Dead Space 3 | Crítica
Com foco no cooperativo e na ação, game diverte nos desmembramentos
Há certos elementos que configuram um game de sobrevivência. Talvez o mais importante entre eles seja a sensação de que a vida do seu personagem está realmente em risco, em todos os minutos. Para tanto, uma das mecânicas mais utilizadas (e necessárias) é um amálgama entre cenários atmosféricos e escuros e falta de recursos. Ou seja, quando há poucas balas e menos armas brancas disponíveis, também existem mais oportunidades de ser morto. A tensão não acontece somente quando o oponente aparece sorrateiramente na sua tela, mas antes mesmo de encontrá-lo, ao virar uma esquina, ou abrir uma porta.
Dead Space 3

Dead Space 3

Dead Space 3

O foco da franquia Dead Space sempre foi criar uma mistura entre ação e sobrevivência. No caso de Dead Space 3, somente o primeiro permanece. Isso não significa que não haja tensão, mas ela pode ser aplicada em outra categoria: a comoção com o susto e a necessidade de enfrentar inimigos que se aglomeram em cima do protagonista. É neste ponto que a parte jogável do título faz uma alteração um tanto excessiva, o que pode causar estranheza nos jogadores e, até mesmo, frustração.
Necromorphs e Unitologist
Com a ação em mente, a jogabilidade é alterada em diversos pontos, não só em apresentar tantos recursos que o jogador mais veterano pode preferir alterar a dificuldade do game (tente começar direto no modo Hard), mas também em introduzir uma dinâmica de tiro, conhecida no Brasil como "muro". Isaac Clarke deve batalhar não somente os necromorphs, mas também contra um grupo de fanáticos, devotos da chamada Unitologia, que pretendem ativar os Markers, acreditando que a fusão com os alienígenas seja um tipo de evolução.
Como os novos vilões são humanos, eles utilizam o cenário para se protegerem antes de atirar. A mecânica ficou muito conhecida nos consoles em títulos como Gears of War ou Mass Effect, mas foi criada de uma maneira desengonçada em Dead Space 3. O ponto alto é que são raras as ocasiões em que você se depara com o grupo e os necromorphs permanecem como antagonistas. A escolha questionável é de apresentar a nova jogabilidade logo no primeiro capítulo, antes mesmo de Isaac executar o que faz de melhor: desmembrar alienígenas.
Onde está a diversão
E por falar neles, espere por muitos dos rostos desfigurados que você já viu nos jogos anteriores, e por algumas anomalias enormes e altamente aniquiladoras – as batalhas de chefe ficaram especialmente bem feitas. Como sempre, é divertido poder chutar os corpos dos inimigos abatidos. Mais do que isso: depois de ter um momento de pânico quando os vilões aparecem inesperadamente e atacam sem piedade, é prazeroso ver o sangue deles jorrando. É a certeza de que eles não vão se levantar. Neste sentido, Dead Space continua tão imersivo como sempre e a sensação de urgência permanece. Assim, mesmo que o uso somente de ação seja o maior problema do game, é também a sua salvação, é onde o jogador vai se alegrar.
Nem todas as mudanças prejudicam o jogo. A melhor novidade aqui é a possibilidade de alterar e criar armas. Mesmo que o número de armamentos que Clarke pode carregar em cada missão esteja menor, o novo sistema é robusto e tem consequências na exploração. Caçar partes e materiais é uma necessidade, o que faz com que o jogador tenha que explorar cada canto das locações.
Foco no cooperativo
Há momentos impressionantes no game, bem como belas viagens pelo espaço. Contudo, há menos cenários, o que significa maior pobreza de lugares. Some a isso a equação "crie ou altere armas, lute, resolva quebra-cabeças, descubra mais da história" e muitas vezes o jogo pode parecer repetitivo. Talvez eliminar uma ou duas fases - nitidamente ali apenas para inchar o tempo de jogo - e talvez a experiência ficasse mais próxima da perfeição.
Vale notar que o título foi construído para ser jogado no modo cooperativo, então aposte nesta fórmula. Quem se aventurar sozinho não vai compreender todas as motivações de Carver, parceiro do protagonista, nem entender muito bem o que acontece na trama dele. Mesmo porque, em termos de narrativa, Dead Space 3 deixa muito a desejar. Você irá se apaixonar pela mitologia, pelo universo da franquia (se já não está apaixonado), mas não pelo roteiro, que é raso, e um tanto forçado. Os eventos se desenrolam como em um livro mal escrito de mistério, em que as peças se encaixam por conta de eventos inacreditáveis. Porém, todas as lacunas são preenchidas quando o game é experienciado com um amigo. Há uma breve cena depois dos créditos, que complementa o todo.
Dead Space 3 não é um jogo ruim ou regular. Somente destoa do que já foi criado na franquia. É um aglomerado de momentos grandiosos, com cenas dispensáveis e muito tiroteiro. Para os jogadores menos preocupadoscom a parcela de sobrevivência, o game diverte e é satisfatório. Para os aficionados pelo horror, que tinham na série uma tábua de salvação em um mercado que cada vez mais busca abrangência de público e menos profundidade do gênero, o título decepciona. Pelo menos os desmembramentos continuam lá.