Born A King - A história de bak

Incansável, líder e diferenciado; A trajetória de Gabriel Lessa desde as batalhas com sua família, títulos na B4, saída conturbada da LOUD e um novo recomeço no Fluxo para o rei do Free Fire emulador

Bruno Pereira e Gabriel Reis Texto
Foto: Saymon Sampaio/Fluxo
Foto: Saymon Sampaio/Fluxo

De sorriso fácil, fala arrastada, muitos gestos e um coração imenso, Gabriel “bak” Lessa se inclinou na cadeira antes de pedir desculpas pelo pequeno atraso na entrevista, em uma quinta-feira chuvosa em São Paulo.

O rei do Free Fire emulador do Brasil (e, portanto, do mundo) conquista qualquer um dentro e fora do servidor como bak, um líder nato, extremamente habilidoso e com milhões de fãs. No entanto, o balanço de cabeça do astro quando perguntado sobre o Gabriel Lessa, e não o bak, o fez abrir um sorriso ainda mais sincero.

“Beleza, vamos falar sobre o Gabriel Lessa”, começou.

Capítulo 1 - Família, futebol e talento

Carioca nascido e criado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, bak é filho de pais separados desde antes mesmo do pequeno Gabriel nascer. Nunca teve muito contato com o pai e sua criação se dividiu entre a mãe, Michele, os avós maternos e sua tia, Marcela. O contato com os irmãos é próximo — Kauã, por parte do pai, e Bia, por parte da mãe.

Uma coisa não muda muito do Gabriel para o bak: a competitividade. Na verdade, ele já nasceu com ela e não demorou muito para descobri-la, ainda longe do computador, mas com bola no pé e cerol na mão.

“Futebol é religião, e Baixada é bagulho doido no Rio”, diz bak. “Na minha família, todo mundo é flamenguista, menos o meu avô, Erenir, que é botafoguense. Sempre fui colado nele, então, ele me puxou para o lado do Botafogo. Eu sempre fui muito mais de brincar na rua do que qualquer outra coisa quando era criança, então, sempre que meu avô saía de casa pra fazer alguma coisa, eu corria atrás dele para jogar bola, soltar pipa, brincar de bolinha de gude e fazer o que desse na telha”.

“Na escola, eu jogava tudo. Sub-9, Sub-10 e até Sub-15, quando eu tinha dez anos. Todo mundo me conhecia, sabia que eu conseguia jogar contra qualquer um, então, sempre me colocavam de titular. Em alguns jogos, apanhava feito uma desgraça, mas levantava e continuava jogando”.

Quando não jogava na escola, bak batia bola em qualquer lugar. De tarde na praça, de noite no quintal de casa… “Nunca soube o que é não tentar ser o melhor que eu conseguia, não importa o que estou fazendo. Sempre me doei ao máximo. Você tinha que ver o quintal, cara. Era apertado, e eu ficava o dia todo lá chutando bola e empinando pipa, até cortar o varal da minha vó eu já cortei, sem querer”, ri Gabriel.

Quando somos mais novos, também tem um fator que ajuda: a gente não tem medo de nada
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bak
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Foi então que bak teve a primeira mudança de sua vida. Deixou Nova Iguaçu e a casa em que morava com a mãe, tia e avós para ir para Vista Alegre, bairro do Rio de Janeiro, com a mãe e o padrasto. Ainda com dez anos, bak começou a ficar mais sozinho em casa, já que a mãe trabalhava o dia inteiro para dar as melhores condições possíveis para o filho, como uma escola particular.

“Entendi cedo o sacrifício que a minha mãe fazia. Não vim de uma família em que todo mundo tinha uma condição foda, tá ligado? Nunca passamos fome, mas não conseguíamos fazer o que queríamos ou comprar tudo o que queríamos. Algumas coisas eram um luxo que não podíamos ter, como comer toda semana em restaurantes, por exemplo”.

“Acho que herdei um pouco desse espírito competitivo da minha família também. Sempre fomos muito batalhadores. Meu avô trabalhou mais de trinta anos na mesma empresa, subindo aos poucos. Trabalhou na rua, depois foi para o escritório, buscando subir na vida e dar melhores condições para a própria família”.

Às vezes, achamos que competição se resume a esportes. Ganhar, perder, fazer um gol ou conseguir uma kill. Mas a verdade é que, para a grande maioria, batalhar é um esforço diário. É sair de casa de manhã e voltar só depois que o sol já se pôs, com um dinheiro no bolso e comida na mesa. Isso sim é batalhar para vencer e (sobre)viver.

