Review: Xbox Series X

Nova geração do Xbox traz mudanças discretas, mas promete grande revolução

Bruno Silva Editor-chefe do The Enemy

O Xbox Series X é uma máquina poderosa. Quando se analisa friamente os números de desempenho divulgados por sua fabricante, a Microsoft, e pela rival Sony, o Series X é, talvez, a máquina mais poderosa da nova geração. Estes números são importantes, porém o que mais importa para este aparelho é a estratégia que o cerca.

Todo console é uma evolução natural de seu antecessor. Mas, ao longo dos anos, a Microsoft mudou os paradigmas do mercado de tal forma que o padrão passou a ser de evoluir cada máquina ao longo de sua própria vida útil. O Xbox de 2005, quando o Xbox 360 foi lançado, já não era o mesmo do lançamento, bem como o 360 de 2013 era radicalmente diferente de sua versão inicial.

A lógica se também se aplica ao Xbox One, o aparelho que “passa o bastão” para a nova geração — Mas com uma diferença fundamental e inédita: sua vida útil foi marcada por uma correção de curso drástica por parte da dona do Windows.

O Xbox One que iniciou a geração tinha o objetivo de ser uma central de entretenimento da qual os jogos eram uma parte minúscula, até se tornar o exato oposto desta proposta: uma máquina focada em jogos, em garantir o melhor desempenho, e com serviços que facilitam seu acesso como o importantíssimo Game Pass que, à exemplo de Netflix e afins, oferece centenas de títulos mediante pagamento de uma assinatura mensal.

A estratégia é tão importante que, para ampliá-la, a Microsoft lança nesta geração, logo de cara, dois consoles diferentes e complementares: O Xbox Series S, mais barato (R$ 2.799 de preço sugerido) e sem drive de disco (leia o nosso review clicando aqui), é a porta de entrada para a nova geração e, principalmente, para o Game Pass; já o Xbox Series X, mais poderoso, é mais caro (R$ 4.599 de preço sugerido) e tem drive de disco.

Portanto, o Xbox Series X que chega às lojas em 2020 é um console ambivalente. Se o compararmos com o Xbox One que iniciou a geração, ele é um retrato da mudança profunda na estratégia da Microsoft dentro do mercado de games. Mas, comparado com a versão final do Xbox One, ele é uma continuidade que prefere se apoiar em mudanças pontuais no lugar de rupturas mais profundas.

Bruno Silva/The Enemy
Bruno Silva/The Enemy

Design

A maior qualidade do visual do Xbox Series X é a sua discrição. Seguindo a mesma filosofia de design proposta pela Microsoft no reboot da geração passada do qual surgiram o Xbox One S e o Xbox One X, o console chama pouco a atenção no setup, apesar de seu formato atípico quando se trata de um videogame.

Com 15,1 cm de largura, 15,1 cm de comprimento, e 30,1 cm de altura, o Xbox Series X tem formato de torre, mais semelhante ao de um gabinete de PC. Embora uma de suas laterais tenha suportes para que o console seja posicionado na horizontal, permitindo seu encaixe nos nichos de um rack, por exemplo, o ideal é que ele fique em pé, especialmente ao levar em conta suas saídas de ar. O design contido e o tamanho relativamente pequeno surpreendem ao se considerar a quantidade de componentes dentro da caixa, que pesa 4,45kg.

Os materiais e cores remetem imediatamente ao Xbox One X (que, de pé, é da mesma altura do Series X), o que faz sentido, dada a proposta de ambos serem as opções mais poderosas oferecidas pela Microsoft em cada geração.

O visual contido, no entanto, tem um ponto de destaque: a saída de ar na parte superior, onde o chassi é côncavo e repleto de buracos, com a parte interna pintada de verde, gerando um efeito visual que faz o console parecer estar iluminado de baixo para cima (ao menos, era o que as primeiras imagens de divulgação davam a entender).

O formato mais quadrado acabou “espalhando” pelas extremidades da superfície frontal os botões e conexões do Series X: na frente, temos três botões físicos - o de liga/desliga, o de ejetar discos, e o de pareamento com o controle sem fio -, além de uma única entrada USB. Quem tem um Xbox One só vai sentir falta de um componente na parte frontal: o receptor infravermelho, escondido dentro do próprio botão de pareamento com o controle.

