedado fora da App Store, ele ainda terá que arcar com tarifas impostas pela Apple para que tudo isso seja contemplado em seu ecossistema:
“Parece uma situação onde todo mundo – Apple, desenvolvedores e consumidores – saem perdendo”, disse Bob Roberts, o dev por trás do jogo independente Roundguard, da Wonderbelly Games. “Toda essa situação só torna a vida mais complexa e confusa, sem realmente aprimorar o caso da forma que as pessoas imaginaram que aconteceria.”
Em termos práticos: desenvolvedores menores – como indies – terão dificuldade em arcar com todos esses custos, e empresas maiores, que podem pagar essa conta, terão dificuldade em atrair profissionais independentes, o que pode reduzir sua variedade e oferta de produtos.
Há que se considerar também o fato de que, mesmo aberta para outras lojas, é o ecossistema da Apple que ainda terá o domínio da visibilidade de ofertas: do ponto de vista da comunicação e do marketing, faz mais sentido continuar hospedado dentro da App Store.
A saber, a Apple cobra uma tarifa de 30% incidente sobre o faturamento total de um aplicativo ou em seu preço de aquisição. Trocando em miúdos: se é um jogo que você paga para baixar, então os 30% incidem no valor de compra; agora um jogo freemium, com veiculação de anúncios ou com microtransações, terá que abrir mão de 30% em cima do faturamento mensal completo.
A Epic faz o mesmo, embora o valor fique na casa dos 12% (Steam e PlayStation Store também praticam esse número, aliás, mas não há informações do quanto a Microsoft cobra).
Dentro das legislações da União Europeia, porém, a coisa é um pouco diferente: para um desenvolvedor vender seu jogo fora da App Store, ele terá que pagar cinquenta centavos de euro (€ 0,50, ou R$ 3,10) por usuário, anualmente, quando o seu jogo atingir um determinado volume de downloads.
Mas essa é apenas a taxa de instalação. Outros custos incidentes incluem:
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comissão de 10% feita em qualquer plataforma fora do ecossistema iOS (o que inclui lojas terceirizadas e links de direcionamento “não Apple”)
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comissão de 5% em compras feitas pelo app dentro do primeiro ano de instalação
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tarifa de 12% da hospedagem do app na Epic Games Store
Digamos que você tenha um jogo nessas condições, e os termos da Apple exijam o pagamento acima quando você atingir um milhão de downloads. Neste exemplo, você teria que pagar à empresa de Cupertino o valor de € 500.000,00 – ou R$ 1,55 milhão. Fora as comissões da Apple, e fora a tarifa da própria Epic Games.
Ah, e é importante ressaltar: “instalações” não é apenas sobre a instalação primária – aquela que você faz quando baixa um jogo pela primeira vez. O volume mínimo para pagamento também contabiliza atualizações (nos apps móveis, um update implica no jogo ser inteiramente reinstalado com o novo conteúdo, e não apenas “partes” dele): saiu um novo episódio de, digamos, Final Fantasy Brave Exvius? Trate de abrir a carteira…de novo.
Em compensação, a oferta de um app especificamente dentro da App Store prevê os 30% originais, que a empresa de Cupertino já vinha cobrando antes disso tudo. Nada de tarifa anual por instalação, ou comissões em cima de vendas (o que é extremamente variável, convenhamos).
Por ora, a situação não parece ter rumos para mudar, e o quadro que se instala é um de injustiça, onde desenvolvedores menores serão, aos olhos da Apple, tão devedores quanto empresas sólidas como a Epic Games.