No começo da adolescência, enquanto o exemplo se mantinha dentro de casa, o sangue da competição corria solto nas quadras da escola. “Eu sempre fui o moleque que era inteligente, mas do grupo da bagunça”, ri bak. “Não tinha medo de me enturmar e era bom de bola, então, os outros me viam jogando e chamavam para os times — e assim eu conhecia todo mundo”.

Garrafas pet batidas nas traves da arquibancada, gritos da torcida e uma quadra de cimento queimado. Pertencimento. É um sentimento difícil de explicar, esse de quando você entende o que lhe faz bem. Mas quando momentos ficam vivos na sua cabeça, é porque alguma coisa aconteceu.

“Lembro perfeitamente da primeira vez que minha mãe conseguiu dar um tempo do trabalho para me ver jogar pelo colégio”, diz bak, repassando o filme em sua cabeça. “O goleiro era um amigo meu, que sempre jogou comigo em tudo quanto é lugar. Aí nesse dia ele pegou a bola e lançou com uma mão lá na frente. Eu dominei no peito, dei um lençol no zagueiro e chutei… e a bola explodiu no travessão, junto com um grito da torcida e eu colocando as mãos na cabeça”.

“Aí eu olhei para a minha mãe e ela estava com aquela cara: ‘o que foi isso?!’. Ela não tinha noção do quão bom eu era, mas ela entendeu naquele momento”.

E assim nascia o bak.


Capítulo 2 - CrossFire, o começo na competição

O computador demorou para entrar na vida de bak. Por muito tempo, o esporte se limitou ao futebol nas escolas e no quintal. A entrada no mundo virtual se deu apenas quando ele se mudou para o centro do Rio de Janeiro. A terceira mudança de casa e colégio. Em um bairro desconhecido, sua mãe não o deixava ficar muito tempo na rua, e, por estar dentro de casa, não tardou para bak se encontrar nos jogos.

“Era casa, curso e direto para casa. Até bola na rua eu parei de jogar. Mas o pior mesmo foi que nunca conseguia continuar com as coisas. Troquei muito de colégio e de bairro, então, isso fazia com que eu deixasse diversas amizades que ia fazendo para trás e perdi contato com muitas pessoas. Na internet e nos jogos, conheci outras pessoas que continuaria vendo”.

Bak se jogou de cara em um jogo chamado Transformice, no qual ratos competiam para buscar um queijo em algum lugar na tela e voltar para o ponto inicial. “Gastei horas nesse jogo, fiquei viciado mesmo. Foi a primeira vez que me senti competindo em algo sem ser futebol. Pouco depois, encontrei o CrossFire”.

“Foi um divisor de águas”, refletiu bak, que suspirou ao lembrar de mais uma escola onde estudou. “Todo mundo chegava e dizia que era muito bom no CrossFire, então eu pensei: pô, vou baixar e começar a jogar também”.

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Assim como foi no Transformice, ele logo ficou bom no CrossFire, mas não demorou muito para largar o jogo e ir de encontro ao Call of Duty, que havia se tornado febre entre os amigos. Depois de muita insistência, ganhou um Xbox da mãe e se juntou aos amigos.

O COD intensificou sua paixão pelo cenário competitivo. Na época, além de se viciar no jogo, se viciou também nos vídeos de quickshot que eram publicados pelos jogadores da FaZe Clan.

No Call of Duty, bak também se destacou, mas a mudança constante de versões do jogo o levou a abandoná-lo. O retorno definitivo ao CrossFire se deu quando estava fazendo jovem aprendiz. Montou um time com os amigos do trabalho e começou a dar a vida. “Mas não passei dos qualificatórios”, relembrou.

Bak acredita que não vingou no CF porque perdeu a época de ouro do competitivo, a mesma na qual o amigo Whisky se destacou. Foram várias as tentativas, mesmo em meio às panelinhas que dominavam o competitivo na época, mas não era para ser. Depois de muitos tropeços, falta de oportunidades e computador instável, bak desistiu.