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Enquanto a frente do console tem conexões bem espalhadas, a parte traseira traz o oposto: as entradas estão todas concentradas e centralizadas na área inferior, o que ajuda a deixar os fios bem escondidos independentemente do posicionamento do console. Nela, o Series X tem duas entradas USB 3.0, cabo Ethernet, saída para HDMI 2.1, a entrada para o cartão de expansão de armazenamento SSD, e o cabo de força.

Falando na energia do console, o Series X também segue o modelo da atualização de meio de geração do Xbox One, com uma fonte de alimentação interna bivolt e um cabo de força simples de 150cm que garante a conexão da tomada.

Hardware

Como falamos no início do review, o Xbox Series X garante, ao menos nominalmente, o melhor desempenho entre os aparelhos de nova geração. O novo console da Microsoft é um monstro em termos de especificações técnicas, com algumas soluções de engenharia curiosas.

Para se acomodar ao chassi quadrado, a placa-mãe é dividida em duas partes, o que auxilia no controle da temperatura dos componentes. O processador é um AMD Ryzen com arquitetura Zen 2, oito núcleos de 3.8 GHz - ou 3.6 GHz no modo SMT (Simultaneous Multi-Threading). O chip é um dos poucos pontos em comum do hardware do Series X com seu irmão menos poderoso, o Series S. Já a memória RAM GDDR6 é de 16 GB, com 10 rodando a 560GB/s e 6 GB rodando a 336 GB/s.

Já a placa de vídeo, que também tem arquitetura personalizada com base na família RDNA 2 da AMD, tem 52 unidades de execução (Compute Unit ou CUs), com 1,825 GHz e desempenho computacional de 12,1 teraflops. Nominalmente, o melhor desempenho entre os consoles de nova geração, frente aos 4 TFLOPS do Series S e os 10,28 do PlayStation 5.

Todo esse poder faz com que a mira do Xbox Series X para a maioria dos jogos de próxima geração esteja na resolução em 4K nativo a uma taxa de 60 quadros por segundo, embora o console ofereça suporte a até 120 quadros por segundo dependendo da configuração estabelecida pelos desenvolvedores.

Graças ao chip gráfico, são suportadas tecnologias como: DirectX Raytracing (DXR), que proporciona simulação de efeitos de luz extremamente realistas em tempo real; Grande Alcance Dinâmico (HDR), que oferece melhores contrastes de imagem; Sombreamento de Taxa Variável (VRS), que otimiza o processo de criação de sombras; e Mesh Shaders, que melhoram o desempenho do hardware manipulando a geometria em tempo real e renderizando muitos objetos complexos na tela.

Um dos grandes chamarizes do Xbox Series X — e da nova geração — está no uso de uma unidade de estado sólido (SSD) no lugar de um disco rígido (HD) tradicional. Essa memória garante um salto de velocidade enorme para o carregamento de arquivos, permitindo tempos de loading muito menores nos jogos.

O Series X não economiza no espaço, trazendo um SSD de 1 TB no qual 802 GB estão disponíveis para instalar jogos e aplicativos. Considerando que, no PC, esse tipo de armazenamento oscila entre os R$ 700 e os R$ 1 mil, é algo que deixa o console de ponta da Microsoft com uma vantagem competitiva em relação a computadores que oferecem desempenho similar.

1 TB também é espaço suficiente para garantir uma biblioteca robusta à disposição - algo vital em tempos de Game Pass. No nosso teste, instalamos nada menos do que 22 jogos no SSD do console, em uma lista que inclui pesos-pesados em tamanho de mundo e arquivo como Halo: The Master Chief Collection (108.9 GB), a versão de Xbox One de Gears 5 (72,4 GB), Forza Horizon 4 (82,6 GB) e Final Fantasy XV (83,9 GB).

