A Scrim Delas é o primeiro campeonato competitivo de Fortnite voltado para mulheres na América do Sul. O projeto é idealizado por Ingrid e Kenno, ambos streamers, criadores de conteúdo e parte da equipe de comunicação da Fortnite Champion Series (FNCS). A primeira e única edição da Scrim Delas ocorreu no dia 3 de dezembro do ano passado, quando cerca de 75 jogadoras disputaram a premiação de R$ 1 mil e periféricos patrocinados pela Logitech.

The Enemy, portanto, decidiu conversar tanto com Ingrid quanto com Kenno para entender os motivos, os desafios, o propósito e os planos futuros do campeonato, que é uma iniciativa essencial para o bem-estar da comunidade do battle royale da Epic Games no Brasil.

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Ingrid e Kenno (Foto: Reprodução/Scrim Delas)

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História

A Scrim Delas, na verdade, é um desenvolvimento de um outro projeto realizado por Ingrid, denominado como Squad das Minas. Nele, a streamer conta que chamava outras meninas para jogar em live com intuito de dar visibilidade para elas e incentivá-las a se desenvolver competitivamente ou talvez na criação de conteúdo. “Eu criei o Squad das Minas porque eu sempre percebi que, por ser namorada do Blackoutz e tudo mais, faltava representatividade feminina dentro do cenário”, diz Ingrid.

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Blackoutz, pro player e streamer da Cloud9, e Ingrid (Foto: Reprodução/Instagram)

“Eu não pegava muitas visualizações, mas pensei: o que eu posso fazer para mudar e ajudar nisso? Então peguei essas meninas para divulgar e incentivá-las nas minhas lives para mostrar o potencial delas. As pessoas começaram a ficar surpresas ao ver que tinham meninas jogando em alto nível”, revela a idealizadora.

Aos poucos as meninas que participavam começaram a fazer transmissões ao vivo com frequência, os projetos da Ingrid foram se acumulando e o Squad das Minas acabou ficando pelo caminho. “Só que o fato de ainda não ter figuras femininas que representassem essa parte competitiva no cenário brasileiro de Fortnite ainda me incomodava”. E assim Ingrid teve a ideia de criar a Scrim Delas e foi em busca de Kenno, que já fazia scrims - treinos personalizados entre jogadores que têm intenção de evoluir ou se profissionalizar no jogo.

O convite foi aceito. A partir disso, Kenno ajudou na questão técnica e burocrática de criar e projetar um campeonato, com a definição da premiação para incentivar ainda mais as meninas a jogarem. A edição inicial, então, ocorreu no dia 3 de dezembro e contou com média de 2 mil espectadores simultâneos e uma premiação total composta por R$ 1 mil e periféricos patrocinados pela Logitech.

Ao todo mais de 120 jogadoras se inscreveram para participar. No entanto, por conta de problemas de logística envolvendo horários, apenas cerca de 75 delas conseguiram entrar no servidor para jogar.

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Foto: Reprodução/Scrim Delas

“A gente precisava fazer a primeira edição pensando na segunda, na terceira e por aí vai. Então desenvolvemos o projeto para fazer com que a Scrim Delas desse certo com os recursos que a gente tinha”, revelou Kenno.

O primeiro troféu da Scrim Delas ficou para Karol que, de acordo com Ingrid, “é uma jogadora muito boa e, mesmo assim, até hoje não consegue dupla, trio ou seja lá o que for”. A streamer e criadora de conteúdo “não sabe exatamente o porquê”, mas acredita que isso tem relação com “o preconceito dela ser mulher”.

Objetivos

A proposta da Scrim Delas vai muito além de apenas organizar um torneio voltado ao público feminino. Para Ingrid, o projeto tem o objetivo de “criar um espaço, um servidor, um local em que as meninas se sintam incentivadas, motivadas e possam se desenvolver mais e criar conexões com outras meninas”

Ela também conta que pretende “fazer com que essas meninas tenham outras oportunidades no Fortnite e possam saber quais caminhos podem seguir”. Do mesmo modo, Kenno crê que o propósito da Scrim Delas envolve “ajudar as meninas a integrarem o cenário de Fortnite seja competindo, criando conteúdo, apresentando ou comentando” para que então possa “revelar talentos femininos da comunidade”.

Dificuldades

“Eu não acreditava que daria certo porque a gente é muito invisível no Fortnite”. É com essa frase que Ingrid define as dificuldades da Scrim Delas, enaltecendo o fato de que a comunidade do Fortnite ainda engatinha nos quesitos de inclusão, discernimento e tolerância. Ainda é um espaço muito rejeitado porque falta esse incentivo de consumo e de acreditar que as mulheres também podem ser boas”, enfatiza a criadora do projeto.

Kenno, por sua vez, define que algumas das dificuldades da Scrim Delas foram “estruturar, criar uma identidade visual, encaixar narração e depois fazer com que as meninas conseguissem encontrar um ambiente legal para jogar e se divertir acima de tudo”.

Além disso, Ingrid vê a toxicidade da comunidade do Fortnite estritamente ligada à “falta de responsabilidade dos criadores de conteúdo porque há uma objetificação muito grande e porque eles, na maioria dos casos, não vêem as mulheres como gamers”. Isso causa desânimo e faz com que o público feminino busque outros jogos. 

“Eu não quero ver essa migração de jogo, eu quero que elas se sintam à vontade para jogar Fortnite”, concluiu Ingrid.

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Naxy, atualmente pro player de Valorant da Team Liquid, já esteve no competitivo do Fortnite (Foto: Reprodução/Instagram)

Próximos passos

Para um futuro próximo, a Scrim Delas terá um campeonato ainda maior. Conforme revelado pelos dois criadores, já há um planejamento para desenvolver mais edições da competição neste ano, incluindo um torneio que irá misturar jogadores e jogadoras profissionais para ajudar na integração dos dois públicos na comunidade.

“Queremos fazer um campeonato misto, em que as equipes jogarão no formato de duplas compostas por um pro player masculino e uma pro player feminina, para que isso ajude as meninas a integrarem o cenário de Fortnite. Com certeza a gente vai conseguir fazer mais e poder recompensas às meninas por seus esforços”, relatou Kenno.

Por fim, a Scrim Delas também tem planos de auxiliar as mulheres fora do servidor. Isso porque, de acordo com Ingrid, o projeto quer proporcionar palestras com outras jogadoras profissionais que falem sobre os desafios de ser mulher dentro dos games e quer ter pessoas que possam ajudar a cuidar da imagem delas nas mídias digitais”.