Gears of War 3 | Crítica
O fim da trilogia de Marcus Fênix garante coerência absoluta à série
Gears of War 3 chegou às lojas como o mais aguardado jogo da série, algo que o recorde de pré-venda não nega. Mas quase foi expectativa demais para um jogo cuja campanha é inferior à do irretocável segundo game da série.
Gears of War
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No desfecho da trilogia de Marcus Fenix, a COG não existe mais. A força militar que outrora controlou Sera está espalhada em pequenos grupos, que lutam desesperadamente contra dois poderos exércitos: os Lambent e os Locust. Marcus, Dom, Baird, Anya, Cole e os demais ex-integrantes da COG mais sobrevivem que efetivamente atuam como a máquina de guerra que um dia foram. Até que surge a esperança de uma resolução para o confronto, no retorno (extremamente dispensável, já que tira a relevância de fatos passados) de um importante personagem do primeiro game.
A campanha começa muito bem, com ação em larga escala a bordo da nave que serve de refúgio para os humanos desertados da superfície de seu planeta. É Gears of War na sua melhor forma, com monstros gigantes, exércitos invasores e excelente design de conflitos (talvez até bom demais, já que basta observar o cenário para saber de onde virão os oponentes e onde se esconder). A seguir, o jogo realiza um salto narrativo interessante, mostrando a resolução da mesma cena por outro ângulo - com outro grupo de soldados (liderados por Cole).
Os primeiros atos são dedicados ao desenvolvimento dos personagens, dando pequenos momentos de intimidade a cada um e mostrando até vislumbres de suas vidas pré-devastação ("Cole Train" no centro dos holofotes). Nada que atrase demais o tiroteio e festivais de lancers cortando a carne dos oponentes, porém. O foco do game continua mesmo na construção de sequências de ação como poucas na indústria.
O problema é que o ato final, que inclui a invasão de uma instalação secreta, é muito menos épico do que o início. Todas as situações são repetições de eventos anteriores. Até o último chefe é menos interessante que outros encontros ao longo do game. Gears of War sempre foi inteligente ao apresentar criaturas de fim de fase que tinham comportamento mais orgânico do que os outros jogos do mercado - então por que o monstro derradeiro da trilogia parece tão robótico, realizando sempre os mesmos movimentos e agindo da mesma forma durante longos minutos? Continua também a mania de taquigrafar os combates - basta entrar em um cenário amplo, com caixotes dispostos de forma a criar boas coberturas, para saber que os inimigos virão a seguir. Não há surpresas em Gears of War 3 que não estejam nas cutscenes.
A dramaticidade parece gratuita também. Um dos personagens mais importantes da série encontra seu fim de maneira um tanto anti-climática. Os COGs já sobreviveram a ataques muito piores nos demais games. Parece que a equipe sentiu-se compelida a matar alguém só porque isso seria esperado em um desfecho. O herói certamente merecia um fim mais elaborado.
Ao menos há boas ideias em relação à mitologia da série, que efetivamente fecham a primeira trilogia de Gears of War. Como prometido, a trama não tem ganchos ou termina com promessas de um novo capítulo. Os três Gears funcionam muito bem como uma aventura épica. E se o novo game não traz grandes novidades na jogabilidade da campanha, ao menos ajuda a série a firmar-se como uma das mais concisas já criadas. Gears of War 3 é um novo capítulo e um desfecho, mas o mesmo game de sempre.
Visualmente, a série continua a impressionar. A variedade de cenários faz um apanhado do que conhecemos dos anteriores e apresenta alguns novos. Somos levados às profundezas dos oceanos de Sera, aos acampamentos dos "Strandeds" (os humanos esquecidos pelas autoridades, que lutam diariamente pela sobrevivência), à devastação gerada pelo governo e ao luxo das instalações que serviram como último recurso aos poderosos. Os cenários são detalhadíssimos e inspiradores, pensados para encontros de proximidade (os lambent-zumbis são uma novidade bem-vinda), média e longa-distância. Ação para todos os gostos e um elemento até então inédito à série: beleza. O último ato tem uma das melhores iluminações que já vi em um jogo, reforçada pelos disparos da mesma criatura que mencionei anteriormente. Pode ser enfadonho enfrentá-la, mas é certamente lindo fazê-lo.
O maior problema de Gears of War 3 é a qualidade de Gears of War 2. Não é fácil superar um game que beirou a perfeição dentro do que se propôs fazer - e o desfecho da trilogia não obtém a mesma sensação de grandeza que seu antecessor. Pense em O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi (sem Ewoks). Há momentos incríveis, mas as surpresas e o brilhantismo da anterior jamais serão superados com um final que precisa evocar sentimentos e a sensação de que tudo terminou... pelo menos até a próxima trilogia.
Mas se a campanha não agregou novidades, o mesmo não pode ser falado a respeito do que equilibra a balança e vai manter os jogadores com Gears of War 3 dentro de seus Xbox 360 pelos próximos meses: o multiplayer. As melhorias nos modos online foram substanciais - graças a uma fase Beta que inexistiu no segundo game. Jogar novamente o título com mais três amigos online é diversão garantida, especialmente considerando o desafio dos níveis mais difíceis. Há também um novo modo Horde, o 2.0 (que mistura Horde com o gênero "tower defense", com pontos adquiridos para reforçar defesas), melhor balanceamento de armamentos e uma adição interessante no arsenal de granadas: a Ink Grenade agora atordoa os inimigos que estavam perto do ponto de impacto. Os mapas também foram melhorados em relação aos que estavam no disco de Gears of War 2, aumentando as possibilidades estratégicas. Já o "Beast Mode" inverte a ação, colocando o jogador como um Locust em desafios de ondas de inimigos, em que pontos liberam criaturas mais poderosas. Pra completar, o versus incluiu 10 mapas multiplayer com vários modos, para manter os jogadores interessados durante meses, incluindo um Team Deathmatch excelente, que inclui apenas 20 respawns por equipe (prepare-se para infernizar aquele amigo que teima em morrer demais). Quando eles acabam, viram uma luta pela sobrevivência homem-a-homem (ou a Locust).
Enfim, com uma campanha inferior e sem surpresas, jogabilidade intacta (o que mantém um senso de absolua unidade à série, poucas vezes visto em games de tiro) e multiplayer em que houve extrema dedicação, Gears of War 3 consegue encerrar a trilogia como uma das maiores séries de ação da história dos games.