Foi desanimado com jogos passados que, sem querer, Gabriel Lessa topou com o Free Fire, por meio de um amigo que também havia abandonado o CF. Bak deixou todo o resto de lado. Agora, o Free Fire era a bola da vez. Mas talvez até mais do que isso, algo ali brilhou os olhos do garoto, uma vontade de ir além. “Falei para a minha mãe que para a vida que eu queria levar, o Free Fire não me beneficiaria…”

... a não ser que eu fosse o melhor do mundo
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bak

Capítulo 3 - B4k

Desde que começou no Free Fire, bak sempre preferiu o emulador. Pegou o computador, baixou o PhoenixOS, que simulava o Android no PC, e começou a jogar. O gol que nunca marcou no CrossFire, marcaria no Free Fire.

“O computador do meu padrasto era horrível, mas, nesse meio tempo, eu comprei um novo e comecei a focar de vez no Free Fire. O cenário estava no início e eu tinha que aproveitar, não poderia deixar que acontecesse o mesmo que no CrossFire. Eu tinha uma noção de como se construiria o competitivo e falei para mim mesmo que daria tudo de mim aqui”.

O competitivo de Free Fire estava ganhando forma na época, e um dos campeonatos de prestígio era a BSOF. Os times ainda eram guildas, e bak buscou uma para fazer parte. Entra em cena a B4, um dos capítulos competitivos mais importantes de sua carreira. Sendo frio e ao mesmo tempo calculista, foi rapidamente notado por Doctor, que cuidava das operações da equipe.

Bak liderou as principais lines da B4, ganhou uma série de títulos ao lado de nomes como fac, thg, Manel e autoboot e abalou o cenário emulador ao lado de Since, Dantes e Krawk (Rekkon), uma das equipes mais hypadas até hoje. Relembrando os momentos com o seus últimos companheiros de B4, bak é só felicidade e faz questão de elogiar muito o time, que, na sua opinião, apesar de muito bom, não chega a ser o maior da história.

“Era muito chato jogar contra a gente. Ganhávamos tudo sem fazer muita coisa, porque na época eu, Since, Dantas e Krawk comíamos o jogo. A gente dava um BOOYAH! com, por exemplo, 15 kills, e um tinha matado 10. Sempre brigávamos pelos MVPs nos campeonatos. Éramos simplesmente muito bons! Foi um time diferenciado, mas não acho que tenha sido o melhor da história”.

Determinação e confiança são duas palavras que definem bem a história que bak construiu na B4. Desde que chegou na equipe, ele deixou claro que queria ser o melhor, e isso só aconteceria com os jogadores certos.

Eu não queria perder, nunca gostei de perder, então sempre dei tudo de mim para ser um vencedor
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bak
Imagem: Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bak sempre esperou muito dos companheiros de equipe. O sentimento de derrota nunca o agradou, e ele sempre se entregava ao máximo para ser campeão de tudo. Não era sobre provar aos outros que ele era capaz, pelo contrário. Ele queria provar a si mesmo que era um vencedor e que seus esforços não eram desperdício.

O espírito de liderança foi uma das características de ouro que bak desenvolveu em seus tempos de B4. Sempre queria os melhores ao seu lado, sendo amigos ou não, porque no final das contas, se a dedicação e a entrega não fossem parecidas com as suas, ele procuraria substitutos.

Em paralelo a várias tomadas de decisões, bak ainda dedicava boa parte do seu tempo às lives. O competitivo foi um dos grandes responsáveis pelo seu sucesso como criador de conteúdo. Foi disputando e se destacando em campeonatos como a Liga das Estrelas que começou a ganhar visibilidade.

Os bastidores dos tempos de glória, ainda assim, eram conturbados. O desânimo e a instabilidade foram um dos principais motivos que levaram bak a deixar a B4. O carioca fazia lives na Cube TV e era um dos responsáveis pelo aluguel da casa onde morava com fac, thg, Manel e autoboot. O fim da plataforma fez todo mundo repensar o futuro, uma vez que seria impossível manter a casa sem as transmissões. Em meio a tudo isso, uma interrupção materna. Michele pediu que bak retornasse para casa em meio às decisões que teria de tomar. “Era hora de refletir e pensar o que estávamos fazendo de errado”.

Bak voltou para o Rio de Janeiro bem na época das finais da última Free Fire Pro League e da primeira edição do Free Fire World Series. O retorno à Cidade Maravilhosa mudou o rumo da carreira de bak, pois uma ligação o separava do estrelato na LOUD.

Ele só não havia atendido o telefone ainda.


Capítulo 4 - LOUD bak

17 de novembro de 2019, o telefone de bak tocou.

