Depois de adiamentos aqui e ali, The Division, a nova franquia da Ubisoft finalmente está nas mãos dos jogadores. O jogo de tiro em terceira pessoa com sistema de cobertura seria apenas mais um no montante, não fosse toda a sua interatividade online, que o transforma num tipo de MMO cheio de personalidade.

As comparações o perseguem desde antes do seu lançamento, e isso não pareceu prejudicá-lo, pelo contrário. Hoje, The Division ostenta o recorde de maior sucesso na primeira semana do seu lançamento como uma nova franquia, acumulando US$ 350 milhões. Não à toa, o jogo é bem divertido.

None

Com uma estrutura bastante simples (realizar missões, subir de nível, trocar de armas), The Division se destaca no cooperativo. Organizar um time com até quatro jogadores para realizar uma missão de dificuldade mais elevada e, pacientemente eliminar todas as ameaças de cada uma das áreas é reconfortante. No entanto, se a galera enloquecer e começar a correr pelo cenário desenfreadamente, saia da sala e procure novos amigos, simples assim.

Aliás, por falar em salas de espera de lobbies, isso não existe em The Division. Tudo é naturalmente inserido no design do jogo e não precisamos nos enclausurar numa tela de espera até que o time esteja completo. A procura por aliados acontece bem na frente de cada uma das missões principais e se o jogador quiser, nem precisa esperar ela acabar para começar a se aventurar.

Esse lance de cooperação pode parecer meio clichezão, mas o jogo não funciona como um TPS comum. Um tiro na cabeça do adversário não resolverá todos os seus problemas de imediato, já que os danos são contabilizados como se estivéssemos jogando um RPG. E um dos grandes problemas desse jogo é que às vezes ocorre um lag para contabilizar esse dano e as coisas ficam meio estranhas.

None

As mecânicas de RPG estão lá, mas vão surgindo para o jogador de acordo com a sua curiosidade dentro do game. É possível joga-lo quase inteiro sem sequer saber que segurando o direcional digital para a direita aciona a aba de munição especial (boa contra um certo tipo de inimigo), por exemplo. Ou pior, passar o jogo inteiro sem utilizar nenhuma das habilidades especiais ou talentos do personagem, que são destravados à medida que você vai completando missões especiais designadas por cores (verde, amarelo e azul).

Construir seu personagem em cima de um dos três atributos do jogo é a melhor forma de ser uma ferramenta essencial para seu time. Recursos médicos, tecnológicos e de defesa são apresentados como as principais missões do jogo. Ao fim de cada uma delas você ganha pontos para serem gastos em upgrades da sua base. Cada upgrade da base lhe concede novas habilidades (que podem ser usadas em batalha), talentos (passivos, mas precisam ser escolhidos e equipados) e perks (vantagens passivas).

É possível criar um agente focado em suporte para curar o resto da equipe e fornecer informações táticas do cenário em questão, ser o cara das invenções tecnológicas com granadas inteligentes e mini turretas, ou se preparar para denfender o time com barreiras móveis e explosivos pesados.

Ao todo são 12 habilidaeds especiais, cada uma com quatro upgrades possíveis, e somadas aos talentos de cada classe e aos perks, é possível a criação de personagens completamente individuais dentro do jogo. E se bem construídos, seu time de agentes fica muito mais capaz de enfrentar qualquer tipo de adversidade.

None

A narrativa do game é um tanto vazia. Ele é um tipo de jogo que explora a curiosidade do jogador para conhecer os fatos que o circundam. Encontrar celulares, documentos, câmeras de segurança, todas essas coisas o deixam mais por dentro do que aconteceu até o atual estado da cidade. As missões principais contém as principais peças do quebra-cabeça, mas as sidequests também revelam coisas interessantes. É a sua própria curiosidade que o deixará melhor colocado na trama. E tem também uns vídeos no YouTube, no formato de curtas live action que contam um pouco mais do "antes".

