A galáxia de Andrômeda está a 2.537.000 anos-luz. É uma viagem que, graças à tecnologia avançada estabelecida pela BioWare no mundo de Mass Effect, leva aproximadamente 700 anos. Durante todas as horas iniciais do mais novo jogo da franquia, Mass Effect: Andromeda, você é lembrado diversas vezes que está indo para o desconhecido, tudo é possível, não sabemos o que encontraremos. É um sentimento empolgante. Você é um explorador, é outra galáxia, quem sabe o que veremos e como isso afetará as mecânicas e história?

Jogamos como Scott ou Sara Ryder, irmãos que viajam para Andrômeda como parte de uma iniciativa feita em conjunto por cinco raças da Via Láctea para encontrar novos mundos habitáveis. Quando chegamos na nossa nova casa, descobrimos que algo ou alguém contaminou todos os planetas do sistema para onde vamos. Felizmente, por alguma razão misteriosa, os Ryders são capazes de acessar criptas deixadas por uma civilização antiga e "curar" estes planetas. Enquanto fazemos isso, uma raça conhecida como Kett está atacando tudo e todos, com o objetivo de tomar o controle da galáxia.

É uma ambientação fantástica para um jogo. A história tem uma premissa excelente que automaticamente gera curiosidade no jogador. Quando os personagens da iniciativa falam sobre a grandeza de explorar o universo, você automaticamente compra a ideia. Afinal de contas, você está - literalmente, através dos Ryders - pisando em novos planetas, descobrindo novas formas de vida. Qualquer pessoa com apreço pelas estrelas vai ter um brilho nos olhos quando o mapa galático está aberto e você pode escolher entre inúmeros destinos para visitar. Isso é empolgante, não?

A empolgação dessas horas iniciais, entretanto, acaba rapidamente. Conforme você começa a dar os primeiros passos na galáxia de Andrômeda, mais e mais vemos que, na verdade, estamos passando por processos muito familiares. Aqui está um mapa aberto cheio de atividades. Complete um número X delas, e você "limpa" a área. Isso não quer dizer que não existe competência nessas ações, ou que não seja possível se divertir em alguns momentos, mas chega um ponto onde Andromeda parece ter medo de ser algo a mais. 

Para um jogo tão apaixonado pela diversidade do universo, Andromeda é tímido nos conceitos que apresenta. Os planetas, apesar de serem incrivelmente bem construídos e, muitas vezes, visualmente impressionantes, são em sua maioria, vazios e clichés. Aqui está o mundo de gelo, e o deserto, e o de selva, e por aí vamos. As criaturas que você encontra nos novos mundos são raras e pouco criativas. As cidades e áreas populadas também têm pouco a oferecer. Há bares, lugares para comprar armas, e basicamente tudo que você espera. 

Não é como se essas coisas fossem totalmente desnecessárias - há uma certa beleza em ver certos padrões se repetindo em todo o universo - mas Andromeda sempre vende a ideia de descobrir o novo, o inesperado e o desconhecido. O que encontramos dificilmente se encaixa nessas categorias.

Esse problema é encontrado no gameplay também. 90% do seu tempo em Mass Effect será usando sua ferramenta de escanear ou se agachando atrás de algum objeto e esperando a hora de atirar nos seus inimigos. Obviamente a presença de combate é algo esperado, e o combate em si não é ruim - usar os combos de habilidades sempre te faz se sentir a pessoa mais poderosa do universo - mas mesmo com melhorias e novas armas, a repetitividade de encontrar uma base inimiga e passar um tempinho atirando e atirando até que o HP deles se esvazie é cansativa.

Andromeda, de fato, oferece um bom nível de customização no gameplay. Há perfis que afetam seu personagem de formas diferentes, diferentes habilidades para desbloquear em categorias como combate e tecnologia, diferentes membros para selecionar para o esquadrão (e cada um com suas próprias habilidades) e opções diferentes de bases para construir nos planetas descobertos. Se um RPG merece mérito por conta da variedades de coisas nas quais é possível colocar os pontos que você ganha ao passar de nível, então Mass Effect acerta em cheio nesse sentido.

Mas, como tantas outras coisas nesse jogo, a qualidade fica só na superfície. As habilidades dificilmente alteram o curso do seu jogo. Sim, elas afetam a ação do momento, mas nunca fazem uma marca no arco maior de gameplay que Andromeda tem. Talvez a forma como você mata os inimigos fique diferente ou mais rápida, mas no fundo, as mudanças são mais cosméticas do que mecânicas. A BioWare cria a ilusão de variação, mas na realidade, ela só muda a maquiagem. O mesmo se mostra verdadeiro nas bases instaladas nos planetas - elas podem ser científicas ou militares - já que elas raramente passam a ser algo além de um local onde você pousa. Os habitantes daqueles locais não têm personalidade e nem criam um sentimento de humanidade, e o impacto delas na história é mínimo.

Assim como os planetas que exploramos, a graça de Mass Effect: Andromeda fica, normalmente, na superfície. O único local onde isso não acontece é, como esperado, nos personagens. Mesmo com uma história que, francamente, nunca engata a marcha e fica interessante como o mistérios dos Reapers na trilogia original, Andromeda está recheado de figuras memoráveis, particularmente na sua nave, a Tempest. Peebe, Jaal, Cora, Suvi e os outros exploradores que te acompanham nesta nova galáxia quase são o suficiente para compensar pelas diversas falhas do jogo.

Cada um tem uma personalidade distinta, uma história pra contar, uma origem complicada e interessante. Suas interações, tanto com os Ryders quanto com os outros membros da tripulação, é sempre divertida, honesta ou convincente. Sim, a animação do jogo vai de mediana a terrível, como todos sabem, mas a dublagem dos personagens e a escrita dos diálogos é, em sua maioria, impecável. A única razão pela qual eu passei dezenas de horas em Andrômeda foi por causa deles, e suas missões de lealdade são os únicos side-quests que trouxeram um sentimento recompensador. As outras dificilmente passam de um "traga o objeto X para pessoa Y" ou "colete A quantidades do item B".

E finalmente, temos o multiplayer. Seu apreço por esse modo vai depender do quão divertida você acha que as mecânicas de Mass Effect são. Os modos são competentes e se juntar com um bom time normalmente leva a uma experiência divertida mesmo que vocês não consigam a vitória. É interessante notar que aqui, a variedade de estilos de jogo que raramente fazem uma diferença na campanha ganham um peso a mais. Um time variado é mais eficaz, e admito que a ideia de um Mass Effect cooperativo no estilo Ghost Recon não seria uma ideia ruim.

Mas por enquanto o que temos é Andromeda, e isso não é o suficiente. Apesar das qualidades em áreas específicas, o novo Mass Effect falha onde não podia. Esse é um jogo que, de maneira inacreditável, falta com criatividade. Nos planetas, nos tipos de missões, nas mecânicas e até na história. Estamos a 2.537.000 anos-luz, mas parece que não aprendemos nada e só repetimos os erros de outrora.

Mass Effect: Andromeda está disponível no PlayStation 4, Xbox One e PC. O jogo foi testado num PS4 normal. Clique no nome das plataformas para ver o preço das versões digitais.

Nota do crítico