Se alguém me dissesse há alguns anos que Castlevania receberia uma continuação de qualidade nos dispositivos mobile em pleno 2019, eu provavelmente não acreditaria; ainda mais levando em conta os últimos lançamentos da franquia e o grande foco da Konami em versões para máquinas Pachinko.

O último jogo da antiga cronologia, Castlevania: Order of Ecclesia, foi lançado em 2008 e até então, se mantém cativo no Nintendo DS, sem previsão de ver a luz do dia em um possível relançamento para outra plataforma futuramente, juntamente de outros ótimos games da série para portátil - infelizmente.

Então, com a saída do produtor Koji Igarashi, a Konami apostou em um “reboot”. Intitulado Castlevania: Lords of Shadow, o game foi desenvolvido pela Mercury Steam e focava em uma jogabilidade de ação 3D, deixando de lado a exploração e as mecânicas MetroidVania. Num geral, a nova aposta não foi bem aceita.

Após isso a franquia passou a sobreviver de relançamentos em coletâneas remasterizadas e, como já citado, nas máquinas de Pachinko no Japão: Pachislot Akumajō Dracula (I, II, III e CR), Akumajō Dracula: The Medal e Pachislot Akumajō Dracula: Lords of Shadow são algumas das apostas da Konami nas máquinas caça-níqueis.

Por fim, temos Castlevania: Grimoire of Souls para iOS e Android que, surpreendentemente, reinventa a jogabilidade da franquia ao misturar mecânicas novas e antigas, além de trazer ótimos visuais e trilha sonora e, felizmente, uma história nova que respeita toda a vasta mitologia da franquia, construída ao longo de 30 anos.

Crítica: Castlevania Grimoire of Souls
Jessica Pinheiro/Reprodução

Jogabilidade reinventada

Grimoire of Souls apresenta inúmeros elementos de jogabilidade que, ao serem explicadas, podem parecer muita informação de uma vez só, fazendo o jogador se sentir sobrecarregado. Porém, um dos méritos do game é que ele apresenta um recurso por vez, para que o usuário possa digerir e entender perfeitamente como tudo funciona.

Para começar, o título já coloca o jogador controlando Genya Arikado, o disfarce que Alucard usa nos dias atuais. O usuário prossegue na pele do protagonista investigando um evento suspeito que parece ter alguma relação com Dracula; até que se depara com a graciosa Lucy Westenra.

Além de compartilhar o mesmo nome que a personagem do livro Dracula de Bram Stoker; a personagem apresenta ao jogador o sistema de grimórios, já que ela é uma agente a serviço de um ministério anti-criaturas das trevas e está estudando os elementos mágicos contidos nos misteriosos livros.

A partir disso, ela também apresenta cada um dos elementos de jogabilidade: os cristais vermelhos que o jogador pode usar para dar upgrade nos equipamentos, as árvores de habilidades que podem ser evoluídas através de Ability Points (APs) e as roupas alternativas que pode-se comprar com o ouro adquirido in-game.

Crítica: Castlevania Grimoire of Souls
Jessica Pinheiro/Reprodução

“Mas e o gacha?”. Sim, Grimoire of Souls tem sistema de gacha, mas ele é usado apenas para os equipamentos. Então, para conseguir mais equipamentos (o que inclui armas primárias, armas secundárias e armaduras), o jogador precisa usar cristais coloridos e apostar na roleta. Isso significa que pode-se receber itens comuns de 1 estrela até os mais raros de 5 estrelas.

Quanto às habilidades, elas vão evoluindo conforme o jogador usa APs, e esses APs, por sua vez, são adquiridos conforme os personagens sobem de nível. Vale apontar que, quanto mais alto o nível do personagem, mais difícil vai ficando até que ele suba para o próximo; então cabe gerenciar bem quais técnicas serão destravadas na árvore.

Personagens e exploração

São 5 personagens jogáveis, cada qual com habilidades e armas secundárias únicas: Alucard, Simon Belmont, Charlotte Aulin, Shanoa e Maria Renard (versão Castlevania: Rondo of Blood). Além destes, é possível adquirir outros 5 personagens de suporte, ajudando o jogador temporariamente quando invocados: Albus, Richter Belmont, Trevor Belmont, Jonathan Morris e Maria Renard (versão Castlevania: Symphony of the Night).

