Sabem o que está me enchendo o saco nesta época de Copa do Mundo?

Com certeza, não é a Copa. Afinal, eu gosto de futebol e acompanho sempre os noticiários esportivos. Também não é a imensidão de abobrinhas que se fala sobre a Seleção, desde as proferidas pelos comentaristas mais ranzinzas às salivadas pelos mais baba-ovos. Nada disso. O que tem me torrado o saco ultimamente são os comerciais com japoneses bancando retardados.

Propagandas e piadas com estereótipos são antigas em nossa cultura. Via de regra, mostram o japonês que ri à toa, faz cara de bobo, fala errado, é tímido e CDF; isso sem mencionar as piores. Com poucas e simpáticas exceções, este é o estereótipo do japonês e do oriental na mídia, aí incluídos programas humorísticos e até algumas novelas.

Tem um comercial que ouvi outro dia no rádio da bala Cebiolon. Traz o diálogo entre um funcionário oriental de aeroporto e um turista do Brasil. O primeiro pergunta o que o segundo tem na mala. Este diz: É Cebiolon, vitamina C, etc... O asiático espanta-se e solta: Cebioron?. Aí o brasileiro, depois de tentar duas vezes, fica irritado e quase chama o coitado de burro.

Já pensou VOCÊ chegar num país estrangeiro e ficar fulo porque o nativo tem dificuldades em pronunciar uma palavra na SUA língua?

Aliás, nessa propaganda, o oriental falsificado fala ora como chinês, ora como japonês. Pra quem não sabe, devido a diferenças fonéticas, o chinês tem dificuldade para falar o R de arara e o japonês, o L. Mas como, para bom ignorante, japonês, chinês, coreano é tudo igual, a peça foi aprovada e veiculada, mesmo na respeitável rádio CBN.

E as propagandas de TV, então?

Tem uma peça publicitária de carro (não revelo qual), em que um japonês fala, feito uma gueixa bêbada, que vai ficar no Brasil só por causa da tal maravilha tecnológica. Os publicitários talvez não saibam que o veículo em questão é uma carroça perto dos carros japoneses com sistema de navegação via satélite.

Os exemplos são inúmeros, têm se acumulado nestes tempos de Copa e não são condizentes com um país formado, em sua maioria, por descendentes dos mais variados povos.

Depois, vejo gente indignada quando brasileiros são retratados de forma caricata e preconceituosa em filmes, em episódio de Simpsons e onde mais nossa terrinha é mencionada.

Mas sabem o que mais me chateia?

Ver os orientais ou descendentes destes que se prestam a esses papéis. Por algumas moedas, apertam mais os olhos, sorriem com cara de imbecil, balbuciam um sotaque caricato e balançam a cabeça como verdadeiros débeis mentais; muito pior do que aqueles que, tempos atrás, apareceram num videoclip do É o Tchan cantando arigatô-ô-ô-ô, saiyonará-á-á-á.

Esses pseudo-japoneses afetados, vistos em tantos comerciais, merecem mesmo ser chamados de retardados!

O mesmo tratamento preconceituoso aplica-se a outros estereótipos. É o caso dos gays afetados em novelas ou negros sempre fazendo papel de escravos ou de empregados domésticos. No entanto, sobre esses, não falta quem os defenda na mídia. Já os orientais, por discrição ou falta de influência na mídia, bancam sempre os ingênuos cretinos.

Imbecilidade tem limite e piadinhas racistas vêm carregadas de uma ignorância incompatível com um país multirracial como o Brasil. A propósito, voltando ao título deste artigo, vale frisar que olhos puxados não causam dificuldade visual alguma, ao contrário do que afirmam piadinhas maldosas feitas sobre o juiz coreano que apitou o jogo de estréia do Brasil.

Não sou japonês, sou apenas um brasileiro descendente de japoneses, que sempre achou tais estereótipos uma idiotice. E, felizmente, não conheço oriental algum tão babaca quanto os dos comerciais de TV.