Wolfenstein: The New Order não tem vergonha de apelar para nostalgia. Por trazer de volta um dos clássicos do gênero de tiro, o título revive lembranças dos jogos de 1981 (Castle Wolfenstein) e 1992 (Wolfenstein 3D) das telas de escolha aos corredores claustrofóbicos. Essa abordagem soa honesta principalmente por funcionar com a linguagem moderna do roteiro da Machine Games - nazistas, experiências e monstros são atemporais. Por outro lado, o título sofre com problemas técnicos que tornam as sequências de ação medíocres e prejudicam a imersão do jogador em momentos cruciais da narrativa.

Entre esses percalços estão a renderização lenta dos gráficos, abaixo do padrão do final de geração PlayStation 3/Xbox 360. É comum, por exemplo, ver inúmeros objetos e texturas surgirem na tela sem aviso prévio. E por melhor que seja o roteiro e as referências espalhadas pela campanha de quase dez horas, não há como ignorar tropeços como este. No geral, o trabalho visual de The New Order é regular, pois tem excelentes conceitos artísticos (a nova visão do futuro nazista e o militarismo americano) mas uma série de problemas de execução.

O comportamento dos inimigos segue o padrão de qualidade gráfica. Durante boa parte do jogo, os soldados mais comuns são tão espertos quanto portas - enquanto alguns chefes fogem da curva e se mostram impossíveis de combater, principalmente quando em grupo. Para criar uma falsa sensação de dificuldade, o jogo inclui os clássicos drones e cachorros, presentes em outros títulos da franquia, mas não consegue equilibrar o desafio, apenas deixá-lo mais frustrante. Nos segmentos de furtividade essa disparidade fica mais evidente. Os inimigos avistam o jogador, mas decidem esquecê-lo. Dessa forma, o que deveria ser um diferencial para o ritmo de jogo, se torna um momento enfadonho.

Ainda que seja recheado de falhas como estas, o novo Wolfenstein tem controles bem definidos. Não chega a ser um shooter de primeira viagem com falhas clamorosas de jogabilidade, mas também não será um exemplo no segmento. A variedade de armas e a facilidade com que se domina todos os comandos tornam os tiroteios divertidos. Isso é melhorado por um sistema de cobertura simples e essencial para a regeneração paulatina - conseguir kits médicos não só ajuda a recuperar vida como a melhorar a situação de ataque.

O roteiro de The New Order é seu ponto alto, mesmo atrapalhado pelos pontos supracitados. Curiosamente, o texto do game exalta o lado humano do protagonista BJ Blazkowicz, deixando a sede por sangue, muitas vezes, em segundo plano. Dentro dos esconderijos da Resistência, que luta contra os nazistas, o jogador conhece mais da história e passa a se sentir na pele de BJ. As derrotas e vitórias dele se tornam pessoais, afinal, os coadjuvantes são tão 'vivos' quanto o personagem principal.

Wolfenstein: The New Order poderia ter de um selo de coragem, pois não carrega um modo multiplayer - fato raríssimo para um jogo de tiro atual. E ainda que possua uma enredo acima da média, os problemas espalhados pela campanha o caracterizam apenas como um retorno digno para a clássica franquia. Um título com falhas básicas, que por vezes ofuscam seu melhor lado.

A versão testada foi a de PlayStation 3.

Nota do crítico