Genshin Impact é muito mais que um gacha

Genshin Impact é atualmente o principal jogo da HoYoverse. Assim como a maioria dos títulos mobile, ele possui um sistema de gacha extremamente forte — e, inclusive, muito frustrante. Entretanto, o jogo é mais que sua roleta de personagens, especialmente no atual estágio de desenvolvimento.

De fato, é impossível remover completamente o sistema de gacha de Genshin. Ele faz parte de sua concepção e sempre estará presente, mas é perfeitamente possível minimizar a sua relevância e a pressão por colocar dinheiro no jogo.

Se não gastar o desconto é maior

A proposta principal de Genshin não é ser um gacha com elementos de RPG, mas um RPG completo com monetização via gacha. Pode parecer que não, mas são coisas muito diferentes. 

Os materiais promocionais do jogo nas redes sociais e na aba de eventos sempre lembram o jogador dos personagens que ele poderia ganhar se colocasse dinheiro no jogo, mas a propaganda desse sistema acaba aí. 

Não existem telas de carregamento ou pop-ups irritantes entre modos tentando induzir a comunidade a participar das roletas ou gastar dinheiro. A exceção é o primeiro capítulo, um grande tutorial. Contudo, uma vez que as missões iniciais já apresentaram como conseguir novos personagens, o jogador só será lembrado desse sistema se procurar ativamente. 

Em comparação, o próprio Honkai Impact 3rd — que inclusive possui uma roleta bem mais fácil de conseguir personagens –, traz algum lembrete a cada duas telas sobre as muitas maneiras de gastar dinheiro de verdade. 

Já Genshin deixa o jogador livre para explorar o mundo do jogo por dias – algo que não recomendo, pois dormir é importante – sem sequer sugerir que seria uma boa “dar aquele boost” no seu jogo com o passe de temporada ou sorteando novos personagens.

É claro que, por trazer personagens extremamente únicos e não cópias genéricas com outra aparência, a tentação de gastar dinheiro no jogo é um pouco maior. Além disso, os primeiros níveis do jogo podem ser mais difíceis sem ao menos um personagem de cada elemento. 

Entretanto, as primeiras horas e, talvez, até semanas de jogo oferecem tantas Gemas Primordiais (Primogems) e orações simples de Destino Familiar que em pouco tempo é possível conquistar um ou mais personagens de nível 5 estrelas.

Não a toa, uma prática comum a todos os gacha é jogar até o momento das primeiras dez orações e criar outra conta caso os personagens sorteados não sejam tão bons. A partir desse ponto toda invocação é um bônus…E, como Julius diz em Todo Mundo Odeia o Chris, de graça é sempre mais barato.

Muito meta e nenhum meta

Genshin Impact possui jogabilidade bem compreensiva no quesito meta-jogo. Não existem formações ideais, mas ótimas para os personagens que cada jogador possui. O sistema de multijogador é exclusivamente PvE (jogador contra ambiente) e quase todos os desafios mais complexos permitem a formação de grupos de maneira simples e rápida.

Com isso, é possível avançar no jogo mesmo possuindo apenas um personagem poderoso ao fortalecer seus grupos aos poucos. O ideal é investir no progresso dos personagens simultaneamente: crie um grupo inteiro de nível 20, depois de nível 40 e assim sucessivamente até pelo menos o nível 70. 

Desse ponto em diante, fica mais fácil concluir praticamente tudo no jogo sozinho e utilizar aquele husbando ou waifu supertrunfo para as atividades em grupo mais difíceis. Praticamente todos os personagens são utilizáveis se evoluídos propriamente. Com um pouco de esforço, até a coitada da Amber esquecida no churrasco pode ficar forte, não é mesmo?

Algumas combinações funcionam melhor que outras, mas não existe um único meta-jogo. Sendo assim, o grupo ideal depende de qual personagem cada jogador quer utilizar como principal, seja por seu poder ou porque simplesmente gostou do estilo. Sendo assim, é possível buscar combinações que valorizem esse “main”.

A única exceção para essa diversidade de modos de jogo fica para os últimos pisos do Abismo Espiral. O desafio exige pelo menos dois times extremamente evoluídos, com focos em diferentes elementos e com boa sincronia, além de eventuais personagens reservas (ou coringas). Nesse caso, a diferença é nítida entre um jogador free-to-play e um gastador – os famosos “whale”.

Um dos melhores RPGs da atualidade

Independente de suas mecânicas de monetização, Genshin é, de longe, um dos melhores RPGs de ação dos últimos anos. Entre os gratuitos ele é, sem dúvidas, o melhor. A história do mundo de Teyvat está em constante expansão e a cada atualização novas missões e narrativas são introduzidas.

A maioria dos capítulos principais e eventos é totalmente narrada e animada na engine do jogo, com direito a cutscenes épicas que deixam muitos jogos pagos – até os muito bem pagos, por sinal – comendo poeira. 

