Quando um novo game de uma franquia de sucesso deixa os subtítulos de lado e vai apenas com seu nome principal para uma nova entrada - o caso de Hitman -, a primeira suspeita é que se trata de um reboot. Mas o motivo por trás da decisão da IO Interactive de não incluir complementos como Absolution ou Blood Money neste jogo é bem diferente. Não seria exagero afirmar que o título é, na verdade, uma plataforma, que, a exemplo de Destiny, pretende manter os jogadores no universo de assassinatos do Agente 47 por todo o ano.

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A maneira de distribuição do título, que foge do convencional, acabou virando um chamariz (muitas vezes negativo) para o game, que terá seis mapas, cada um com seu pedaço do modo história, vendidos separadamente, com o primeiro, Paris chegando em 11 de março e os demais - dentre os quais figuram locais na Itália, nos Estados Unidos e no Japão - ao longo de 2016. Seria fácil rotular Hitman como mais um a entrar na moda de mercado dos lançamentos episódicos, mas, ao testar o game, dá para perceber que a estratégia do estúdio faz sentido.

Esta primeira parte do novo Hitman, que tivemos a oportunidade de testar no mês passado em um evento para a imprensa em São Francisco mostra que o foco do título em mapas grandes e densos, com a variedade de opções de infiltração, disfarce e assassinatos que se espera da franquia, complementada por um fator no qual reside, talvez, a principal aposta da IO: o conteúdo criado pelo usuário.

O título vai contar a origem do Agente 47. No prólogo, que convenientemente figura de tutorial e estará disponível para os jogadores durante a fase de testes beta que se inicia nesta sexta-feira (12), o personagem, ainda aspirante a assassino, precisa eliminar dois alvos: o primeiro, Kalvin "The Sparrow" Ritter, é um ladrão rico durante uma festa em um iate; o segundo é Jasper Knight, um enxadrista e espião da KGB protegido pelos soviéticos no meio de uma base militar em Cuba. As mecânicas permanecem, em boa parte, as mesmas. Para chegar até o alvo, é preciso contar com muitas trocas de disfarce - algo criado pelo próprio personagem dentro do universo de Hitman - e ter paciência para se movimentar entre as brechas deixadas pelas rotas de guardas, seguranças e outros inimigos existentes no cenário.

Uma vez que se incentiva a curiosidade de buscar jeitos diferentes de se infiltrar e assassinar, o jogo eleva os elementos do cenário à décima portência quando se chega ao primeiro grande mapa, Paris, no qual é preciso assassinar dois alvos: Viktor Novikou e Dalia Margolis, membros de uma organização de espionagem secreta e realizadores de um desfile de moda dentro do Palais de Walewska, uma suntuosa construção do século XVII ou XVIII, com direito a jardim enorme, vários andares e uma infinidade de cômodos. O local, além de gigantesco, é surpreendentemente denso. Mesmo depois de ter jogado a fase diversas vezes, ainda era comum encontrar um colega em um pedaço do palácio que eu sequer tinha visto, como um sotão ou uma adega.

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Desde a primeira missão, entretanto, o jogo nos encoraja a testar diferentes opções de assassinato. A fase do iate precisa ser jogada duas vezes e, na segunda, a ideia é testar métodos diferentes de ataque, que vão do sutil ao extravagante. Com tantos caminhos a se explorar, o jogo acabou colocando algumas dicas, intituladas de Oportunidades, para se aproximar do alvo. É a chance de se disfarçar de supermodelo e desfilar na passarela para, depois, ficar cara a cara com Dalia Margolis, ou vestir a roupa de um garçom e servir o coquetel favorito de Viktor Novikov - com um pouco de veneno, é claro. Ainda assim, o mapa guarda segredos e easter eggs que ficam longe do caminho proposto pela desenvolvedora - dentro do palácio, por exemplo, é possível encontrar uma fantasia de mágico em um local bem escondido.

Mas isso não significa que o jogo não tenha algumas incongruências curiosas. A quantidade de pessoas carecas como 47 é surpreendente - especialmente entre quem ocupa postos que o personagem pode usar de disfarce, como guardas e seguranças. A ação furtiva também segue regras que nem sempre fazem muito sentido: uma pessoa mais atenta pode te perceber e vai te seguir por um bom tempo caso continue desconfiada, mas a velha e boa moeda jogada no canto atrai qualquer tipo de guarda, que vai até ela sem desconfiar um pouco. E, embora a interface seja bem elegante, faz falta um sistema mais organizado que te avise o quão próximo você está de ser descoberto ou de escapar. A build disponível em São Francisco, ainda com diversas imagens de calhau nos menus, também estava um pouco instável em todas as plataformas, fechando o jogo com certa frequência e deixando de mostrar, vez ou outra, elementos do cenário como a cabeça de um dos convidados da festa.

Assassino e mandante

Fora das missões da história, a IO Interactive conta com os jogadores para manter os mapas do novo Hitman repletos de atividades mesmo meses após seu lançamento. Dentro do próprio mapa de Paris, foi possível testar o modo de Contratos, inspirado no sucesso do multiplayer de Hitman: Absolution. "Cerca de 30 milhões de contratos foram jogados em Absolution. É um número que nos impressionou muito", afirma Hannes Seifert, diretor da IO Interactive. A premissa ainda é a mesma, já que você pode tornar qualquer pessoa no mapa em um alvo, e, assim como no single-player, é elevada a um patamar muito maior de escala - só em Paris, há 300 NPCs que podem ser escolhidos. A ideia, mais uma vez, é estimular o desafio entre os jogadores, o que deu certo em Absolution - ainda mais em uma época em que é fácil compartilhar assassinatos impossíveis em vídeo. O contrato, claro, precisa ser jogado antes de ser enviado ao servidor, para evitar missões impossíveis.

Além do conteúdo criado pelo usuário, a IO também vai investir em dois novos modos multiplayer. O primeiro é o Escalating Contracts, que dá conjuntos de missões em dificuldade crescente adicionando elementos a se considerar no cenário. Já o segundo se chama Elusive Targets, e segue os moldes de eventos de tempo limitado, no qual você terá algumas horas para assassinar um alvo, com apenas uma chance. Se eles morrem, eles morrem, e se eles escapam, não há como encontrálos novamente. A ideia do estúdio é disponibilizar estas missões regularmente entre o período de lançamento de um mapa e outro. Estes alvos também terão um passado elaborado, mas que precisará ser descoberto pelo jogador por meio de conversas e pistas no cenário.

Paris, o primeiro mapa do novo Hitman, chega em 11 de março, com a parte inicial do jogo. Em abril, chega o segundo mapa, localizado na Itália. Em maio, sai o terceiro, no Marrocos. Daí, serão lançados novos conteúdos mensalmente, incluindo três novos mapas, na Tailândia, nos Estados Unidos e no Japão - este último terminará a temporada 2016 do game. A versão completa do jogo, em disco, com todos os mapas, será lançada no fim do ano - clique aqui para ver os preços de cada pacote.