Fazer um jogo com a temática de One Piece deveria, por si só, ser um atrativo para um desenvolvedor curioso. A obra não é só uma das mais bem-sucedidas de todos os tempos, como entrou no Livro dos Recordes Guinness como o mangá com mais exemplares publicados no mundo (320,8 milhões). A variedade de personagens bem criados e estabelecidos; o bom humor e a elevação épica das histórias de Eiichiro Oda também são pontos que chamam atenção. Convenhamos, são atributos que colocariam um peso nos ombros de qualquer um.

One Piece: Pirate Warriors 3 esbarra em alguns vícios de design da própria desenvolvedora, a Koei Tecmo. Para compreender o porquê, é necessário entender o histórico da franquia mais conhecida da companhia, Dynasty Warriors. Baseada no livro chinês Romance dos Três Reinos, o jogo tem como objetivo derrotar hordas de inimigos enquanto administra missões específicas no mapa, que simula um campo de batalha. Ao atacar com os botões quadrado e triângulo (ataque fraco e forte), elaborando sequências de golpes e eliminando uma quantidade colossal de inimigos, é possível encher sua barra de ataque musou (golpes especiais capazes de eliminar ainda mais adversários).

Essa descrição se encaixa perfeitamente para Pirate Warriors 3. As poucas diferenças estão no sistema de evolução de habilidades por “moedas” que podem ser coletadas concluindo fases. Elas desbloqueiam ataques musou mais poderosos, aumentam sua defesa, capacidade da barrra de especial, defesa e outros elementos de administração de RPG que você já conhece. Mas nesse jogo, o incômodo maior está no modelo das fases.

Assim como nos jogos Warriors, todo aquele esquema de administração estratégica do mapa aparece aqui. A diferença é que a ambientação acontece durante um episódio importante do anime - geralmente o confronto com um chefe, a adição de um novo membro à Tripulação Chapéu de Palha ou o fim e o início de uma saga. Mas o formato de generais eliminando outros exércitos para conquistar territórios não se encaixa. Pelo contrário: se mostra um elemento ultrapassado que torna a motivação para todas as fases uma só: bater em inimigos para ir até o final. Pela justiça. Este é o objetivo de todo o musou, e, apesar de ser bem aceito por fãs do gênero, já não é mais tão criativo.

Também não demora muito para você ver objetivos repetitivos no jogo. Encontrar um “chefe” mais de três vezes no mapa e observar ele fugir para a parte final daquele nível no qual, finalmente, você pode derrotá-lo; escoltar certo personagem de uma parte a outra no mapa; limpar determinadas bases para seguir a progressão do nível: todas essas são missões frequentes. E não é exagero. Cada um desse tipo de objetivo aparece em todos os episódios - sim, todos.

Combate variado

Ainda que o formato das missões dentro dos níveis seja repetitivo, o que consegue te prender até o final das fases em Pirate Warriors 3 é o combate. E com mérito. Testar golpes e soltar os ataques musou nos inimigos é satisfatório. É um daqueles jogos que vai bem com um podcast ou uma música no fundo. Como dito lá em cima, cada personagem pode ter até dois ataques musou - desbloqueados conforme você pega as moedas. Junto a isso, aqui a característica de cada um é refletida na jogabilidade. Com Sanji, os ataques são rápidos, corpo-a-corpo e atingem uma área menor; já no controle da Robin, mais lentos, com alcance de área maior e mais potentes; Luffy, tem um equilíbrio maior, ataques de médio alcance/corpo-a-corpo com poder médio.

Uma boa influência de Dynasty Warriors é a animação no combate. Elas são coerentes com as características de cada personagem e mais: elevam o combate para a proporção épica tão comum nos animes. Esses são bons elementos que não chegam a ofuscar o tédio da repetição das missões, mas ajudam a te levar até o final.

A narrativa de Pirate Warriors 3 também é boa. No início de cada episódio, há uma descrição do que aconteceu até o momento daquela parte na história, seguida por quadrinhos e logo, uma cutscene na parte mais importante, criando o clima para quando o jogador irá controlar o personagem. Auxiliada pelos gráficos aceitáveis (dos personagens; dos cenários, nem tanto), as cenas de transição são boas. No final, até o leigo que nunca acompanhou One Piece pode entender os pontos pivotais e interessantes para a história do anime até agora.

Além do modo história e do modo livre, no qual você pode repetir as fases para coletar mais moedas, evoluir os personagens e até mesmo jogar com outro usuário online, há o modo mais intereressante: Dream Log. São ilhas aleatórias com objetivos e chefes também randômicos. Se você já concluiu a história e só quer fazer um grind para finalmente fazer todas as fases com o poder OP de Ace, é esse o modo. Mas, infelizmente, ainda assim aqui aquelas missõezinhas chatas e repetitivas da história também aparecem.

O formato de One Piece: Pirate Warriors pode dar sinais de cansaço, mas isso não deixa o jogo ruim. Afinal de contas, continua sendo um musou, um hack n’ slash despretensioso. As missões são sim cansativas dentro das fases, mas a satisfação de dar porrada em cem inimigos de uma vez consegue te carregar até o final dos episódios. O problema não é esse. Sem dúvidas, One Piece: Pirate Warriors 3 é um jogo divertido. Sem a presença de mapas genéricos e objetivos repetidos, poderia ser ainda mais.

Nota do crítico