BlazBlue foi a primeira nova franquia de jogos de luta da Arc System Works lançada para o PlayStation 3, em 2008. E não podia ter chegado em melhor hora, fazendo parte do levante da categoria com Street Fighter IV. Hoje, BlazBlue Central Fiction, o quarto jogo da franquia (sétimo se contarmos com as atualizações), encerra oito anos de uma trama que se espalhou por mangás, novels, um anime para televisão e muitos spin-offs.

Com o retorno da principal série de jogos da ASW (Guilty Gear), o espaço no mercado para os personagens criados por Toshimichi Mori foi se tornando menor a cada iteração. Isso somado ao fato da empresa ter o irritante costume de anunciar um novo jogo a poucos meses do seu último lançamento nos consoles, fez os jogadores preferirem esperar por uma versão definitiva do game, o que nunca acontecia.

Central Fiction traz mudanças significativas no seu sistema de combate, já complexo o suficiente para assustar jogadores iniciantes. Jogando todas as cartas na mesa, não é como se a desenvolvedora se preocupasse com novos jogadores, mas ao mesmo tempo, o jogo não é a Black Beast que todo mundo acha que ele é.

O Overdrive, uma espécie de X-Factor de Marvel vs Capcom 3, agora recebeu um indicador de tempo de duração (quanto menos vida, mais Overdrive). Ele usa a barra de Burst do jogo, e faz com que o jogador escolha entre o seu uso para escapar de combos ou causar danos de ataque. Segurando os botões de ativação, é possível acionar um novo tipo de especial, o Exceed Accel, que consome toda o tempo restante do Overdrive.

O Active Flow é um mecanismo que funciona como o oposto do Negative Penalty, penalidade por jogar muito na defensiva. Jogos como BlazBlue e Guilty Gear dão preferência a jogadores mais agressivos, que apostam na máxima de que um bom ataque é a melhor defesa. Sendo assim, quando mantemos um ritmo constante de ataque, o Active Flow é acionado, aumentando os danos dos golpes normais, velocidade de recuperação da barra de Burst e fazendo o Exceed Accel causar mais dano (e até algumas novas animações, em casos específicos).

Apesar dos nomes complicados, é tudo muito natural dentro do jogo. O texto explicativo em si pode balançar um pouco a confiança do menos experientes, mas é algo natural no universo dos jogos da ASW. Basta que você tenha jogado um Guilty Gear lá atrás para sacar o ritmo do jogo, e pelo menos um BlazBlue para entender o que está acontecendo na tela.

O cerne do combate é enraizado nos ditos "anime fighters". Dashes aéreos, muitos combos, ofensividade ao invés da retranca e ataques especiais repletos de animações belíssimas. Em BlazBlue, os personagens são únicos e requerem um aprendizado aprofundado em cada uma das suas habilidades especiais, no caso, seus Drives, ferramentas únicas de combate, diferentes para cada um dos personagens.

Luta completa

Central Fiction é completo em todos os sentidos. Possui uma campanha com mais de 10 horas de duração (muito mais na real), um tutorial para o aprendizado do básico até as técnicas mais avançadas de ataque e defesa, explicações das habilidades especiais de cada personagem, galerias, modo arcade, treinamento, combate online e outros modos especiais para um jogador.

O modo arcade conta com três histórias separadas, o que é um ineditismo dentro do jogo e do gênero no geral. Cada campanha conta com oito lutas e histórias individuais para cada um dos personagens (no jeitão mais tradicional visto nos fliperamas de sempre). As lutas não são difíceis e mesmo assim, é possível alterar a dificuldade no menu de opções do jogo.

Ainda para a diversão offline, o retorno do Score Attack, dividido por dificuldade, um Time Attack e o modo Abyss, um tipo de RPG, que é preciso ganhar experiência com o personagem, destravar itens de aprimoramento e avançar os níveis mais difíceis do jogo com um lutador cheio de habilidades únicas, exclusivas para o modo em questão.

O online, como sempre, mantém a soberania. Netcode impecável, ainda que sem uma região dedicada para a América do Sul, coloca o jogador em partidas quase que perfeitas (quando ambos são do mesmo país). As partidas podem ser encontradas no modo ranqueado e em salas de combate. Estas, caracterizadas com arcades para o avatar do jogador se sentar e aguardar por competidores.

Como tempero extra, é possível escolher seu avatar dentre várias versões SD dos personagens, personalizá-los com itens adquiridos em máquinas especiais (tipo as vending machines encontradas pelas ruas do Japão) e defilar pelas salas de batalha, conversando com outros jogadores e até ganhando troféus por isso.

O My Room é uma área especial que dá a chance do jogador montar seu cantinho com os itens que tiver no inventário. É possível comprar mobília dentro das salas de batalha, tudo sortido dentro das vending machines. Para que serve? Bem, só para alegrar seu dia mesmo, porque são itens de mobília todos feitos em pixel, caprichados e fofos divertidos.

Além do tutorial, o game também apresenta desafios de combos para todos os personagens e, dentro do treinamento, uma função inédita que possibilita o download de gravações de movimentos de outros jogadores. Ao invés de gravar seus próprios movimentos para que o "Dummy" os realize, é possível baixar setups prontos de uma área dedicada do fórum oficial de BBCP, disponibilizado no próprio menu do jogo.

A história de Ragna, seu irmão Jin, Noel Vermillion e demais personagens que acompanham os jogadores desde o primeiro jogo da série, chega ao fim. Um caminho conturbado, por muitas vezes complexo em níveis bizarros e que foi expandido a outras mídias que não ganharam uma versão ocidental em sua maioria.

Ele é uma continuação direta de Chronophantasma, mas faz de tudo para explicar todos os jogos antes de colocar os acontecimentos inéditos em destaque, via um prólogo de 30 minutos mais ou menos, e um glossário com todos os itens importantes que serão vistos e revistos no game. Ainda assim, é expressamente recomendado ter conhecimento pleno dos acontecimentos do primeiro jogo e alguma noção básica à respeito do loop temporal que é apresentado a partir do segundo jogo.

São mais de 10 horas de história passadas no formato de visual novel, mas sem caminhos alternativos. É meio que sentar e apertar o botão para as trocas de diálogos, todos muito bem representados nas vozes japonesas de um elenco repleto de personalidades do círculo da dublagem japonesa. De vez em quando alguma luta para tirar a monotonia de quem não está acostumado ao estilo narrativo, assim como animações especiais para os capítulos finais.

Desta vez, no entanto, pelo menos de acordo com declarações oficiais do próprio Mori, Central Fiction não terá versões atualizadas. Quer dizer, ele será rebalanceado à medida que se faça necessário, mas não vai ganhar nenhuma versão "Extend". Não sei o quanto vale a palavra de um diretor, mas se estiver esperando por uma versão "mais completa', esqueça (por enquanto, pelo menos).

BlazBlue Central Fiction é um bom fechamento para a franquia, entrega a experiência completa e até esconde um personagem secreto para ser destravado (e um para ser comprado). Vai lá extravasar a sua veia 'animística' que vale a pena.

BlazBlue Central Fiction está disponível para PlayStation 3 e PlayStation 4. O jogo foi testado em um PlayStation 4. Clique no nome das plataformas para conferir o preço em versões digitais.

Nota do crítico