A evolução é algo inerente às sequências. Se existe a ideia de continuar uma franquia, parte-se do pressuposto de que o próximo capítulo deve superar e melhorar os conceitos de seu antecessor. Just Cause segue à risca este comando, e no terceiro capítulo a série se torna um bom exemplo do gênero de mundo aberto da atual geração de jogos - com os seus prós e contras.

Construído como um parque de diversões dentro de uma ilha paradisíaca, Just Cause 3 dá as ferramentas necessárias para horas de entretenimento. A Square Enix e a Avalanche Studios se empenharam em tornar o ambiente o mais interativo possível, para que as armas, veículos e qualquer outro instrumento do protagonista Rico fossem funcionais - e elas são. O herói latino é uma amálgama das habilidades de personagens como Batman, Homem-Aranha, Ezio Auditore, Indiana Jones e outros.

Dá para dizer que a maior diferença entre estes sujeitos e Rico é a história que os cerca, mas isso não seria justo com Just Cause, uma série que nunca se destacou pelo roteiro intrincado ou pautado na realidade. O enredo é um texto de filme B feito para dar ao jogador a oportunidade de executar as manobras mais malucas que um agente especial faria - e nisso Just Cause 3 é perfeito. Nenhum game, nem Grand Theft Auto V, consegue entender tão bem o seu papel. Aqui, a confusão e o caos são a prioridade.

O problema desta ordem é o prazo de validade. Não há dúvida que existem centenas de coisas para se fazer no jogo, mas até que ponto elas realmente são relevantes para a experiência? Em suas primeiras e divertidíssimas horas, Just Cause 3 é um título consciente de seu potencial. Depois disso, quando necessita de alguma profundidade para se estender, ele tropeça nos erros comuns do gênero de mundo aberto e esquece do contexto, atirando o jogador em um mundo de balas, mortes e explosões sem importância.

Uma montanha russa chamada Rico

A personificação do caos se chama Rico Rodríguez. Latino barbudo de língua afiada, o cara é um agente munido das melhores armas e gagdets que os humanos podem criar. Três delas são os pilares para a diversão central de Just Cause: o gancho, o paraquedas e o wing suit. A combinação dos três é o maior acerto entre as mecânicas do game. Andar pelo mapa gigantesco poderia ser cansativo, mas com esse trio, que é desbloqueado desde o início, fica mais atrativo conhecer a ilha de Médici.

E mesmo que depois de algumas horas as missões e a própria história de Just Cause 3 fiquem desinteressantes, passear pelo cenário nunca é chato. O que faz esta movimentação ser tão boa não é apenas a parte técnica, que neste quesito é quase impecável, mas a gama de possibilidade que o trio de gadgets oferece. Não se trata somente de voar, mas de ser criativo na hora da destruição. Jogar pessoas, barris, carros, postes, helicópteros e todos os objetos que estão ao alcance, enquanto atira, dirige, voa ou simplesmente caminha. Rico pode fazer isso tudo ao mesmo tempo, Just Cause permite, basta o jogador organizar as ideias.

Existem também vários veículos para se locomover. O controle de todos eles, inclusive dos aéreos, são muito bem executados. Nada de passar horas para aprender a controlar um helicóptero ou um jato. Alguns minutos deixam o jogador a vontade em dar alguns rasantes nas bases militares da ditadura controlada pelo General Di Ravello.

Uma bela ilha cheia de gente vazia

Médici, o país de origem de Rico, é o cenário das explosões de Just Cause 3. Situada no Mediterrâneo e controlada por um governador maníaco, o local é uma mistura dos arquipélagos luxuosos da América Central com o litoral de Miami, e um pouco do interior do leste europeu. Tudo refeito com uma arte particular e despreocupada com qualquer fidelidade - melhor assim, pois condiz com toda a proposta do jogo.

Enquanto os cenários esbanjam beleza, os habitantes de Médici funcionam como um reflexo dos prós e contras do jogo. Ninguém tem carisma ou o senso de humor necessário para se tornar remotamente memorável. Seja um colega de Rico ou um inimigo mais caricato, todos personagens proferem piadas rasas e possuem arcos bem previsíveis. E diferente das boas produções B em que se inspira, Just Cause 3 carece de um senso de humor auto depreciativo refinado.

Rir do próprio ridículo requer uma habilidade que a Square Enix e Avalanche não tem e isso deixa o game sem alma. Não é preciso se relacionar com os personagens para se divertir, já que as mecânicas suprem esse vazio; mas tornar aquelas pessoas agradáveis faz o fator de replay do jogo aumentar. Em outras palavras, é preciso mais do que explosões e algumas horas de voo para fazer a jogatina se tornar atrativa a longo prazo.

E como todo e qualquer título de grande escala, Just Cause 3 sofre com problemas de desempenho. Eles, porém, não atrapalham a experiência. Existirão explosões com algumas quedas de frame rate, umas travadas em colisões ou uma tela quadricular - nada que ninguém já não tenha suportado em outro game do gênero. O problema central, por outro lado, é a demora nas telas de carregamento; justificada pela extensão do mapa, sim, mas enfadonha de qualquer jeito. Em termos técnicos, o título tem um desempenho satisfatório, já que o intuito final é não atrapalhar a experiência.

Este é um jogo que traz muito da última geração de jogos de mundo aberto. Infinitas possibilidades, missões repetitivas, mapa deslumbrante e material sem fim para montagens no YouTube ou coisa parecida. Just Cause 3 é ciente de sua galhofa, de seus absurdos e até do vazio em seus personagens. Isso tudo, ao lado de mecânicas bem executadas, é o motivo maior da diversão honesta proporcionada pelo game da Square Enix.

Just Cause 3 está disponível para Xbox One, PlayStation 4 e PC. O teste foi feito no PS4.

Nota do crítico