Para quem estiver preocupado com espaço, há a promessa por parte de desenvolvedores de que o SSD resultará em arquivos de jogos mais leves, e isso pôde ser comprovado nos nossos testes com o exemplo de Gears 5, cuja versão otimizada para o Series X e Series S pesa 55,7 GB. A Microsoft ainda não foi muito clara em relação à diminuição do tamanho de jogos otimizados, e não tivemos acesso a outros jogos em que houve esse corte de gigabytes, mas é algo para prestar atenção nos próximos meses.

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Falaremos sobre os outros recursos do SSD mais à frente no review, nos testes com os jogos. Entretanto, vale ressaltar que o Series X e o Series S têm uma opção de expansão de armazenamento, por meio de um cartão proprietário de fabricação da Seagate.

O problema maior dessa expansão reside no preço: o cartão de 1TB custa US$ 220 no mercado americano, e ainda não tem valor oficial no Brasil. Levando em conta a cotação do dólar (no momento de publicação desta análise, o cartão custaria R$ 1.263 só na conversão direta, sem impostos), é possível imaginar que essa opção será cara para os jogadores brasileiros.

Controle

Desde a introdução do controle S no primeiro Xbox, a Microsoft vem fazendo mudanças pontuais no seu controle, e aqui vigora a fórmula de não mexer muito em algo que dá certo há muitos anos. Para o controle do Series X (e também do Series S, que possui as mesmas funcionalidades), os principais aprendizados e inspirações parecem vir do Elite, uma versão de luxo do controle do Xbox One lançada em 2015.

A ergonomia, um ponto alto, continua excelente, e ganhou o reforço de rugosidades na parte traseira, nos analógicos e nos gatilhos, que impedem o controle de escorregar na mão dos jogadores. A modelagem, levemente maior que a do Xbox One, também ajuda. Do controle Elite também vem o novo direcional, que abandona o design em cruz tradicional por um disco com protuberâncias nos pontos cardeais.

O direcional é uma das principais novidades do controle em relação ao de seu antecessor. Apesar de não parecer, o novo formato funciona até mesmo em jogos de luta, uma reclamação constante da época anterior à adoção da tradicional cruz por parte da Microsoft. Seus cliques ficaram um pouco mais barulhentos do que o do gamepad anterior, embora o som possa até ajudar em momentos como colocar informações de pesquisa, e-mail ou senha por meio de teclado virtual.

Os botões de ombro, por sua vez, estão menos barulhentos e um pouco mais sensíveis, enquanto os gatilhos estão levemente mais resistentes à pressão e com uma ergonomia melhor, já que possuem rugosidade e estão menos pontudos, adequando-se melhor ao formato do dedo.

O único botão inédito do controle do Xbox Series X é o Share, que, como diz o nome, facilita o acesso aos menus de captura de tela e vídeo. Ele está na parte central do controle, entre os botões View e Menu, e manda o usuário direto para as opções de compartilhamento, deixando o processo bem menos burocrático do que no Xbox One.

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O controle tem uma entrada USB-C, no lugar do micro-USB da geração anterior, o que permite transferências de dados em maior velocidade e também carrega mais rápido, caso você use baterias recarregáveis para o seu controle. O controle também tem entrada para fone de ouvido e uma porta de expansão para o headset proprietário do Xbox.

Já a alimentação segue o padrão estabelecido lá no Xbox 360 de pilhas AA. Polêmicas entre torcedores de console à parte, a pilha troca a inconveniência da troca por uma ótima vida útil, além de também oferecer suporte a pilhas recarregáveis.

Por fim, o usuário pode comprar um kit separado chamado Play and Charge, que virá com um cabo USB-C de 2,7m e custará US$ 25 (não há preço oficial no Brasil). De acordo com a Microsoft, a bateria recarregável proprietária será mais durável e demora menos de 4h para carregar. A única reclamação a ser feita, mais uma vez, é o fato de os donos de Xbox precisarem pagar à parte por algo que concorrentes oferecem sem custos adicionais.

Mais um recurso herdado dos modelos revisados da geração anterior é a conectividade via bluetooth, o que oferece comunicação com mais dispositivos que o antigo padrão wireless.

O controle do Xbox Series X/S é ainda compatível com o Xbox One, com o Windows, com o Android e com o iOS — algo que pode ser bem interessante após a chegada do serviço de jogos na nuvem xCloud.

