Crítica: Medal of Honor
Na guerra pelos jogos de guerra, EA ainda é a "força opositora"
A Electronic Arts já teve em suas mãos o domínio do mercado de jogos de tiro em primeira pessoa com a série Medal of Honor. Mas a fórmula ficou batida e a série foi superada pela sua concorrente imediata, Call of Duty, que deixou de lado o tema da Segunda Guerra Mundial para se concentrar nas guerras modernas. O resultado foi fenomenal, com a Activision, dona de Call of Duty, batendo recordes de vendas com os dois elogiados jogos da linha derivada, Modern Warfare.
Agora, a EA quer retomar esse domínio com o reinício de Medal of Honor. Mas sua própria atualização de temática - três anos depois do último game da franquia - ainda precisa ser aperfeiçoada se a empresa quiser mesmo fazer frente ao colosso de Call of Duty...
Medal of Honor
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O novo game deixa os conflitos de ontem para se focar nos confrontos atuais. A decisão de colocar nos consoles a guerra corrente no Afeganistão, com soldados dos EUA contra o Talebã, é polêmica. Primeiro pela própria natureza dessa guerra: é fácil encarar nazistas na França ocupada em 1944, mas não é nada agradável mergulhar em um contexto político questionado mundialmente.
A Electronic Arts pode ter sido corajosa com essa ambientação realista, mas a Activision foi mais esperta, dando aos soldados inimigos e situações ficcionais. Afinal, o que fazer quando nem os próprios estadunidenses e seus aliados estão felizes com um jogo que deveria servir como uma exaltação de seus feitos "heróicos" além-mar? Até o exército dos EUA e o Secretário de Defesa do Reino Unido, Liam Fox, pediram por um boicote ao jogo, alegando que ele não respeita os soldados em combate, já que no modo multiplayer é possível jogar como o Talebã. A EA rapidamente respondeu essas críticas mudando o nome dos antagonistas no game multiplayer, que passaram a se chamar "força opositora". Mas o estrago já estava feito e nem o final ufanista da curta campanha (apenas 4-5 horas), que, num fundo cheio de explosões, exalta os feitos dos soldados que estão "bravamente defendendo a pátria no Oriente Médio", conseguiu salvá-los do falatório.
Para que se defrute de verdade de Medal of Honor deve-se deixar a política de lado, portanto. Mas nem assim há uma superação do que já foi conquistado em termos de jogabilidade/diversão por Call of Duty: Modern Warfare 2, comparação imediata de público, crítica e mercado (se a EA buscasse distinção, não teria copiado botão por botão os controles do concorrente).
Ainda que os cenários estejam excelentes, o novo Medal of Honor sofre com problemas de áudio e pequenos bugs visuais (a versão testada foi a de PlayStation 3). Texturas são perdidas e som fica picotado em diversos momentos. Para um jogo que visa encarar outro que já tem mais de um ano nas prateleiras e quer fazer frente ao próximo capítulo da concorrência (CoD: Black Ops), isso é inadmissível.
Em termos de estrutura de história, o game vai relativamente bem, alternando a perspectiva dos combates por três grupos de elite do exército dos EUA. Todos os diálogos e situações tiveram consultoria de militares que estiveram no front, o que garante a sensação de realismo desejada pelos desenvolvedores (ainda que possa confundir o jogador com tantas gírias militares). Mas a história em si é superficial, limitando o desenvolvimento de um dos protagonistas, por exemplo, a um esfregar de pé-de-coelho (daí seu codinome, "Rabbit").
Ainda que variadas, as missões lineares limitam-se aos temas clássicos do gênero: defenda posição, ataque posição, marque objetivo para bombardeio, etc. Nada de novo aqui - e o que é tentado como algo inédito, o passeio de triciclo pelo Afeganistão, por exemplo, beira o ridículo. Como acreditar em uma missão de infiltração a bordo de uma barulhenta moto? Pelo menos há a excelente trilha sonora de Ramin Djawadi (Homem de Ferro) para embalar a atmosfera
Mais divertidos e desafiadores são os modos multiplayer. Novamente, não há grandes inovações neles. Mas as partidas de "team deathmach" foram complementadas com modos como "combat mission", em que a cada objetivo alcançado, novas áreas do mapa surgem, com novos objetivos e reforços (para vencer, a equipe deve conquistar cinco objetivos consecutivos) e pontos são distribuidos pela participação e feitos. Não há campanhas cooperativas, mas é possível jogar no modo Tier 1, em que as missões devem ser realizadas no menor tempo possível para que a marca seja gravada no servidor do jogo, onde amigos podem comparar suas performances.
Se tivesse sido lançado há um ano e meio, Medal of Honor seria um ótimo jogo. Mas com o atual mercado do gênero, o título peca pela falta de criatividade e polimento. Parece que o mercado, pelo menos por enquanto, continuará nas mãos da Activision, portanto.