Do outro lado, Bruno “PlayHard” o convidava para fazer parte da LOUD. O que era o sonho de muita gente foi uma dúvida para bak, que pensou nos companheiros de B4 e falou à mãe que não aceitaria a proposta.

Entre os motivos, estava também o medo, que não o afetava quando era criança, mas pegou o adulto de 19 anos. “O conteúdo que a LOUD criava na época era para um público mais infantil, então, eu tinha medo de ir, não me encaixar e acabar sofrendo hate por causa disso”.

Michele conversou com o filho ao longo de uma semana, e, depois de muito vai e vem, bak decidiu que atacaria a oportunidade. “Marquei uma chamada com meus companheiros da B4 e falei que tinha chegado a hora de seguirmos caminhos diferentes, que eu tinha acabado de receber uma uma proposta da LOUD e era irrecusável”.

No último sábado do mês de novembro, de maneira tímida, bak era anunciado por uma organização. Foi a primeira vez que ele não escolheu; foi escolhido. Bak chegou como membro da comissão técnica do time de Free Fire e também como influenciador. O ódio que ele esperava receber da torcida não aconteceu e, na primeira transmissão, ele alcançou 100 mil pessoas. O número se manteve constante e bak foi cada vez mais se destacando como influenciador, mas a veia competitiva pulsava — e, em meio a tudo isso, pensou: “é impossível que eu continue como técnico, não tem jeito”.

Meses depois, no início de 2020, bak ganhou um companheiro inesperado que o motivou ainda mais a correr atrás do seu espírito competitivo dentro da LOUD. Thurzin, com 13 anos, foi anunciado pela organização e tinha sede de competição. O “seu filho”, como muitas vezes colocou bak ao longo dos últimos anos, também tinha sangue de vitórias correndo pelas veias. Bak, então, “meteu o louco” e conversou com PH sobre a vontade de voltar a competir. O dono da equipe deu o aval, mas bak não poderia usar a tag da LOUD ou de outra organização nas competições.

Com um pouco mais de liberdade para tomar decisões, bak montou a Equipe X, estrelando thurzin, glz e drg, com Whisky no banco de reservas.

Bak queria voltar a competir com dois ex-companheiros de CrossFire, glz e drg, que na época defendiam a Seal, na época liderada por Valleska, atualmente técnica da New X na Série B da Liga Brasileira de Free Fire. “Falei com a Val que queria voltar a competir e montar uma equipe com eles, mas que nós não poderíamos usar a tag de nenhuma organização. Ela abraçou a ideia e nós montamos a Equipe X”.

O time caiu nas graças do público e arrastava multidões para as transmissões dos campeonatos que disputava. O hype despertado pela Equipe X levou a LOUD a mudar de ideia e investir no cenário emulador. Mais uma vez, bak tomou a liberdade de montar a equipe. Bak e thur eram parte da LOUD, então, faltavam dois para completar. Jordan e Lzinn, da lendária GOD Elite, foram os escolhidos.

Era o início de uma das equipes mais avassaladoras do cenário emulador.

O elenco formado por bak, thur, Jordan e Lzinn fez história e conquistou praticamente tudo o que disputou no auge. Isso, é claro, se deu muito pelo nível da equipe, mas o fator bak foi muito importante para que as coisas funcionassem bem. Muito tempo depois daquela B4, ele tinha novamente o controle nas mãos.

Não deixou de ser influenciador, mas era mais que isso. Fazia de tudo um pouco pela organização, algo que era de sua vontade desde o início. Comodismo e zona de conforto nunca fizeram parte da sua rotina. Mudando o tom de voz, ele engatou um discurso que estava entalado na garganta há muito tempo.

Bak cresceu com a LOUD, não foi algo que simplesmente aconteceu do nada, foi trabalho duro, entrega. O atleta trouxe à organização tudo o que aprendeu ao longo de uma vida e teve a oportunidade de reproduzir na B4. Buscou a todo momento ir além e trabalhou muito por isso, o que é completamente compreensível quando se conhece a história de bak, que durante toda a sua vida assistiu sua própria família lutando para vencer na vida.

Já a LOUD teve em casa alguém que era mais do que um atleta, já que bak nunca se contentou com entregar apenas o que era esperado de um jogador. Ele pensava, se diferenciava, se entregava de corpo e alma para todos os projetos: de montagem do elenco a criação de conteúdo, gravações, projetos e muito mais. Hoje, a organização sabe extrair mais de todos que lá estão, de jogadores à staff, passando por criadores de conteúdo e influenciadores.

