A FaZe Clan de Karrigan parece não sentir absolutamente nada quando sofre um desfalque de última hora no elenco de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO). Em diversas ocasiões, mesmo precisando jogar com um substituto às pressas, a equipe não só foi extremamente bem, como conquistou títulos nessa situação.

O fato se mostrou corriqueiro no passado e voltou a acontecer na última BLAST Premier Spring Groups 2023, quando a FaZe precisou jogar com Es3tag no lugar de rain, que não viajou com o time para acompanhar o nascimento de sua filha.

No passado, a FaZe conquistou três títulos mesmo com a line-up desfalcada:

  • ESL One Belo Horizonte (Chromen)
  • IEM Sydney 2018 (Xizt)
  • IEM Katowice 2022 (JKs) 
Image: FaZe Clan

Voltando ao presente, na BLAST a FaZe disputou sete mapas e venceu seis deles. Foram três séries MD3 vitoriosas seguidas e a classificação em primeiro lugar do Grupo B, para a Spring Final. A equipe sequer passou perto de saber o que é uma tabela lower.

Em conversa exclusiva com o The Enemy, Karrigan afirmou que, mesmo parecendo fácil e tudo dando certo, na verdade é bem complicado sofrer uma baixa repentina no elenco.

"É incrivelmente difícil ser IGL quando você tem um complete no time. O sistema, as funções e o trabalho em equipe mudam frequentemente. Então, toda vez que temos um substituto, eu me conecto a ele, para que ele consiga usar o que tem de melhor. Se o substituto for skillado, torna o trabalho mais fácil."

Para que esta mudança seja sentida o menos possível pelos jogadores, Karrigan acredita que uma coisa dentro do time precisa ser o mais clara e sólida possível, pois é ela que dita as regras. O dinamarques crava que "o segredo é o sistema".

"Para o substituto, minhas primeiras palavras são sempre para ele jogar seu próprio jogo e não ficar pensando demais, tipo ficar tentando lembrar nomes de posições específicas, táticas e assim por diante. É manter tudo o mais simples possível e deixá-lo assim, jogando o round da maneira que ele acha correto, enquanto eu apenas o conduzo nas situações que são necessárias. No final das contas, eu sempre acreditei que se você tem um bom sistema, perder um jogador é ruim, mas você sempre ganha algo diferente com um substituto. Por isso, peço que nossos jogadores pensem positivo - mesmo que seja mais difícil jogar com um complete - e tentem focar mais em se divertir nos jogos oficiais."

Com 'sistema', Karrigan quer dizer que é importante um time ter bem definido as funções, a forma como joga, pensa, age e etc. Sendo assim, mesmo com um complete no elenco, as coisas para a sua equipe tendem a funcionar e fluir da mesma maneira.

Tendo em vista que o sistema precisa ser o mesmo, as funções de quem saiu precisam ser supridas. E é aí que ele entra como jogador:

"Nesses casos, dou ainda mais preferência para sacrificar meu próprio jogo, para que possamos fechar as rodadas como um time", explicou Karrigan. "O Es3tag esteve muito focado no support, que é algo que ele já está está habituado, mas o rain é um jogador agressivo e sabe como dominar espaços. Então, na BLAST, eu assumi parte da função que faltava e tive o maior número de duelos de abertura de todos os jogadores do lado TR, para garantir que ainda tivéssemos jogadas agressivas para criar espaço. Para mim, como caller, quando perdemos um jogador, eu mesmo tento preencher as lacunas, para que o resto do time tenha o mesmo sentimento de quando joga", concluiu a explicação, com um exemplo prático do que foi feito na BLAST recentemente.

Fora o sacrifício como player, Karrigan ainda acrescenta que, com um stand-in na equipe, ele também precisa se doar mais como capitão.

"A parte mais difícil é manter meu jogo individual, porque eu micro gerencio muito mais para criar espaços. Nós temos uma equipe incrível, então todos estão se adaptando bem, mas para deixar o grupo realmente confortável, tento dar calls o mais explosivamente possível. Assim, eu invoco a força do time, especialmente com um substituto. O problema é que tudo isso me deixa muito mais exausto no fim das partidas. Dar calls dessa maneira intensa, inventar coisas na hora e ficar micro gerenciado o time, exige muito mais de mim."

Karrigan cita o título de Katowice, com JKs como complete da FaZe, como um grande exemplo do quanto ele precisou se doar em diferentes vertentes.

"Foi muito cansativo pensar em novas rodadas para aplicar todos os dias, pois tentei ser o mais imprevisível possível", relembrou. "Fora que, na hora de vetar, é muito difícil surpreender, porque perdemos grande parte do pool de mapas por ter um stand-in. No geral, ter um substituto é sempre mais difícil, e dificulta ter elementos surpresa bem preparados, mas como eu sempre fico à frente do nosso plano de jogo, com ou sem um complete, a ideia é sempre tentar surpreender os inimigos", completou.

Foto: ESL/Reprodução

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Em resumo, Karrigan aponta que um sistema de jogo bem definido, com os jogadores sabendo realizar bem suas funções, aliado a ele mesmo como jogador e capitão se sacrificando, foram as chaves para o sucesso da FaZe campeã com substitutos. 

Esta é a parte do CS:GO profissional que muitos não enxergam, especialmente quem se apega demais aos números. São pontos cruciais, mais complexos do que o normal e que, segundo um dos melhores capitães da história do jogo, vence campeonatos do mais alto nível.