“Você já acumulou vitórias o suficiente. Gostaria de aumentar a dificuldade para manter o desafio?”, perguntou-me Forza Motorsport 6 antes de iniciar a próxima corrida, no circuito Road America. A dificuldade, no caso, consistia em aumentar a perspicácia dos oponentes controlados pela IA e desligar algumas assistências do meu carro que vinham desde o começo da campanha, como frenagem automática e linha de curvas da pista.

O começo da corrida foi mais ou menos o mesmo. Gastei as primeiras voltas ultrapassando quase todos os outros a minha frente no grid de largada. O final, entretanto, foi bem diferente: os três primeiros corredores já tinham um comportamento muito mais competitivo, impedindo minhas passagens pela pista americana, conhecida por seu relevo e suas curvas fechadas. De forma sutil, o jogo estava me ensinando o momento certo de frear, a olhar as brechas para ultrapassar.

É um clichê de todo texto sobre jogos de corrida mencionar aquela velha e conhecida classificação do gênero entre “simulação” e “arcade”, mas foi impossível não lembrar dele enquanto tentava conquistar o primeiro lugar em Road America. Embora esteja claramente na primeira categoria, Forza 6 é um jogo sob medida para converter aqueles que, como eu, sempre preferiram a segunda, a abraçar o melhor que a simulação tem a oferecer.

Claro, nada disso é novo. O comportamento da IA (aqui, representado por uma versão refinada do sistema Drivatar), a progressão por níveis, as assistências de corrida e o botão de “voltar no tempo” são marcas da acessibilidade que é, provavelmente, o maior legado da franquia da Turn 10, que, em uma década, provou ser muito mais do que o “Gran Turismo da Microsoft” justamente por estender a mão a quem aprecia os carros e a velocidade, mas precisa de um empurrãozinho para se adaptar às corridas de alto nível.

Os passos que Forza 6 dá nessa direção têm duas inspirações. A primeira, previsível, é o primo Forza Horizon 2, de quem o game pega emprestada a roleta de prêmios que te dá carros ou quantias substanciais de dinheiro a cada vez que você sobe de nível. O impacto desta novidade, no máximo, serve para te dar uma quantia extra de recursos em estágios inciais da carreira.

A outra novidade é o sistema de modificações, que tem um impacto maior no jogo e vem de um local inesperado. À semelhança dos perks de FPS como Call of Duty, você pode equipar cartões que mudam aspectos do desempenho do seu carro, como aderência, potência do motor, ou a experiência e dinheiro que você ganha após participar, seja temporariamente (com duração de uma corrida), ou permanentemente. As mais interessantes são as modificações de Ousadia, que impõem condições de desvantagem ao seu veículo, mas oferecem boas recompensas.

Se por um lado o cuidado em imergir os jogadores menos experientes no clima de adoração aos veículos é um diferencial positivo de Forza 6, às vezes o jogo exagera. Embora as lições sutis que o jogo me apresentou ao longo das corridas tenham me agradado muito, eventualmente senti que o jogo estava me “pegando pela mão”, com um excesso de explicações monótonas. Imagino que deve ser bem maçante para jogadores que estão há mais tempo envolvidos com a série, embora seja possível desligar as assistências logo de cara na campanha caso você tenha algum arquivo salvo dos Forzas antigos.

No que diz respeito aos valores de produção, Forza 6 continua com o esmero característico da série. Sua qualidade visual é inquestionável não apenas na modelagem dos veículos e dos cenários, mas também na maneira como passa a sensação de velocidade. Existe uma clara distinção entre correr com os hatchbacks do começo da carreira e modelos como os da Fórmula Indy, acelerando a 340 km/h.

As diferenças também se traduzem no peso dos comandos e, principalmente, na resposta do controle, que, assim como em Forza 5, tem um dos usos mais engenhosos do rumble já vistos, no qual uma parte específica do controle treme de acordo com o pedaço do seu carro que se choca com algum objeto ou passa por um terreno acidentado. O clima também causa impactos no modo de jogador: em tempo chuvoso, formam-se poças nas pistas, que são um convite a derrapadas e capotagens quando você passa por elas em alta velocidade.

Em termos de conteúdo, Forza 6 também tem um aumento substancial em relação a seu antecessor, um dos títulos de lançamento do Xbox One. Há mais pistas (21 contra 14) e, principalmente mais carros (cerca de 450 contra 200). Assim como no game passado, a parceria com Top Gear continua, mas, desta vez, bem mais tímida - provavelmente, é um reflexo da polêmica envolvendo a demissão de Jeremy Clarkson do programa britânico. O game também conta com legendas e vozes em português, mas, estranhamente, algumas cutscenes não foram dubladas.

A Turn 10 não precisaria de muito para se manter sua franquia como a campeã das corridas no Xbox, mas, mais uma vez, entrega um trabalho competente, com uma preocupação fora do comum com a acessibilidade. Embora tenha vários aspectos focados na simulação, Forza Motorsport 6 não esquece que é um jogo - e, para manter seu apelo universal, isso continua fazendo toda a diferença.

Forza Motorsport 6 está disponível e é exclusivo de Xbox One.

Nota do crítico