Da mesma forma, o Xbox Series X/S aceita controles do Xbox One. Essa retrocompatibilidade é muito bem-vinda, já que os fãs veteranos da marca não vão precisar gastar mais dinheiro em novos periféricos para o multiplayer local, uma vez que, exceto pelos ajustes mencionados antes, os gamepads de ambas as gerações são essencialmente os mesmos.

Interface

Da tela de inicialização ao menu inicial, os consoles de nova geração sempre usaram a interface como uma “recepção de boas vindas” que marcava sua identidade e ajudava os usuários a se sentir em uma nova era de videogames. Tudo isso foi descartado pela Microsoft, que exerce na interface do Xbox Series X uma ideia de continuidade com a geração anterior.

A interface é a mesma usada atualmente no Xbox One (que, por sua vez, viu seus menus passarem por uma revolução entre 2013 e 2020). Sua maior diferença, talvez, está no tempo do carregamento: o poder do SSD faz o boot durar menos de 3 de segundos ao sair do estado de espera. Se você ligar o videogame pela primeira vez após conectá-lo a uma tomada, a inicialização é um pouco maior: 30 segundos.

A dashboard é, talvez, um atestado da evolução em relação ao início do Xbox One, com seus ícones confusos. Para o Xbox Series, os excessos foram eliminados e há maior facilidade de acesso, tanto para chegar aos seus aplicativos e jogos recém-usados quanto para funcionalidades especiais.

Você pode customizar as seções do menu principal, fixando, por exemplo, jogos que você gosta. O acesso básico a jogos permanece o mesmo do Xbox One, por meio de um menu de apps e jogos no qual é possível gerenciar downloads e acessar todos os jogos instalados no console ou todos os jogos comprados pela conta.

Nessa reformulação de interface, o grande vencedor é, sem sombra de dúvidas, o Game Pass. É possível acessá-lo de pelo menos cinco maneiras diferentes dentro da dashboard, com integração ao menu inicial e à biblioteca de aplicativos. Tudo converge para o serviço de assinatura, de modo que seja fácil baixar os jogos.

Tal redundância acaba escondendo, por exemplo, segmentos da interface que poderiam ser de acesso mais fácil, como o menu de configurações, escondido num canto do Guia, a barra à esquerda que aparece quando você aperta o botão com o logo do Xbox. Falando nele, sua organização está um pouco mais clara.

Na parte social, entretanto, parece ter havido um retrocesso. Na seção “Pessoas”, você tem sua lista de amigos, com informações sobre quem está online e jogando o que, mas o feed de atividades da versão anterior desapareceu.

Ele foi exibido em um vídeo de agosto, quando a Microsoft revelou a versão Alpha desta versão da dash, então é possível que retorne em atualizações posteriores, mas é estranho não contar com o aspecto de rede social que já havia virado padrão nos consoles anteriores. Por ora, a única forma de acompanhar as conquistas, capturas e publicações dos seus amigos é pelo app Xbox no celular ou Xbox Companion no Windows.

Para fechar, o acesso à Loja Microsoft também ficou mais fácil e mais rápido - algo essencial em uma realidade na qual um dos consoles à venda só roda jogos em formato digital. A seção de compras de jogos e aplicativos está mais organizada e com uma barra lateral que ajuda a filtrar o conteúdo mais rapidamente. Apenas colocar o cursor sobre o game já traz informações cruciais como data, preço, gênero e até uma prévia do trailer. Um formato mais inteligente e prático.

Serviços

Ponto forte da Microsoft ao longo de duas décadas de atuação nos games, os serviços continuam a ser um dos principais motivos para aderir ao ecossistema do Xbox. No Series X, eles são mais presentes e diversos do que nunca.

Como já é padrão nas duas últimas gerações, jogar online no Xbox requer a assinatura de um serviço pago chamado Xbox Live Gold, cuja assinatura mensal é de R$ 35, ou de R$ 86 em plano trimestral. Além do multiplayer online, a Live Gold oferece chat com amigos jogos gratuitos a cada mês e descontos especiais na loja da Microsoft. Infelizmente, não há mais o plano anual, que agora só pode ser comprado em cartões pré-pagos no varejo.

