Guilty Gear é um jogo de luta que não se parece muito com os clássicos Street Fighter ou Mortal Kombat. Claro que bebe das mesmas referências, mas por carregar um visual mais característico japonês, ele automaticamente se volta para um nicho. O mais recente título da franquia, Guilty Gear Xrd - Revelator -, apesar do nome ruim, é um dos melhores jogos de luta da geração e não pode permanecer desconhecido.

O grande problema da Arc System Works, desenvolvedora do jogo, sempre foi o jeito como ela lida com continuações. O revival da série nos arcades aconteceu em janeiro de 2014. Em dezembro, o novo Guilty Gear foi portado para os consoles da Sony, e já em maio de 2015, anunciaram uma nova versão do game, exclusiva para os arcades. O canibalismo com os próprios jogos da empresa existe desde os seus lançamentos no PlayStation 2, e não deve parar.

Apesar desse grande desse tropeço, GGXrd Revelator deu continuidade ao belíssimo trabalho realizado no game anterior, e conseguiu deixar o jogo ainda mais bonito com a mesma técnica ninja secreta do cel-shading mágico e o motor gráfico Unreal 3.

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A sensação de estarmos jogando uma animação é incrível. Tudo 2D, mas com câmeras móveis que mudam os ângulos em determinados golpes, aumentando a dramaticidade e deixando tudo mais estiloso. Estilo este, que é um dos pilares para a criação de um jogo, de acordo com a visão do pai de GG, Daisuke Ishiwatari.

Guilty Gear nunca foi um jogo simples. Ele nunca foi pensado para ser acessível, desde a sua origem lá em 1998. Maior sinal disso é o seu layout de botões um tanto quanto bizarro, mesmo para os padrões atuais. Soco fraco, chute fraco, ataque com espada, ataque mais forte com espada e o "Dust", que faz as vezes de launcher (lançador de combos aéreos), rasteira forte e outros gimmicks (depende do personagem), formando um conjunto de cinco botões.

Mas isso não é motivo para temê-lo. Revelator conta com o melhor tutorial já criado para jogos de luta desde, sei lá, Skullgirls (que era muito bom também). Do básico ao avançado, didático e divertido ao mesmo tempo, é um ponto de parada obrigatório até mesmo aos que já conhecem o sistema de combate.

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O tutorial apresenta seus exemplos e coloca o jogador para executar cada um dos passos ensinados. Ele vai do básico, explicando o conceito de um combo simples (sequência de botões), apresenta as variadas formas de defesa, barras de ataque, de vida, movimentação com dashes, golpes especiais, tudo mesmo.

As informações são mostradas no formato de mini games originais e super ilustrativos. Um trabalho primoroso do time de criação, que prefere ensinar o jogador a entregar um sistema automático de combos sem inspiração, que está lá também, diga-se de passagem, para evitar possíveis reclamações (escolha aprender, muito melhor).

Além de tudo isso, os tutoriais avançados ensinam o jogador até certos match-ups específicos. Como se aproximar de Faust, como evitar ser atacado no ar pela Jam ou fugir dos setups de agarrão do Potemkin. É muito amor pelo jogo e pela comunidade de jogadores no geral.

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Outro grande update de Revelator diz respeito ao lobby do modo multiplayer. Não sei se é o desejo do jogador criar seu avatar e explorar um mundo virtual como se fosse um MMO, mas é engraçado porque parece um simulador de fliperama. Isto, claro, se as máquinas ficassem no jardim de uma mansão e fosse possível pescar itens de personalização de uma fonte bem no meio do jardim.

Online, o jogo divide o globo em regiões, melhorando o netcode entre os jogadores. Infelizmente a América do Sul não está listado no mapa, mas é possível ter uma conexão perfeita com jogadores brasileiros e algo entre o bom e mais ou menos (com raríssimos casos de "muito bom") se jogarmos nos servidores mais próximos da América Central, contra americanos e demais conterrâneos do continente. O trabalho do netcode em Revelator é de se aplaudir de pé, mas não faz milagres: nenhum jogo de luta tem netcode perfeito contra jogadores de países muito distantes.

À primeira vista, são poucas as diferenças entre o jogo anterior e Revelator. O balanceamento das partidas, um novo layout para a tela, melhorias gráficas aqui e ali e o mais importante, a continuação da história e o acréscimo de cinco novos personagens, três inéditos na franquia. tudo isso poderia muito bem ser um DLC de conteúdo, mas não é.

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O modo história do jogo continua a ser apresentado da mesma maneira que antes, no formato de um grande longa metragem. Os dizeres "Você não precisará de controle para se divertir no modo história" é uma jogada arriscada da empresa, afinal estamos falando de um jogo de videogame, e a interação do jogador com o que ele está assistindo é o mínimo que se exige. No entanto, o modo arcade tradicional está disponível também para quem quiser escolher um personagem e conhecer um pouco mais à seu respeito, com aberturas e encerramentos animados com os gráficos do jogo em tempo real.

O longa animado do modo história é dividido em capítulos e narra a segunda parte da aventura iniciada em -SIGN- (que não é o começo, mas sim uma continuação do que foi visto até o final da série no PlayStation 2). Não é preciso se assustar, porque esse retorno da franquia vem equipada com um glossário que traz todas as informações necessárias para aquele jogador mais exigente de detalhes. E novamente, tudo animado em tempo real com os gráficos do jogo.

Os novos personagens marcam o retorno de dois ícones da série, Jhonny Sfondi e Jam Kuradoberi, que foram transportados dos seus tradicionais sprites aos novos gráficos do jogo, de forma impecável. E os novatos Jacky-O Valentine, Kum Haehyun e Raven não fazem feio também.

Jacky-O é uma garota bizarra que veste uma máscara e assume uma personalidade completamente bizarra quando luta. Ela se utiliza de minions, forçando o jogador a elaborar estratégias mais complicadas para lidar com o tempo necessário para esses colaboradores tornarem-se mais fortes durante o round. Kum Hayehyun é na verdade um robô controlado por uma garota dentro dele. Ele é um dos personagens que mais exige um refinamento técnico do jogador para o seu melhor aproveitamento, não muito recomendado para iniciantes. Raven é um personagem mais fáicl, com braços longos e uma vontade incontrolável de sentir dor, muita dor. Sua mecânica específica, uma barra que é preenchida à medida que ele apanha, dá novas propriedades aos seus golpes, como juggles ou maior dano.16

Guilty Gear Xrd Revelator é um jogo excelente. Ignorado por muitos, é verdade, mas de uma consistência que poucos alcançam. O game mal saiu e já está escalado para ser um dos principais títulos da disputa do Evolution 2016, o maior campeonato de jogos de luta do globo. Chance melhor para conhecê-lo não existe.

Lançado no dia 7 de junho, o game foi testado em um PlayStation 4, mas está disponível também no PlayStation 3.

Nota do crítico