Crítica | Gears of War: Judgment
Atmosférico e divertido, mesmo sem Fenix ou Santiago
Entre os pontos altos da franquia Gears of War estão sua quintessencial mecânica de tiro (que se tornou algo a ser estudado e seguido para quem desenvolve jogos para consoles), gráficos que passariam por um belo filme, e uma história heroica, em que arquétipos são bem traduzidos em simbologias contemporâneas
Em Gears of War: Judgment, a narrativa desvia o foco do protagonista de games anteriores, Marcus Fenix, para explicar o conto do esquadrão Kilo e sua participação no início da guerra entre a humanidade e as forças invasoras dos Locust. Esta alteração resultou em uma certa desconfiança por parte dos jogadores, mas, no final das contas, provou-se interessante.
Ainda que os novos protagonistas cumpram o seu papel, o problema do game é justamente o enredo, que apresenta alguns clichês mal resolvidos. Se, por um lado, a ideia de trocar o avatar do jogador entre as missões é interessante - cada personagem tem suas inspirações, visões, e contam com gênero e raça diferentes -, por outro, a história central traz resoluções batidas. Não há grandes reviravoltas, ou momentos fortemente emocionais, como o fã de Gears of War está acostumado. Isto é, o universo plural da franquia fica muito mais como um pano-de-fundo estendido na trama, sem inovações, mesmo que existam alguns ambientes novos, como a Academia da Guarda Onix.
Vale notar, no entanto, que a mudança na parte narrativa aumenta as possibilidades interativas. Não que personagens diferentes possam empunhar armas únicas ou algo assim (o que pode ser até considerado uma maneira inclusiva de olhar para os novos personagens), mas a oportunidade de observar comportamentos diferentes é divertida. Como o esquadrão enfrenta um julgamento, a desenvolvedora criou uma bela maneira de aumentar o desafio das fases (e também a vontade de jogar outra vez): a cada testemunho, é possível incluir uma fala extra. No começo de cada estágio é possível selecionar um novo factoide, como "não tínhamos visibilidade" ou "os oponentes eram mais espertos do que imaginávamos" etc. Assim, o jogador ganha uma nova maneira de encarar a mecânica.
Todo tipo de abate e condecoração rende pontos e quando a dificuldade é aumentada, os pontos são acumulados mais facilmente. Dessa maneira, extras como uma nova campanha singleplayer ou um modo multiplayer são muito mais valiosos do que os consagrados troféus ou conquistas para mostrar aos amigos. Tornam-se recompensas suculentas e aumentam a gane de realizar um jogo perfeito, completo e premiado. Esse novo sistema rende aos velhos fãs uma impressão de novidade.Também em termos de multiplayer, o modo OverRun (em que jogadores podem se separar entre os times de COG e Locust), também deve colocar o game entre os mais jogados da Xbox Live Arcade, como é costumeiro para a saga, principalmente por conta da variedade na hora de escolher personagens e novos papéis, como Medic (médico) e Scout (batedor).
Na parcela técnica, o título continua extraordinário. Como o mundo acaba de vivenciar uma invasão alienígena, os cenários são repletos de corpos, escombros, sangue e lixo, mantendo a mesma tradição atmosférica, potencializada pelo uso de bela iluminação. A elegância da parcela gráfica torna o jogo cinematográfico do jeito certo: de um lado, o visual inspira o jogador a explorar, a emprestar sua atenção e a maravilhar-se. Do outro, porém, não tira recursos da jogabilidade. Como qualquer videogame deveria ser, Judgment sabe muito bem manejar aquilo que deveria ser somente visto e aquilo que deveria ser interativo.
Assim como você se sentiu nos jogos anteriores, Judgment prende sua atenção pela diversão e fluidez. É difícil abandonar o controle com tantos Locust para assassinar e tantos duelos de motossera esperando para serem realizados. O game permanece com a mesma dinâmica: muro, tiros, muitos tipos de armas para escolher (há algumas novas, como granadas de gás diferentes e rifles como o Markza, Breechshot e o lançador de granadas Booshka), e aliens para exterminar. Há, também, dois novos Locust que serão bem aprazíveis, ainda mais depois de mortos.
Infelizmente, a dublagem em português da versão localizada ainda precisa de mais tempo de refinamento. A Microsoft precisa cuidar para que o resultado não seja uma mera tradução, mas uma adaptação. Não há diferenças entre sotaques e muitas vezes a entonação da frase parece deslocada, no local errado. Claro, é sempre com entusiasmo e satisfação que recebemos os títulos que contemplam o jogador brasileiro, mas ainda é necessário algum esforço extra antes que a localização possa ser considerada madura.
Gears of War: Judgment é, enfim, um ótimo produto, que deve ser experimentado por suas inovações à série e pela diversão proporcionada, mas que não pode ser comparado com a montanha-russa comovente de um Gears of War 3, por exemplo. Ao final, fica a preocupação de que os futuros jogos da saga sejam assim, ótimos, mas não excelentes.