O Prêmio eSports Brasil soltou uma lista de concorrentes em cada categoria e chamou a atenção da internet por possuir apenas uma mulher entre os participantes e somente três juradas entre os 34 escolhidos. A discussão reacendeu a polêmica sobre a presença feminina no cenário competitivo. E enquanto uma parte questionava o motivo, outra repetia os clichês sobre as diferenças em capacidade dos gêneros.

Será que de fato não existe representatividade a ponto de atletas ficarem de fora de uma premiação?

A resposta é: não, definitivamente. Indiana Black, Kelsie Pelling, Kim se-yeon, Anna Prosser, Stephanie Harvey, Julia Kiran, Bruna Marvila, Ricki Ortiz, Camila Natale, Eefje Depoortere, Sasha Hostyn, Zainab Turkie, Michaela Lintrup, Maria Creveling e Rumay Wang. Já ouviu falar desses nomes?

Todas elas, sem exceção, são mulheres de destaque no mundo dos eSports em diferentes aspectos; dentro e fora do Brasil. Por exemplo, Indiana “Froskurinn” Black é comentarista/analista de League of Legends e representa a capacidade subestimada das mulheres de entender os aspectos analíticos de jogos competitivos. Pensar o contrário não faz sentido.

Em um âmbito de habilidade, temos Camila “cAmyy” Natale Bruna "bizinha" Marvila, consideradas as melhores jogadoras de Counter-Strike: Global Offensive do Brasil, integrantes do melhor time feminino brasileiro atualmente. Além dela, Julia “Juliano” Kiran, Zainab "zAAz" Turkie e Michaela "mimimicheater" Lintrup compõem um trio poderoso que conquistou diversos títulos internacionais em CS:GO, como o Intel Challenge Katowice três anos seguidos (2015, 2016 e 2017) . Não à toa elas são consideradas as melhores do mundo.

Em Starcraft II, Sasha “Scarlett” Hostyn tem a resposta para quem duvida da capacidade de mulheres de lidarem com situações de pressão ou de enfrentarem homens em campeonatos profissionais. A jogadora venceu Diego "Kelazhur" Schwimer (destaque no cenário brasileiro e indicado ao Prêmio eSports Brasil) e deixou o rapaz em segundo lugar no Kings of the North Season 3.

Outras figuras, como Anna Prosser e Eefje Depoortere atuam dentro das áreas de eSports mas não competem diretamente. Anna começou a carreira como gerente da equipe de StarCraft II da Evil Geniuses, e hoje é uma das figuras que luta para que mulheres se sintam recebidas na comunidade de jogos, além de trabalhar como apresentadora de torneios, entrevistadora e até narradora em competições. Eefje é mais conhecida como Sjokz, uma das figuras mais famosas de League of Legends e mostra que para entender eSports e ser capaz de debater sobre não exige nada além de vontade e dedicação; é algo que não depende de gênero.

Kelsie “KayPea” Pelling é o soco no estômago para quem afirma que mulheres “só sabem jogar de suporte”. A jogadora faz livestreams na Twitch e conquistou uma legião de espectadores por fatores que vão além da aparência. Ela não só atua em diversas rotas dentro do jogo, como também exerce diferentes funções com muita habilidade. Maria “Sakuya” Creveling foi a primeira mulher a participar da LCS NA, liga regular dos Estados Unidos que traz as melhores equipes de League of Legends da região, e foi peça essencial para o desempenho da Renegades (equipe que representava com o apelido de Remilia) na época.

Rumay Wang, mais conhecida como Hafu, começou sua carreira em World of Warcraft e provou que mulheres acompanham o ritmo de jogadores homens e participam de equipes mistas sem problemas. Atualmente, Hafu compete e faz transmissões ao vivo de Hearthstone, mas durante sua atuação em WoW, Hafu venceu os torneios MLG Dallas 2008 (WoW) e MLG Orlando 2008 (WoW) com outros dois jogadores homens. Em 2011, garantiu DreamHack Summer 2011 de Bloodline Champions com outros dois parceiros.

O caso de Kim “Geguri” Se-yeon chegou a causar revoltas nas redes sociais. Por jogar de forma maestral com a heroína Zarya de Overwatch, Geguri foi acusada de estar usando programas ilegais para realizar seus feitos dentro do jogo. A jogadora precisou comprovar com vídeos e uma chancela da própria Blizzard para fazer o público (e jogadores profissionais) acreditar que fazia as jogadas por ser habilidosa.

A grande verdade é que não existe nenhum motivo em particular para que as mulheres não recebam o mesmo reconhecimento que homens em eSports. Aqui no Brasil, mesmo sendo minoria, há uma parcela forte de atletas mulheres que merecem reconhecimento não só por seu talento, mas pela garra e força ao seguir uma carreira que não as abraça. Ainda mais importante é notar que a presença delas não se restringe a um tipo de jogo.

É imprescindível ressaltar, porém, que a polêmica não se resume ao prêmio em questão. Ele apenas perpetua uma impressão errônea sobre a presença feminina no meio. Elas estão em todas as áreas, do competitivo à comunidade. E como é possível notar com os exemplos citados, negar essa importância é excluir uma parte importante e essencial para o cenário competitivo do país.