A verdadeira estrela do Xbox, entretanto, e o Game Pass, como já evidenciamos ao longo do texto. Mediante uma assinatura mensal de R$ 30, o serviço oferece um catálogo com mais de 100 jogos em constante atualização, e alguns dos principais jogos do mercado - incluindo toda a produção first-party da Microsoft, que é adicionada no dia de lançamento.

Opção imbatível em termos de custo-benefício, o Game Pass faz dos novos Xbox o melhor jeito de se ter muitos títulos a disposição sem precisar desembolsar muito. Entretanto, assim como acontece em serviços sob demanda de televisão como a Netflix e a Amazon Prime, jogos também são retirados da plataforma com frequência, então é preciso ficar de olho.

É possível argumentar, até, que dado o tamanho do catálogo e das promessas da Microsoft em relação ao Game Pass, é praticamente indispensável assinar o serviço caso você decida comprar um novo Xbox. É no Game Pass que a Microsoft coloca todas as suas fichas atualmente, e continuará colocando em um futuro próximo. Não há nenhum pudor por parte da empresa de fazer do Game Pass uma marca importante dentro do ecossistema usuários do aparelho - quem sabe, até, comparável à do próprio Xbox.

Existe ainda uma opção mais parruda do Game Pass chamada Game Pass Ultimate, que custa R$ 45 mensais e traz o acesso ao serviço, os benefícios da Live Gold - incluindo o suporte ao multiplayer online -, o Game Pass para PC (que conta com um catálogo diferente) e o EA Play, serviço da EA similar ao Game Pass que oferece jogos da publisher como FIFA, The Sims e Battlefield. Separado, ele custa R$ 20 mensais.

Por fim, há também suporte a diversos aplicativos de entretenimento, como YouTube, Netflix, Prime Video, Crunchyroll, Telecine, Twitch e Facebook Watch, além dos serviços de streaming de música Spotify, Deezer e Soundcloud. Embora o lado central de entretenimento não seja o foco do Xbox há tempos, não faltam opções para utilizá-lo como tocador de filmes, séries e música.

Jogos

Apesar de todos os seus serviços e de seu poderoso hardware, o Xbox Series X chega às lojas sem um ponto que, ao menos se levarmos em conta o lançamento de diversos aparelhos de sucesso, pode ser considerado fundamental: não há nenhum jogo, ao menos no lançamento, que marca definitivamente a presença do Series X como um aparelho de nova geração.

Isso, ao menos para a Microsoft, não parece ser um problema. A geração de PS4 e Xbox One também largou sem um jogo que demonstrasse de fato o poder dos novos consoles, e suas capacidades só puderam ser apreciadas de fato nos anos subsequentes.

A estratégia é de longo prazo, especialmente se levarmos em conta o maciço investimento da gigante de Redmond em estúdios de games, adquirindo estúdios como a Ninja Theory (Hellblade), a Playground Games (Forza Horizon), a Obsidian (The Outer Worlds) e, mais recentemente, a Bethesda, pela bagatela de US$ 7,5 bilhões.

O Xbox Series X certamente terá jogos que demonstrarão todo o seu poder e, sobretudo, vão compor um line-up importante para a estratégia da marca com o Game Pass. No entanto, aqui estamos trabalhando com um futuro que, por mais que seja possível (e até provável), ainda é um futuro.

Sendo assim, o Series X chega no mercado prometendo as melhores versões de jogos multiplataforma, ou de títulos first-party que já podem ser jogados no Xbox One. Você pode conferir a lista completa dos jogos de lançamento do Xbox Series nesta nossa lista, mas por termos recebido o console para review antes da data de disponibilização oficial desses games, no dia 10 de novembro, apenas alguns deles estavam acessíveis.

Nos testes, utilizamos uma televisão Samsung Série 7 que suporta resoluções até 4K e com taxa de atualização de 60Hz. De modo geral, o principal aspecto que vale frisar nos testes com os jogos é a diferença que o SSD trouxe para a experiência de nova geração. Os carregamentos rápidos transformaram o entrar e sair de mapas, menus e mesmo jogos absurdamente mais dinâmicos e agradáveis. A maioria dos carregamentos mal chegou a 10 segundos (com exceção do loading inicial de Gears 5), deixando todo o processo mais prático e agradável.

