Castlevania: Lords of Shadow 2 | Crítica
De volta ao limbo
Castlevania: Lords of Shadow renovou a franquia da Konami. Mesmo sem ser um puro sangue da série, a empreitada da Mercury Steam foi um sucesso principalmente por unir elementos simples de hack n' slash a uma boa história. Em Lords of Shadow 2 a empresa decidiu esquecer quase tudo que tornou o antecessor um acerto. A sequência marca um retrocesso na trajetória de Castlevania, que agora volta ao limbo onde estava quando decidiu explorar o 3D.
Guardadas as devidas proporções, jogar Lords of Shadow 2 é como voltar a 1999 e experimentar o primeiro Castlevania para Nintendo 64. Não há direção definida, nem mesmo um modelo a seguir. Ao invés de expandir os conceitos escolhidos pelo anterior, o game tenta incluir mecânicas de mundo aberto e stealth sem sucesso - e mesmo que tenha levado quatro anos para ficar pronto, parece uma continuação caça-níquel.
O dilema de Drácula
Apesar de não ter reiventado a roda, a Mercury Steam conseguiu um bom roteiro em Lords of Shadow. A trajetória de Gabriel Belmont se torna mais interessante pela maneira como ela é contada, do que pelos acontecimentos em si. Agora transformado no Drácula, o personagem ganha não só poderes, mas centenas de anos de vida, histórias, experiência e mágoas. Usar a angústia da imortalidade como motor da narrativa é uma ótima alternativa. No entanto, a trama de Lords of Shadow 2 praticamente ignora a evolução do vampiro e o próprio ponto de partida, tornando-o uma marionete sem escolhas semelhante à época humana.
Personagens unidimensionais, porém, são comuns em jogos do gênero - vide God of War, a principal inspiração de LoS. O problema desse título, todavia, reside em ter um elenco repleto de personagens que poderiam ser bem aproveitados, mas não passam de ferramentas para as esperadas reviravoltas. Alucard, filho de Drácula, é tão perturbado quanto pai, mas participa de tudo como um simples objeto de manipulação. Caso esta manipulação contribuísse para o enredo seria aceitável, mas não é o caso. A participação dele não passa de uma desculpa para apresentar um desfecho previsível e sem clímax.
As armas do vampiro
Os clichês de Lords of Shadow foram bem executados e se tornaram aceitáveis também pela jogabilidade escolhida. Existiam puzzles espalhados na medida correta para dar tornar o combate a principal ferramenta do jogo. Em LoS 2 foram adicionados itens como exploração e furtividade, ambos sem cuidado ou equilíbrio. O mundo aberto feito pela Mercury Steam é falho, com uma construção de fases confusa e sem uma evolução gradativa - a mesmice dos cenários também não ajuda na orientação do mapa. Algo semelhante ocorre com as 'sessões' de stealth, que no fundo parecem mini-jogos, de tão dissoantes da narrativa que parecem.
Pouco muda no combate. De novo a série busca inspiração em God of War ao dar um gosto dos poderes plenos do personagem na introdução para depois tirá-los. Metade da aventura consiste em reunir todas as armas; e quando chega esse momento Lords of Shadow 2 fica fácil de terminar, apesar de repetitivo. Não há muita estratégia envolvida nas batalhas, com um pouco de esquiva e bloqueio todos os chefes podem ser derrotados. Outro desperdício, pois inúmeras boas ideias estão jogadas ali, porém sem o desenvolvimento necessário. A possessão e as mordidas são alguns exemplos. Usá-los como elementos estratégicos e não quick time events seria mais efetivo, por exemplo.
Castelos na cidade
Lords of Shadow 2 não é um primor gráfico, mas quando decide apresentar as principais fases cumpre a tarefa. De perto, as cenas de aberturas dos castelos e dos grandes chefes são alguns dos poucos bons momentos do jogo. Existem também diversos tipos de inimigos e criaturas detalhadas, principalmente os bosses finais. Esses acertos são todos na parte 'clássica' do título, situada nos tempos antigos.
Os cenários contemporâneos, na cidade grande, são quase sempre os mesmos, com um ar industrial, chuvoso e cinza. Há pouca exploração destas áreas, algo que não justifica a escolha da Mercury Steam pela ambientação, já que nem o avanço da idade de Drácula é usado na história de maneira eficiente. Mas se há algo digno de nota em Lords of Shadow 2 é a trilha sonora. O tema escolhido é parecido com o do primeiro jogo, mas sofre algumas alterações, tornando o clima mais épico e acelerado. Ao menos um acerto total da desenvolvedora, que ainda desperdiça as vozes de Patrick Stewart e Richard Madden com falas bregas e cheias de vazias lições de moral.
Lords of Shadow 2 tenta incluir novos elementos à série mas não consegue acertar em nenhuma das oportunidades. No máximo repete os conceitos estabelecidos pelo antecessor com alguma eficiência e joga fora uma trama que poderia render bons títulos. No fim, fica claro que as histórias de Castlevania voltaram a ficar sem graça, comuns.