O conteúdo promocional nos canais oficiais também complementa bastante a lore do mundo, adicionando detalhes e histórias pessoais dos personagens.

As missões principais dão ao jogador a possibilidade de experimentar as novas adições e entender como cada personagem se relaciona não apenas com a jornada do Viajante, mas com a história do universo de Genshin. 

Um mundo vasto e gratuito

Além das diversas histórias contadas em missões, a exploração do deslumbrante e rico mundo de Genshin por si só proporciona uma experiência narrativa à parte. 

Por exemplo, ao seguir uma borboleta é possível avistar uma ravina, a qual leva a uma caverna que, por sua vez, revela todo um complexo subterrâneo com uma luta opcional contra um inimigo poderoso. 

Ao olhar para chão, também é possível ver uma sombra do que parece ser uma ilha flutuante entre as nuvens. Com um pouco de criatividade e força de vontade, o jogador consegue chegar à pequena ilha e se depara com um gazebo e várias poesias.

O mundo de Genshin é incrivelmente vasto. Explorar e descobrir esse mundo todo pode levar semanas, sem nunca encontra uma paywall sugerindo comprar uma expansão ou um incremento de nível para acessar uma nova área. 

No pior dos casos será preciso esperar alguma atualização de conteúdo ou completar uma missão específica, mas para se perder em Teyvat não precisa de DLC pago.

Atividades do mundo

Mergulhando fundo em elementos de RPGs japoneses e MMOs, Genshin ainda oferece um sistema de pesca bem divertido. Apesar de simples, pescar em Teyvat renderia um bom programa de TV para as manhãs de sábado. 

É possível realizar missões e eventos de pesca para conseguir novas varas e iscas especiais. Além dos peixes que naturalmente podem virar materiais culinários, ainda é possível colocar alguns deles em lagos particulares da sua casa. Sim, você pode ter uma casa!

O “Bule de Relachá” – é isso mesmo, Relachá! – é um domínio mágico que dá ao Viajante um pequeno reino para decorar sua casa, criar pequenas vilas ou mesmo desafios de percurso e labirintos que podem ser compartilhados com outros jogadores. 

Os fãs de simulação tem algo a encontrar aqui. Para liberar domínios das diferentes regiões do jogo é preciso avançar em um ranque cujo progresso depende exclusivamente de criar itens decorativos e aplicá-los tanto nas áreas interiores quanto exteriores da casa.

Uma das funções mais divertidas do bule é que todos os personagens que conquistar podem morar com você. Além de esses personagens terem interações fofas com o Viajante, pois geralmente ficam felizes por estarem ali, cada um deles têm suas próprias preferências. Criar ambientes que agradem seus companheiros gera novos diálogos e aumenta sua afinidade com eles.

É gacha, mas não precisa ser

De fato, Genshin Impact é um sucesso de arrecadação para seus desenvolvedores por ser um gacha. Contudo, ele só é um sucesso porque é muito mais que isso. Grande parte dos jogos atuais possuem sistemas de microtransação e passes de temporada, e nem por isso são sucessos absolutos.

O que faz de Genshin um jogo onde a comunidade se sente menos lesada em gastar é o fato de ser uma experiência incrivelmente completa e independente da sorte. 

As muitas roletas serão sempre a principal maneira do jogador adquirir personagens. Entretanto, a HoYoverse tem o costume recorrente de lançar eventos comemorativos que disponibilizam alguns deles como prêmio, e a lista abrange quase sempre os melhores e mais queridos pela comunidade.

Nos primeiros meses de Genshin após seu lançamento, por contar com menos opções de companheiros, a falta de sorte podia, de fato, criar uma pequena barreira de progresso. Porém, isso já não é mais uma verdade. O atual estado do jogo é tão rico e diverso que explorar, completar as missões, desafios e eventos são atividades mais que suficientes para garantir grupos poderosos. 

Os jogadores ainda precisam participar das roletas, mas as recompensas do jogo já dão moedas o suficiente para conseguir uma boa seleção de personagens utilizando os Destinos Familiares. Dessa forma, fica mais fácil acumular moedas de Destinos Entrelaçados para participar apenas de banners temporários mais interessantes.

Devido ao sistema de “pena”, a cada 10 orações as chances de conseguir um personagem raro aumentam — inclusive, é recomendado puxar sempre em lotes de 10. 

Além disso, o progresso desse sistema é vinculado à conta. Dessa forma, se ao final de um banner o jogador não conseguir o personagem favorecido, as chances de conseguir o do evento seguinte são maiores.

Apesar das microtransações, não existe em Genshin uma urgência ou sensação de que algo está faltando para os jogadores free-to-play. Comparando com jogos a preço cheio, a abordagem do HoYoverse parece bem mais justa do que alguns títulos triplo A, os quais precisam ser comprados quatro ou cinco vezes até entregarem uma experiência completa.

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