A escala do mapa de Nova York é enorme. Ir de uma ponta a outra, a pé, diga-se de passagem, é quase um martírio. A sensação de vazio em diversos momentos entre os traslados também incomoda um pouco, faz as coisas parecerem mais chatas do que deveriam. E não só as ruas, mas alguns edifícios e estabelecimentos podem ser explorados em missões. Uma das primeiras é dentro do Madison Square Garden, em vários dos seus andares.

O grande problema em The Division é a eterna repetição que jogo cria depois do término da sua "primeira parte". Quando você já tiver realizado todas as missões principais, erguido seus departamentos e evoluído algumas habilidades, o que acontece mais ou menos até o nível 10 (no máximo), você vai entrar nesse limbo de missões paralelas chatas e repetitivas até que consiga explorar de forma natural a próxima etapa do mapa, algo em torno do nível 16, mais ou menos.

Dá para enfrentar as missões com nível maior que o seu? Dá. Sozinho? Não. Mesmo com mais três integrantes com o mesmo nível a coisa não vai ser nada fácil, principalmente por causa dos chefes de fase. "Grindar" uns níveis e melhorar seu equipamento é essencial. Pelo menos, no que diz respeito a equipamentos melhores, temos a Dark Zone.

None

Um dos modos de jogo mais comentados de The Division é a Dark Zone. Tensão pura, meu amigo. Uma zona neutra, livre dos grilhões das regras de boa conduta. É permitido atacar outros agentes e você ainda pode ficar com o 'loot' da sua morte. Mas o jogador que fizer isso vai ganhar o símbolo de uma caveira em cima do seu nickname e ele será caçado pelos demais jogadores da Dark Zone.

As coisas que ouvia da Dark Zone não eram nada agradáveis. "Terra sem lei", "Ninguém se respeita lá dentro", "Todos são inimigos", "Você não vai durar um segundo lá", "Vai perder todos os seus itens", daí para pior. Intimidado o suficiente para me esgueirar por cada uma das esquinas daquela Manhattan sitiada, me aventurei. E não é que as coisas são bem mais de boa que eu pensava?

Sim, é possível o PvP, mas no geral todo mundo meio que se ajuda, mesmo os jogadores que não estiverem no seu time (pelo menos foi o que aconteceu sempre que entrei lá). É que os adversários locais da Dark Zone são muito fortes, e se você quiser melhorar seus equipamentos, precisa vencê-los. E como vencê-los sozinhos é muito difícil, todos acabam aceitando a ajuda de estranhos. Os itens são individuais, assim como em Destiny. Sem brigas.

E tem esse lance do tempo de espera para que o helicóptero de resgate entre em contato e receba seu pacote. Acontece que todos os itens adquiridos na Dark Zone só saem dela se o helicóptero de resgate buscá-los e enviá-los a uma zona de descontaminação. No instante em que usamos o sinalizador para avisar o dito cujo, TODOS, sem exceção, descobrem a sua posição no mapa. É preciso esperar por um minuto e meio até que ele aterrisse e você possa enviar suas coisas por ele, para fora da Dark Zone. Não existe tensão maior nesse jogo que esperar o maldito helicóptero em uma área aberta e suscetível a qualquer tipo de investida, humana ou da inteligência artificial. Dá vontade de chorar quando você perde seus itens por causa de um zé roela qualquer que atirou em você pelas costas.

Mas assim também é a vida.

A personalização do seu avatar tem espaço para crescer bastante, principalmente com a venda de cosméticos que não afetam a jogabilidade. Instalar acessórios ou construir suas próprias armas com a ajuda de blueprints faz com que seu arsenal torne-se cada vez mais pessoal e duradouro, principalmente no começo do jogo, em que suas armas não são lá essas coisas. A dica é sempre ficar de olho nos itens que você consegue durante as missões, sempre tem uma coisinha boa ali no meio.

The Division também agrada aos que já alcançaram os níveis mais altos do jogo. Repetir as missões na maior dificuldade do jogo é um desafio para poucos. As recompensas são muito boas e com todo o engajamento de jogadores que o jogo conseguiu, podemos esperar por boas surpresas durante o ano de 2016 para o game, com novas missões e tarefas coletivas.

The Division está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. O game foi testado em um PlayStation 4. Confira a página do game no Steam clicando aqui.

Nota do crítico