Soma Cruz, o protagonista dos Castlevania: Aria & Dawn of Sorrow também está no jogo, conforme destacam as imagens promocionais, mas não soltarei spoilers sobre o seu envolvimento na trama. De toda forma, os personagens vão sendo abertos conforme se avança na história.

Crítica: Castlevania Grimoire of Souls
Jessica Pinheiro/Reprodução

E a história, por sua vez, se desenrola através de grimórios, cujas missões se passam em diferentes partes do castelo do Dracula, o que traz um pouco da exploração por fases de volta, de forma semelhante a como era em Castlevania II: Simon’s Quest, Castlevania III: Dracula’s Curse e Castlevania: Order of Ecclesia.

Extras e co-op

Existem ainda recursos adicionais como os Limit Break e encantamentos que podem ser atribuídos aos equipamentos conforme o jogador coletar itens específicos nas fases: almas dos inimigos, pergaminhos, dentre outros. Tudo é feito de maneira a incentivar o jogador a jogar todas as fases/missões e concluir todos os objetivos dentro delas.

Quanto mais o usuário jogar, mais recompensa ele ganhará ao final das missões. Mas uma das características que faz Grimoire of Souls brilhar ainda mais é a possibilidade de jogar em co-op com até outras 3 pessoas ao mesmo tempo. Basta adicionar o Friend Code e convidar ou ser convidado para a partida.

Há também a possibilidade de adicionar um auxiliar de missões em uma lista pré-pronta, mas não é possível escolher arbitrariamente alguém de nível semelhante para equiparar a experiência. Então, o usuário pode acabar batalhando ao lado de pessoas com nível muito acima, o que pode frustrar um pouco a experiência.

Crítica: Castlevania Grimoire of Souls
Jessica Pinheiro/Reprodução

História

Como já dito por aqui, Grimoire of Souls respeita a mitologia da franquia de forma exímia. A trama se passa pós-batalha de 1999, quando Dracula foi definitivamente derrotado. Aria & Dawn of Sorrow também contam para o plot, o que significa que o game mobile se passa após os eventos desses dois jogos.

Genya Arikado (ou Alucard), está investigando um evento suspeito que pode ter relação com seu pai, Dracula. Aparentemente, os grimórios que registram toda a história do vampirão ao longo das décadas (e que, obviamente, possuem poderes mágicos) foram roubados e podem estar sendo usados para trazer o vilão de volta, de alguma forma. 

O protagonista então se junta a Lucy Westenra, que está estudando os grimórios. Vale dizer que os personagens jogáveis são diretamente retirados dos registros dos livros mágicos, o que justifica de forma crível e coerente a presença deles no game.

O ritmo da narrativa é um tanto lento (no que tange a trama principal), afinal, o jogador vai abrindo novos grimórios conforme passa pelas missões. Ainda assim, a aventura vale bastante a pena e os fãs mais antigos de Castlevania vão se sentir felizes com a forma como a mitologia e seus personagens são abordados neste novo game.

Vale mesmo a pena?

Tudo é feito com muita atenção aos detalhes: a jogabilidade moderniza elementos de jogos antigos e traz um novo fôlego para a franquia que até então, era (quase) sempre pautada no estilo MetroidVania; a presença de velhos personagens é completamente justificada e se encaixa bem na proposta; e as inúmeras mecânicas enriquecem o gameplay e instigam o jogador a terminar todas as missões e seus respectivos objetivos.

Além disso, a história é completamente nova e, mesmo os controles sendo digitais e os comandos feitos via touch, toda a interface é bastante amigável e “poluída na medida certa”, por assim dizer; já que os botões com as habilidades especiais e a energia e magia do personagem fica visível o tempo todo, distribuídos nos cantos do display.

Vale ainda dizer que é possível conectar um joystick via Bluetooth ao dispositivo móvel de preferência para jogar o game, o que pode tornar a experiência ainda mais prazerosa. Os gráficos e animações também rodam bem, mesmo em dispositivos intermediários - usei um LG K12+ para o review.

Por fim, Grimoire of Souls não está disponível no Brasil através das lojas oficiais Google Play e App Store e, portanto, não é possível encontrar o game em português-brasileiro. Ainda não existe previsão de quando o título será lançado em território nacional também, mas vale ficar de olho para aproveitar essa pérola da franquia.

 

Nota do crítico