Querer mudar algumas escolhas na vida, boas ou ruins, é um tema recorrente nos pensamentos de muitos. Para alguns, apenas saber a resolução de uma situação antes de tomar uma decisão já seria de grande ajuda e um objeto de desejo. E esse é um dos pilares de Life is Strange, jogo dividido em cinco episódios desenvolvido pelo Dontnod Entertainment e publicado pela Square Enix.

A premissa de Life is Strange é simples porém intrigante: a jovem e deslocada Max (Hanna Telle) descobre que tem o poder de voltar no tempo após testemunhar um assassinato no banheiro de sua escola. A partir desse evento e do misterioso desaparecimento de uma conhecida, a sua vida e a de seus colegas passa por uma série de mudanças, muitas delas decididas pelo próprio jogador.

Como é padrão dos jogos episódicos, Life is Strange  oferece opções de diálogo ao jogador que, na teoria, vão influenciar no desenrolar e eventual desfecho de sua jornada. “Na teoria” já que ao se aproximar do final do game, é possível notar como as mesmas deram apenas um senso ilusório de poder sobre a trama. O real controle está na maneira como você desenvolve as relações com seus colegas, potenciais interesses românticos, inimigos ou amigos.

Max é uma personagem complexa e bem desenvolvida, porém seria difícil aturar os momentos de marasmo do jogo caso o elenco de personagens secundários não fosse tão rico. Logo nos momentos iniciais de Life is Strange podemos ver algumas caras que se tornarão recorrentes até o final. Entre elas a provável favorita dos fãs, Chloe (Ashley Burch), sua amiga de infância envolvida no conflito do banheiro da escola, salva por Max quando ela descobre sua habilidade de voltar no tempo. Os coadjuvantes tem um desenvolvimento por vezes surpreendente, fazendo com que a imprevisibilidade da trama e suas surpresas venham dos pequenos mistérios guardados em suas ainda não reveladas personalidades.

Life is Strange é um jogo cheio de surpresas e reviravoltas, porém sofre do mesmo mal conhecido para aqueles familiares com Bioshock Infinite. Mesmo com grandes momentos, cenas emocionantes e alguns diálogos bem elaborados, o ritmo é deficiente, deixando o jogador à deriva em um inconstante mar de eventos. Não é difícil se encontrar em partes de marasmo, onde o motivador para passar por aquele desinteressante trecho é a curiosidade de saber onde o jogo está te levando ou como sua relação com determinado personagem vai estar ao final do último episódio.

O grande brilho de Life is Strange é a sua eficiência e sinceridade. Mesmo sendo problemático, o jogo não deixa de ser encantador ao se aproximar do jogador como um amigo, criando um vínculo afetivo muito forte. O mesmo se passa também com os personagens, cada um preso em seu mundinho de ideias e frustrações, tão bem transparecidas que é quase impossível não se identificar com eles. O título da Dontnod não ganhou uma legião de fãs atoa, mostrando que muitas vezes diversão não é tudo para se levar em consideração em games.

Mecânicas por muito tempo foram o foco da atenção dos jogadores na maioria dos games. Mas Life is Strange faz parte de uma leva onde as imperfeições de suas mecânicas, gráficos e trama são deixadas de lado ou tem seu peso minimizado quando o conjunto funciona mais como uma experiência pessoal e significativa, apostando mais na criação de uma relação entre jogador e produto do que no mero quesito “diversão”.

Life is Strange está disponível para PlayStation 4, PlayStation 3, Xbox 360, Xbox One e PC. A versão testada foi a de PC.

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