Nos confins dos Estados Unidos, tudo tem um ar de sonho. Conway, um motorista de caminhão, é o protagonista de Kentucky Route Zero, um jogo que é cheio de mistérios e flertes com o realismo fantástico.

O título independente é obra da Cardboard Computer, formada por Jake Elliott e Tamas Kemenczy. Pelo Kickstarter, os dois conseguiram dinheiro para criar este jogo de aventura point-and-click dividido em cinco episódios - por enquanto, só saíram dois deles.

Conway trabalha como entregador de um antiquário. Certo dia, tem que levar um pacote ao número cinco da Dogwood Drive, mas não sabe como chegar lá. Depois de perguntar para todo tipo de pessoas, descobre que precisa ir pela Route Zero, estrada da qual nunca ouviu falar.

Durante as viagens do protagonista, é possível guiar seu caminhão (representado por um volante estilizado) sobre um mapa das rodovias americanas. Anotações sobre os lugares que Conway deve ir têm indicações de caminhos que poderíamos ver no cotidiano - "Siga até passar pela fábrica, vire à esquerda e, depois, à direita", "Pegue a 64 na direção nordeste e vire quando passar por aquela árvore que sempre está pegando fogo."

Não, não há problema nenhum em existir uma árvore pegando fogo. Nenhuma explicação é dada sobre esta e outras bizarrices durante o jogo, pois elas são consideradas normais, partes daquele universo. Os elementos fantásticos são incorporados à narrativa, criando uma realidade paralela que só existe para o desenrolar daquela história. A referência a Gabriel García Márquez está até no sobrenome de Shannon, personagem-chave do game.

Em todos os diálogos, é possível escolher entre duas ou três respostas. Isto pode ou não alterar os acontecimentos do enredo. Na maioria das vezes, o resultado final é o mesmo. Mas, assim como em The Walking Dead, da Telltale Games, as escolhas não servem para alterar o rumo da história, e sim para criar um protagonista cada vez mais seu. Pelas respostas que escolhemos para Conway, alteramos seu passado e seus pensamentos. Ele se torna único.

O que não falta em Kentucky Route Zero são oportunidades para refletir. Um dos momentos em que isto fica mais evidente está logo no começo do game. Conway liga um computador. Em vez de exibir arquivos ou pedir uma senha, ele implora ao jogador que insira ali um poema. É algo de bom para se pensar de vez em quando.

*Na seção Programa de Indie, os redatores do Omelete indicam jogos criados por produtoras independentes. As sugestões são publicadas de forma quinzenal - deixe a sua opinião e compartilhe outros games independentes nos comentários!