Não se sabe quanto do sucesso global de Free Fire foi, de fato, planejado. Sendo esse impacto premeditado ou não, é incontestável que o Brasil abraçou o jogo como nenhum outro país no mundo.
Para Luiz Queiroga, consultor de esports, diversidade e inclusão, o jogo ganhou uma dimensão social no país: “O Free Fire representa o Brasil brasileiro. O Brasil real. Ele conseguiu romper barreiras que o cenário de esports no geral não rompeu — ou não faz questão de romper”.
O game da Garena é relativamente leve — são necessários 1.3 GB de armazenamento e 1GB de memória RAM para rodá-lo, de forma que pode ser reproduzido em quase qualquer celular. Isso significa que, dentro do possível, muitos podem jogá-lo. Na opinião do consultor, é por isso que “Free Fire representa o gamer brasileiro de verdade”.
“É jogado pela periferia: os caras pretos, as minas [sic], o pessoal que está marginalizado como um todo. Para mim, Free Fire é social — por mais que sinta que isso foi mais um acaso do que realmente uma estratégia. Não é que Free Fire foi programado para ser do povo. Ele é um jogo leve que o povo abraçou”.
Nobru, astro que alcançou o título de “Neymar do Free Fire” com sua trajetória vitoriosa no competitivo, opina que o battle royale aproxima, interliga e empodera a periferia.
“O fato de poder rodar em qualquer smartphone, Android e iOS, dos mais baratos até os mais caros, e sem a necessidade de consumir muitos dados 4G, torna o jogo mais democrático. Isso possibilita que qualquer jogador, com qualquer condição financeira, possa ganhar.”
Em junho, Anitta contou ao The Enemy em coletiva de imprensa que vê Free Fire, funk e futebol como “coisas do mesmo mundo”, por promover inclusão social e alavancar a favela.
“Acho importante que a gente sempre dê visibilidade e profissionalize essas pessoas, para que elas não escutem mais os comentários daqueles que estão acostumados com as coisas como eram antigamente. O povo fala ‘Isso daí é brincadeira, não é profissional’. E existe, sim, um mundo imenso de profissionais da modernidade, das coisas que já são o futuro. (...) Para mim, esses são os novos profissionais do entretenimento. São coisas acessíveis para quem mora na favela, possibilitando que a pessoa mude de vida — assim como o funk faz, como o esporte pode fazer também. São coisas do mesmo mundo.”