A melhor funcionalidade do Series X (e do Series S) é o Quick Resume. Com ele, é possível retomar um jogo que você “minimizou” no console exatamente do ponto onde parou, similar aos salvamentos de estado de um emulador. Ainda não é muito claro a extensão dessa funcionalidade, mas nos nossos testes conseguimos manter até quatro jogos ao mesmo tempo, e, em alguns casos, o estado de suspensão dos jogos se manteve ativo mesmo após desligar o console da tomada por várias horas.

Outro benefício que chama a atenção, embora bem menos alardeado, é a velocidade de gravação dos dados no SSD para o download dos jogos. O Series X foi testado em conexões de várias velocidades diferentes - de 50Mbps a 250 Mbps - e em todos os casos utilizou 100% da velocidade disponível quando conectado ao cabo, e chegou próximo disso mesmo utilizando o sinal do Wi-Fi. É óbvio que o Series X tem um hardware de rede de ponta, mas a velocidade de instalação do SSD provavelmente é o fator mais determinante nesse resultado.

Com poucos jogos de nova geração à disposição para os testes, o Xbox Series X garante, no mínimo, uma base de qualidade de resolução e taxa de quadros vista no Xbox One X, com a maioria dos jogos rodando a 60fps e 4K.

Forza Horizon 4 e Gears 5, dois pesos-pesados da Microsoft do Xbox One, talvez sejam os que melhor representam essa demonstração de poder. O jogo de corrida da Playground é um deleite na tela em 4K, com os carros passeando em um nível de detalhes impressionante pelos campos e estradas do Reino Unido. Já o título da The Coalition parece um jogo remasterizado para a nova geração.

Em títulos multiplataforma, os avanços tecnológicos do Series X fazem as opções gráficas entre resolução e taxa de quadros oferecidas no Xbox One X se tornarem praticamente inúteis, já que todas as opções mostram uma resolução e nível de detalhe impressionantes, sem queda de quadros.

Isso pode ser visto, por exemplo, em títulos japoneses como Final Fantasy XV e Monster Hunter: World, que oferecem uma opção entre “modo resolução” e “modo desempenho”, embora os modos a 60fps apresentem a mesma qualidade gráfica do que as opções que travam a taxa a 30fps.

Títulos de desempenho problemático como Control, que teve diversos problemas nos consoles base da geração passada, também rodaram melhor, com carregamentos mais rápidos, embora a taxa de quadros estivesse travada nos 30 frames por segundo na versão de Xbox One que testamos - o game deve receber uma atualização para o Series X e Series S.

O Xbox Series X também traz uma robusta retrocompatibilidade que o faz rodar games de todas as gerações do Xbox, e em alguns dos mais antigos as melhorias são visíveis, como Gears of War 3.

Conclusão

Ao contrário do início desastrado da geração anterior, o Xbox Series X desponta com um foco definido e rumo a um cenário mais do que desejável: uma máquina totalmente focada em jogos, com especificações que prometem o melhor desempenho e serviços que tornam o acesso a estes jogos ainda mais abrangente.

Mas, neste momento, fica difícil ainda vislumbrar o que vem por aí. Em seu estado inicial, o Series X parece mais uma continuidade do Xbox One X do que um aparelho de nova geração de fato, o que pode ser visto de maneira positiva ou negativa dependendo do que você considera como nova geração.

O Xbox Series X parece apontar para um futuro brilhante - ainda que não possamos enxergá-lo completamente. A nova geração promete experiências inéditas, visuais impressionantes e conveniências de uso nunca antes vistas para os jogadores. Quando tudo isso ficar mais claro, o console da Microsoft certamente estará preparado.

Publicado 05 de Novembro de 2020
Texto Bruno Silva
Edição Victor Ferreira
Fotos e captação de imagens Lucas Cunha e Diego Queiroz
Edição de vídeo Lucas Toso
Coordenação de vídeo Carol Costa
Head de Conteúdo Diego Assis