“Eu entrei na LOUD para trabalhar, e no início muita gente comentava que eu era muito focado em trabalho, e é a real, mano. Eu não vim de uma família que tinha tudo, então, todas as vezes que eu tenho uma oportunidade nas mãos, eu me entrego 200%. Eu quero fazer acontecer, se eu tiver a chance de ganhar uma ou dez vezes, eu quero ganhar as dez”.

Demorou, mas bak conquistou a confiança de quem importava e começou a tirar suas ideias do papel. Noise se tornou sinônimo de sucesso e conquistou uma legião de fãs. O canal da LOUD no YouTube focado no público do Free Fire? Ideia do bak, que foi além na realização do primeiro campeonato presencial da história do cenário emulador, um evento que entrou para a história e quebrou recordes na Twitch com mais de 511 mil espectadores simultâneos.

Bak foi aos poucos deixando a indignação de lado, como se tivesse tirado um peso das costas. Eufórico, fez questão de exaltar a Noise. Mesmo que estivesse nitidamente cansado, se alegrou ao lembrar os bons momentos da equipe e a invencibilidade que conquistaram nos campeonatos da NFA. Foram três campeonatos disputados e três títulos conquistados.

Ironicamente, foi a partir da NFA que tudo começou a dar errado. Jordan foi banido e, consequentemente, a Noise deixou de disputar todas as competições organizadas pela NFA. Bak tinha sete títulos na prateleira, enquanto seus companheiros, que antes só bateram na trave, tinham acabado de conquistar não um, ou dois, mas três campeonatos da organizadora.

Imagem: LOUD
Imagem: LOUD

“Muita gente se pergunta porque a gente fala tanto sobre a NFA, mas foi o primeiro campeonato emulador que vingou, tem um valor significativo para todo mundo do cenário. Estávamos muito bem nas competições, uma fase absurda, e até na última Copa NFA que abandonamos no meio, estávamos na liderança. Eu considero que saímos invictos”.

O banimento do Jordan desencadeou uma série de problemas na Noise, que, beirando uma má fase, foi atrás de reforços. DaCruz ganhou espaço na equipe, mas o momento não era dos melhores. Bak evita falar em desânimo. “A gente fala muito no termo desanimado, mas na verdade estávamos esgotados”, desabafa.

“Jogávamos muitos campeonatos no mesmo dia, eu tinha que entregar 120h de live e ainda tinham as gravações para os canais da LOUD. Tudo isso era muito cansativo. Na época, a gente entrava nos campeonatos com o pensamento de que já havíamos conquistado aquilo antes”.

“Queríamos ganhar mais, claro, tentamos dar o nosso máximo todas as vezes, mas não conseguíamos, era impossível jogar mais de duas horas seguidas sem alguém tiltar. Muita gente me criticou quando não me via nos treinos, mas quando eu faltava era porque o Jordan me pedia para descansar, pois sabia que eu estava no meu limite. Nunca faltou entrega. A gente tentou muito, mas, infelizmente, apesar dos esforços, não deu”.

O instinto de líder se aflora quando bak relembra os tempos difíceis com a Noise. Ele poderia muito bem culpar um ou outro, mas não. Bak sempre se diferenciou por pensar, sair da caixinha, e independente de ser uma pessoa extremamente competitiva, nunca colocou a competição à frente dos seus. Por isso, quando juntamos a sua entrega nos bastidores com o suor desprendido pela equipe, entendemos por que bak deixou de ser ele mesmo nos últimos momentos de Noise e por que uma mudança era necessária.

Mas isso não foi visto pelo público.

Ingrato, traidor, mal agradecido; bak foi de ídolo a odiado em pouco tempo. O fantasma do ódio gratuito que ele temeu antes de aceitar a proposta para entrar na LOUD o aterrorizou nos seus últimos meses de organização, depois de muito trabalho e dedicação.

“A galera fala muito hoje em dia que eu fui ajudado pela LOUD, que eu fui ingrato, mal agradecido e não fiz porra nenhuma pela organização, mas não é bem assim. Eu trabalhei muito em off, não cheguei lá com liberdade para fazer o que eu quisesse, não é assim que funciona, mano.”

Sempre haverá um pouco de LOUD em bak, e de bak na LOUD, ainda que há quem diga que faltou esforço. Durante todo o tempo bak faz questão de deixar claro que muito foi feito pela Noise, eles queriam continuar sendo os melhores, mas caíram no esgotamento que muitas vezes passa despercebido pela torcida, às vezes incapaz de se colocar no lugar do atleta e entender que, por trás daquela pessoa, existe um ser humano.

