Call of Duty: Black Ops 3 | Crítica
O multiplayer de sempre, com uma campanha que merece ser jogada
É sempre curioso ver como uma desenvolvedora tenta contextualizar as interfaces e mecânicas de um jogo dentro de seu universo, em justificativas que podem ir do estapafúrdio ao convincente. A Treyarch retirou as barreiras entre homem e máquina para explicar por que a guerra do mundo de Call of Duty: Black Ops 3 é tão parecida com um videogame: os inimigos têm quadradinhos na cabeça, brilham na cor vermelha no escuro e suas silhuetas são expostas quando estão atrás de uma parede.
Tudo isso, no mundo do game, é possível graças à interface neural direta (DNI), que, em 2065, transforma corpos em computadores e os faz controlar não só braços e pernas mecânicas, como também conecta os cérebros dos soldados e os permite interagir com robõs e computadores literalmente com o poder da mente.
Utilizando a mesma temática de futuro próximo distópico explorada em Advanced Warfare, Black Ops 3 consegue usar estes conceitos tecnológicos de um futuro próximo para criar os momentos mais marcantes de uma trama acima das expectativas (não muito altas) para um Call of Duty. Embora o multiplayer seja o principal atrativo do título - e a Activision, ciente disso, priorizou o modo em detrimento do single-player nas versões de PlayStation 3 e Xbox 360 -, a campanha é a melhor da franquia em muitos anos.
No comando de um militar (que, pela primeira vez, pode ser homem ou mulher) que perde os braços e pernas em uma missão, você tem seus membros substituídos por implantes robóticos e se torna um dos supersoldados do governo, com uma dessas interfaces neurais ligadas ao cérebro. O que interessa da trama é basicamente isso: os diálogos continuam no mesmo nível de filme de ação B e dá para ver, de longe, o caminho que a trama vai tomar.
Sua mente é a sua maior arma
Com muito menos glamour (não há ninguém do calibre de Kevin Spacey no elenco), Black Ops 3 mantém o foco em uma experiência satisfatória. Ela entrega o que já se espera de um Call of Duty, com ação rápida e frenética, mas por trás dessa camada cinematográfica, há uma estrutura bem construída de gameplay, que trocam mecânicas toscas como “aperte X para sentir” por cenários variados, que fazem bom uso das novas mecânicas.
A tecnologia futurista de Black Ops 3 transforma seu personagem em um supersoldado. As habilidades, desbloqueáveis em um sistema de progressão de nível, se dividem em três categorias: Control, focada em hackear e desabilitar robôs; Martial, que une furtividade com ataques corpo a corpo; e Chaos, que atrapalha os inimigos à distância com explosões remotas e enxames cibernéticos.
Há um porém nestas habilidades, claro: você só pode equipar uma categoria de cada vez até o nível 20 (o qual você provavelmente não vai chegar até terminar o jogo pelo menos uma vez). Entretanto, há como trocar suas habilidades antes e durante cada missão, incentivando esse revezamento e permitindo que os desenvolvedores brincassem um pouco mais com outros estilos de jogo, incluindo segmentos de ação furtiva, batalhas contra hordas de robôs - incluindo mid-bosses que precisam de mais balas para morrer no melhor estilo Destiny - e até mesmo uma batalha de chefe elaborada num buraco em Cingapura.
A tecnologia dá um toque inesperado à campanha, pois o computador no seu cérebro contextualiza “pausas no tempo” em uma missão tutorial que parece ter saído de um filme dos irmãos Wachowski a momentos em que a máquina na sua mente é hackeada (claro), gerando cenas que beiram o surrealismo - se optar por desbloquear todas as missões da campanha de uma vez só, vá direto para “Demon Within” e entenderá.
E esta é apenas uma das campanhas. O modo zumbi poderia ser praticamente outro jogo, com um elenco diferente (e mais estrelado, incluindo nomes como Jeff Goldblum e Ron Perlman) e uma história mais voltada para o misticismo. Se preferir, ainda há também o modo Nightmares, que coloca zumbis na campanha normal de Black Ops 3. O toque final desta montanha de conteúdo está na possibilidade de poder jogar tudo isso em modo cooperativo, o que aumenta um pouco a dificuldade mas possibilita combinar mais habilidades cibernéticas em uma partida só, abrindo o leque de opções para vencer na zona de guerra.
Call of Legends
A grande novidade do multiplayer de Black Ops 3 está nos especialistas: personagens com nomes e rostos próprios (a da foto acima se chama Battery), armas únicas e habilidades especiais que ficam no meio termo entre os heróis de um MOBA e as classes de Destiny. A intenção é garantir uma leve vantagem para quem não tem os reflexos rápidos exigidos para sobreviver mais do que dois minutos em uma arena.
A intenção é boa, mas não causa o impacto planejado na prática. Em nossa entrevista durante a Gamescom, o diretor de design David Vonderhaar afirmou que os especialistas eram um meio-termo entre as estruturas convencionais de Call of Duty, como loadouts, perks e scorestreaks. Mas o que parece ter ficado no meio-termo é a execução destas habilidades, que simplesmente não chegam a fazer o diferencial em um campo de guerra onde o mais importante, acima de tudo, é movimentar-se muito e ter a mira boa para não ser alvo frequente de headshots.
Black Ops 3 não economiza em modos multiplayer, que vão desde clássicos como deathmatch (todos contra todos), team deathmatch (equipe contra equipe) e captura de bandeira, até opções herdadas de Advanced Warfare, como o uplink. O modo inédito mais interessante, entretanto, não envolve tiroteio: é o free run, que se inspira nos circuitos fechados de Mirror’s Edge e coloca o jogador para correr e utilizar todas as melhorias robóticas de seu soldado.
Quem estiver em busca de multiplayer online nas semanas de lançamento do jogo aqui no Brasil pode enfrentar alguns problemas, já que diversos jogadores têm relatado problemas não apenas com latência, mas também com bugs. Nas partidas realizadas para a crítica, não passamos por nenhum problema de lag ou de erros.
Se sabemos o que esperar de um Call of Duty no que diz respeito ao multiplayer, tivemos uma grata surpresa com Black Ops 3, que também não esqueceu quem prefere jogar sozinho - pelo menos na nova geração de consoles. O ano extra de desenvolvimento conferido após a entrada da Sledgehammer no rodízio de estúdios responsáveis pela franquia permitiu que a Treyarch não apenas entregasse uma quantidade gigantesca de conteúdo single-player, mas também deu tempo suficiente para apresentar um universo mais elaborado e atraente.
Call of Duty: Black Ops 3 está disponível para PlayStation 4, Xbox One, PC, PlayStation 3 e Xbox 360. A versão testada foi a de PlayStation 4.