The Walking Dead: Michonne | Crítica
Confuso e inconsistente, experimento da Telltale fica abaixo do esperado
Longe de The Walking Dead, sua franquia licenciada de maior sucesso, a Telltale decidiu retornar ao universo com um derivado de uma das personagens mais populares da HQ e da série: Michonne. Daí, surge The Walking Dead: Michonne, que mergulha no passado da assassina tão querida pelos fãs. Mas, enquanto o derivado é suficiente para nos distrair enquanto a terceira temporada do game não chega, ele também decepciona em diversos aspectos.
Após a resolução da edição #125 dos quadrinhos, Michonne (vivida aqui por Samira Willey, atriz de Orange is the New Black) desenterra fantasmas do seu passado e tem de confrontar o trauma de não ter conseguido salvar suas filhas. Como se a premissa não fosse sombria o suficiente, o texto também tem uma pegada muito forte de melancolia e sofrimento, quase como se fosse escrito para um jogo da série Max Payne. Estranhamente, isso se alinha muito bem com a personagem, realmente passando a impressão de uma pessoa arrependida, instável e talvez até sem vontade de continuar lutando.
O grande acerto da minissérie é na jogabilidade. Por mais que em essência seja a mesma dos outros adventures do estúdio, como Game of Thrones, Minecraft: Story Mode e o próprio The Walking Dead, a forma como o jogador interage com as cenas de ação é sempre tensa e frenética, sustentada por uma movimentação de câmera fluída que consegue te deixar vidrado e imerso. A forma como a ação é bem trabalhada é o suficiente para te carregar até o fim.
Porém, nem tudo é tão bem pensado assim, e, além da matadora, também há um pequeno elenco de personagens secundários que te acompanham durante a jornada. É uma pena que quase nenhum receba a devida atenção, com alguns até mesmo sendo mortos tendo trocado apenas poucas palavras com você. Ainda assim, o jogo tenta fazer um grande momento dessas cenas, mas é complicado para o jogador simplesmente se importar com personagens com as quais não se criou nenhum vínculo.
A situação fica tão crítica que o segundo episódio apela para a violência explícita na tentativa de causar algum impacto e, por mais que as cenas em si sejam boas, só acaba mostrando o desespero e despreparo da Telltale ao lidar com Michonne.
E esse não é o único erro dos desenvolvedores. Enquanto o estúdio tenha agilizado o lançamento dos episódios, com pouco mais do que um mês entre cada novo capítulo, o momento da publicação parece fora do ideal.
O arco que Michonne tenta esclarecer está muito distante de sequer ser mencionado na série, ao mesmo tempo que já teve encerramento nos quadrinhos com as edições #139 e #140, publicadas em março e abril do ano passado. Liberar o jogo agora, com mais de um ano de atraso, torna essa história que já não era grande coisa em algo irrelevante.
Acontece que, nos bastidores, as coisas também não parecem muito boas, com equipes inteiras – incluindo a direção – mudando entre episódios. Isso dá um tom inconsistente, como, por exemplo, ter um capítulo focado na melancolia do arrependimento da personagem principal e outro apenas com cenas de ação e sangue.
Essa inconsistência é ainda mais evidente na duração de cada episódio, onde um mal arranha os 40 minutos enquanto outro atinge uma hora e meia – ainda 30 minutos menor do que o padrão para jogos da Telltale. Vendo por esse lado, não é nenhuma surpresa ver a falta de desenvolvimento dos personagens: o estúdio simplesmente não deu tempo suficiente para que esses cresçam ao ponto dos jogadores criarem ligações com eles.
The Walking Dead: Michonne é uma bagunça. Ao mudar a equipe de desenvolvimento a cada episódio e brincar com a duração dos mesmos, é possível ver que a minissérie serviu apenas como um experimento para a Telltale. Além do mais não traz uma história relevante para seu público-alvo, seja os fãs da série de TV ou do quadrinho.
Enquanto a ação é feita com maestria – resquício do excelente Tales from the Borderlands – é bem difícil não sair dessa experiência com um gosto ruim na boca. No mais, eu só espero que alguma coisa de bom tenha sido extraída para a futura terceira temporada de The Walking Dead, a qual mais do que nunca carrega uma enorme responsabilidade em suas costas.
The Walking Dead: Michonne está disponível para PlayStation 4, PlayStation 3, Xbox One, Xbox 360, iOS, PC (Steam, GOG) e Mac (Steam). O game foi testado em um PC. Clique nos nomes das plataformas para conferir os preços do game.