Por trás de bak, existe o Gabriel Lessa, e o Gabriel queria voltar a ser feliz.


Capítulo 5 - Em busca da felicidade

A combinação do espírito competitivo com a solidão, algo que foi muito comum na carreira de bak, bateu com o desânimo e a infelicidade na LOUD. Depois de refletir muito, bak decidiu que deixaria a organização e tomaria um tempo para pensar no futuro, bem como fez na época que voltou para casa a pedido da mãe, após a B4. Vivendo um momento conturbado, bak pensou em se aposentar.

A ideia não foi longe, e um dos motivos foi a inspiração em um xará, Gabriel Toledo, o FalleN. Multicampeão no Counter-Strike: Global Offensive, além de empresário, dono de marcas fortíssimas e um dos responsáveis pelo sucesso do Brasil no cenário internacional de CS:GO, FalleN é referência aos 30 anos de idade porque, mesmo após inúmeros tropeços nos últimos anos, não desistiu. Muito pelo contrário, se reinventou e desafiou a si mesmo ir além.

Cogitei de verdade me aposentar, mas aí você vê o FalleN…
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Bak não queria mais só competir, ele queria crescer estando ao lado de amigos. Durante o tempo que esteve fora, o carioca recebeu inúmeras propostas, nacionais e internacionais, a maioria com o mesmo propósito, mas decidiu que seguiria o Fluxo. O talento que fez seu nome na B4 e o profissional que quebrou barreiras na LOUD abriram espaço para que o bak fosse o Gabriel Lessa, alguém de muita paz, que encontrou a felicidade ao lado dos amigos.

“Eu queria autonomia, mas sem começar do zero, porque eu não tinha cabeça para isso. Foi por isso que eu vim para o Fluxo. Nós costumamos dizer que somos uma tríade, eu Nobru e Cerol, todos sobrecarregados, mas um ajudando o outro, ao mesmo tempo que tem a 3C cuidando da gente”.

Bak ficou fora por alguns meses, mas manteve-se à par de tudo o que acontecia no cenário emulador, um pensador nato. Montou um elenco que abalou as estruturas desde o anúncio, recheado de carros velozes, no melhor estilo Velozes e Furiosos: Operação Rio.

De bem com a vida, bak fala do time emulador do Fluxo em tom de muita confiança. Fica nítido que, ao falar sobre os novos companheiros, ele lembra de tudo o que passou para chegar até aqui, desde as cobranças aos ex-companheiros de B4 até a entrega que era constante nos tempos de Noise. “O competitivo é isso! Quando todo mundo do time está bem um com outro, treinando e se esforçando, tudo flui”.

Do futebol nas quadras de Nova Iguaçu aos tempos de Transformice no computador do padrasto no centro do Rio de Janeiro, o garoto Gabriel Lessa se transformou em bak principalmente pelo suor, dedicação e competitividade, três ingredientes que trouxe de casa e construiu à sua maneira em cada lugar que passou.

Em bak, há um pouco de cada equipe e jogador com quem conviveu no decorrer de sua carreira, e em cada um destes está um pouco da liderança do garoto que nunca se contentou com fazer apenas o que era a sua obrigação. Era necessário ir além, se entregar de corpo e alma mesmo sob pressão, com a torcida ou outras pessoas confiando ou não no seu sucesso.

Sua liderança nata vem não apenas do talento e habilidade em cada jogo que passou, lapidados por horas de treino, mas também pelo exemplo fora de jogo. Como disse Michael Jordan na série The Last Dance, “nunca pedi nada a ninguém que eu mesmo não estivesse entregando dentro e fora de quadra”.

O neto do seu Perré, que seguia os passos do avô para bater bola na rua, nasceu um rei, mas foi aprendendo .

E de sua casa no Rio de Janeiro, hoje Michele assiste da arquibancada as jogadas do filho.

Recebendo um arremesso lá de trás de sua família,

Dominando com habilidade, sangue e suor,

Aplicando um lençol em suas dificuldades,

Chutando...

E marcando um gol digno de placa.

Publicado 24 de Setembro de 2021
Edição Rodrigo Guerra e Diego Lima
Imagens Fluxo, LOUD e bak
Tecnologia Igor Esteves, Eliabe Castro e Thays Santos