O estranho caso do cachorro morto - Mark Haddon
Nova York de Carrie, Samantha,
Charlotte e Miranda

Tetê Ribeiro
Snoopy, eu te amo
Charles M. Schulz

Christopher Boone odeia coisas marrons e amarelas. Perde a fome quando, no seu prato, um tipo de comida encosta em outro. Sabe de cor todas as capitais do mundo e os números primos até 7.507. Adora assistir a documentários no Discovery Channel. Detesta piadas e metáforas, porque quase nunca as entende. Gosta muito de cachorros (que não fazem piadas) e bem pouco de lugares lotados. Quando está nervoso, faz contas mentalmente para se acalmar.

Chris é o protagonista de O estranho caso do cachorro morto (Editora Record), livro daqueles que quando você termina, fica tentando lembrar há quanto tempo não lia algo tão bom. Seu genial autor, Mark Haddon, conta alguns meses da intrigante vida desse menino de quinze anos que sofre de uma espécie de autismo chamada Síndrome de Asperger. Fã de Sherlock Holmes, o garoto decide investigar a morte de Wellington, o cachorro da vizinha. Tudo porque, de repente, ele é o principal suspeito do crime e acaba sendo preso - emoções demais para Chris.

Quando conta suas aventuras à sua professora (em uma escola para garotos especiais), ela sugere que escreva um livro, relatando e organizando todas as suas investigações sobre o assassinato. O resultado desse trabalho é o próprio livro O estranho caso do cachorro morto. Assim sendo, a linguagem é bem simples e cativante e há vários gráficos, tabelas e diagramas explicando as pistas - o que pode soar maçante tem o efeito contrário quando sai da cabeça de Chris: deixa o livro ainda mais intrigante.

Mas não foi só na maneira de escrever que Mark Haddon expressou um profundo conhecimento da doença. Ajudante de classe em uma escola como a do protagonista por alguns anos, ele conviveu com crianças autistas e soube expressar essa experiência no livro. Prova disso é o artigo (leia aqui, em inglês) de um adolescente que sofre do mesmo mal elogiando Haddon e encontrando várias semelhanças entre Chris e ele mesmo.

Logo nas primeiras páginas, Chris deixa bem claro que esse não será um livro engraçado. No entanto, fica difícil não rir (ainda que com uma dose de constrangimento) das trapalhadas e da falta de malícia do garoto. Ainda mais difícil é deixar o livro de lado antes de chegar à última página.

Tudo isso para dizer que O estranho caso do cachorro morto caiu meio que por acaso nas minhas mãos (e se transformou em uma excelente surpresa). Não foi nenhum amigo que me deu a dica, nem havia lido boas resenhas sobre ele em algum jornal. Comprei porque achei o título curioso, a capa idem e devido à minha quedinha por autores ingleses. Ok, admito que são motivos um pouco banais.

Mas e você? O que te faz escolher um livro? Indicação de amigos, boas críticas nos jornais, prêmios literários? Todos esses são motivos justos. Mas, às vezes, são razões banais como uma capa bonita, uma promoção leve dois e ganhe um que valem a pena. E o melhor desses livros que você começa a ler meio que por acaso é o fator surpresa. Lógico que há o risco de a história ser um verdadeiro fiasco, mas quando a surpresa é boa...

Recentemente, li vários livros assim, meio sem querer e tive ótimas surpresas. E o melhor é que eles são bem fáceis de encontrar; dessa vez, nada de livros que ainda não chegaram por aqui ;o)

É o amor...

Eu sei que o Dia dos Namorados já passou e que ninguém agüenta mais essa história de o amor está no ar, mas não deu tempo de falar desse livro na coluna passada e não posso deixar passar em branco.

Poucas coisas nessa vida são unânimes. Sorvete de chocolate, Orkut, beijar na boca (não necessariamente nessa ordem) e... Snoopy. Você conhece alguém que não goste do beagle do Charles Schulz? Eu não. E Snoopy, Eu Te Amo (Editora Conrad) é uma coletânea fofa (e imperdível) das tirinhas mais apaixonadas de Charlie Brown e seus amigos. Nas 96 páginas, Snoopy desfila todos os incontáveis cartões com coraçõezinhos vermelhos que recebeu de suas fãs, enquanto Charlie Brown tenta descobrir o porquê de não ter recebido nenhum. E, que puxa, sua angústia cresce à medida que percebe que não, não há nenhum furo em sua caixa postal. Cheio de um delicioso sentimentalismo, de caixas de chocolate, provas de amizade e decepções amorosas, o livro ainda revela o que todos querem saber: será que esse ano Charlie Brown vai ter coragem de se declarar àquela famosa garotinha ruiva?!

New York, New York

E falando em unanimidades, o seriado Sex and the City não é uma delas. Concordo que os admiradores e admiradoras de Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda estão espalhados pelo mundo aos milhões, mas eu não sou uma delas. Talvez seja só falta de hábito, de assistir ao seriado com freqüência. O fato é que por a série não estar entre as minha favoritas, dificilmente compraria A Nova York de Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda (Editora Arx/Siciliano), da jornalista Teté Ribeiro. A sorte é que, assim como os outros citados na coluna desse mês, o livro acabou me encontrando. E, mais uma vez, fui surpreendida.

Com ótimas fotos e uma diagramação moderna, ele pode ser considerado um verdadeiro guia da Big Apple para pessoas descoladas. Todas as lojas imprescindíveis, os cafés charmosos, os cantinhos românticos, os melhores parques, os hotéis mais luxuosos, os restaurantes mais badalados da agenda das quatro personagens estão no livro, com endereço e tudo. Os que, diferente de mim, estão mais preocupados com o seriado do que com Nova York, podem se esbaldar com dezenas de dicas, citações e perfis das atrizes principais.

Capítulo à parte é o que fala da participação de Sonia Braga e do Brasil em geral, cuja frase de abertura, Você tem de ser bem cuidadosa com quem convida para ir ao Brasil, foi dita por Samantha na terceira temporada. Há outras ainda mais impagáveis, como a minha preferida: Sempre fico intrigada quando alguém se muda de Nova York. Para onde é que eles vão?!?.

Bom, por hoje é só. Até o mês que vem e tomara que um livro-ótima-supresa cai em suas mãos dia desses...

Promoção

Livros românticos serão assunto de uma próxima coluna. Quer dar uma mãozinha? Me mande um email dizendo qual é, na sua opinião, o livro mais romântico de todos os tempos. Ah, lógico que também quero saber a razão... A resposta mais criativa ganha um livro surpresa.

* Bookends = objeto usado, geralmente em pares, para manter uma fila de livros em pé, tudo organizadinho na estante :o)