Aviso: este artigo contém alguns spoilers do modo história.

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Não é difícil encontrar alguém que se pergunte por que as pessoas gostam tanto de FIFA. Entra ano e sai ano, o jogo da EA Sports é figura fácil nas listas de mais vendidos no Brasil e em outros países, e o motivo é simples: o que não falta nesse mundo é gente apaixonada por futebol.

Sendo assim, esta franquia não é exatamente daquelas que está desesperada por novos jogadores, mas ainda assim fez uma movimentação interessante neste sentido com o modo história de FIFA 17. Intitulada A Jornada, a principal novidade da edição deste ano do game de futebol é um golaço de acessibilidade que tem o potencial de trazer para o jogo até mesmo quem não liga tanto assim para o esporte bretão.

Ampliando uma tendência iniciada pela 2K Games com os jogos da NBA, A Jornada conta a história de um jogador só, o britânico Alex Hunter (Adetomiwa Edun). Ainda que ele tenha um nome, um rosto e um passado fixos, Hunter também serve como um avatar para as vontades do jogador, já que é possível escolher diálogos em cenas de corte, que vão moldando sua personalidade - pense em algo similar a Mass Effect.

A história de Hunter, assim como a de várias obras sobre futebol, conta seu esforço para chegar ao estrelato, das categorias de base a um dos clubes da Premier League, a primeira divisão da Inglaterra e uma das mais prestigiadas ligas profissionais do planeta. É uma trama de superação, algo que o esporte produz de forma inigualável - tanto na vida real quanto na ficção.

Mas, mesmo para quem não é tão ligado assim em futebol, A Jornada consegue gerar interesse logo de cara ao detalhar muito bem a vida de Hunter e daqueles que o cercam. Por trás de seu sucesso profissional, há toda uma vida pessoal retratada em tela. Hunter é filho e neto de jogadores de futebol. O avô teve uma boa sucedida carreira nos anos 1960 e o pai abandonou o esporte jovem, em decorrência de várias lesões. A frustração o levou a separar-se da mãe, e sua ausência é um dos pontos centrais dos problemas pessoais do nosso protagonista.

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Quem conhece o mundo do futebol provavlmente deve ter visto uma dúzia de situações como esta, mas a situação muda de figura quando você vive essa história, podendo até moldá-la em alguns momentos com suas escolhas. Muito antes de tornar-se um jogador profissional de fato, você já se sente envolvido com a vida de Hunter. E isso é importantíssimo, não só para FIFA, mas para qualquer game que se apoia em algum tipo de narrativa.

Tome como exemplo Assassin's Creed. Boa parte do sucesso da franquia se deve ao segundo jogo, e boa parte do êxito que o mesmo teve se deve ao fato de seu protagonista, Ezio Auditore, ser extremamente popular entre os jogadores. Isso não aconteceu por acaso: Assassin's Creed II gasta boa parte de suas horas iniciais contando a história do italiano, desde a inocência de sua juventude até o momento fatídico que o levou a ser um assassino. Nós continuamos a jogar, em grande parte, porque nos importamos com Ezio e queremos saber o que vai acontecer com ele. No modo história de FIFA 17 não é diferente.

A jogada de craque que fecha A Jornada em torno de um jogador novato de FIFA é a constante instrução de como jogar. Assim como qualquer futebolista em seu início de carreira, Hunter precisa treinar para melhorar suas habilidades, e essas sessões são intercaladas entre partidas. Entre cada jogo, há um treino em que você pratica fundamentos como chutes a gol, dribles, passes, confrontos um a um, e muito mais.

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Quanto melhor você vai no treino, mais as estatísticas de Hunter melhoram, o que te incentiva a continuar praticando. Além disso, quanto mais você faz as sessões de treino, mais você aprende, naturalmente e com motivação (afinal, você quer saber o que vai acontecer na carreira do protagonista), a jogar FIFA.

Se você já for mais habilidoso nos campos virtuais da EA, isso acaba causando até algumas dissonâncias ludonarrativas - aquele clássico problema em que a narrativa do jogo entra em conflito com a experiência do jogador. Um exemplo aconteceu na nossa própria maratona d'A Jornada: começamos a jogar na Premier League muito bem, fazendo muitos gols e colaborando com o time, mas isso não impediu que fôssemos emprestados para um outro time - um evento pré-estabelecido na narrativa do jogo.

Mesmo assim, a experiência do modo história faz de FIFA 17 não só um ótimo jogo de futebol. Faz dele um ótimo jogo, daqueles para ser experimentado por qualquer um que se interesse minimamente pelo meio.