From Software, de Demon Souls Dark Souls I e II, continua sua série de games conhecidos pela dificuldade extrema em Bloodborne. O título, exclusivo para PlayStation 4, foi dirigido pelo criador desse verdadeiro subgênero de RPG e combate, Hidetaka Miyazaki. O desenvolvedor aqui mistura conceitos dos jogos anteriores e cria algumas novidades, apresentando um sucessor diferente em estilo, apostando em ambientação de terror vitoriano, mas essencialmente muito próximo da série Souls.

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Como nos predecessores, a insistência é parte da experiência. O começo da jornada é especialmente penoso. São necessárias várias horas para derrotar o primeiro grande chefe, por exemplo, e qualquer inimigo, por mais manjado que já esteja depois de alguns encontros, ainda é capaz de matar o protagonista. As mortes, aliás, fazem com que o jogador perca todos os seus pontos - aplicáveis nos upgrades de status ou na compra de novo equipamento -, que ficam disponíveis para uma última tentativa de recuperação (que pode exigir a derrota do mesmo oponente que o matou anteriormente). Já vimos esse filme antes e quem quer que tenha jogado os títulos anteriores não deve ter dificuldade em entender a mecânica ou estranhar a completa falta de explicações do jogo. Da história ao funcionamento de itens e atualizações, é tudo bastante nebuloso em Bloodborne - e cabe ao jogador entendê-lo sem a já usual ajudinha dos desenvolvedores, que ultimamente têm literalmente pintado "x" nos seus mapas para não frustrar ninguém.

O combate segue como o ponto alto da linha. Armas tão exóticas quanto improváveis, que se transformam entre curta e longa distância com um botão, permitem mudanças de estratégia de embate em tempo real. Esquiva de olho no medidor de stamina, tudo sempre calculado para que a energia não acabe antes da porrada de um gigante cujo martelo é do tamanho de um carro. Sem falar na mudança extremamente bem-vinda das armas de projéteis. Se antes era possível encontrar um cantinho distante para matar um basilisco com 300 incansáveis bolas de fogo (sim, eu fiz isso e não me envergonho), agora as armas de fogo têm alcance limitado e seu uso é muito mais tático do que efetivamente danoso. Um tiro bem colocado pode abalar um oponente, dando ao jogador a abertura necessária para um ataque cortante, de contusão ou perfurante. O combate ficou ainda mais preciso por conta disso, além da adição da possibilidade de recuperar-se do dano tomado - se em uma breve janela de tempo o jogador emplacar um contragolpe.

Por outro lado, há menos variedade de vestes e armas, mas muitas atualizações para os equipamentos de ataque. Com isso, cria-se um vínculo com as ferramentas, que serão usadas horas e horas, valorizando, mais uma vez, a arte do combate em Bloodborne.

Para os amantes dos gráficos superelaborados, porém, o game pode decepcionar. A qualidade é similar à de Dark Souls 2, apesar da geração de distância entre um e outro. Mesmo com a criatividade deliciosamente sangrenta de alguns dos monstros e oponentes e escolhas inspiradas de design, o jogo peca nos pequenos detalhes, como nos inúmeros problemas de colisão, a taxa de frames que cai em momentos com inimigos demais, a velha impressão de "saco vazio" dos oponentes mortos (que já virou tradição na série), a câmera confusa em cenários com muitos obstáculos e principalmente o tempo de (re)carregamento: 40 dolorosos segundos a cada morte ou transporte para o "Sonho do Caçador", a central de upgrades físicos e de armamentos.

Nada que atrapalhe a experiência, porém. O core é o combate - e nisso Bloodborne é um primor. A duração em si do título também o torna um entretenimento que vale o dinheiro investido. Tanto que as cerca de 20 horas que eu joguei nos dias que antecederam o lançamento apenas arranharam a superfície do título. Há muito ainda até a chegada ao cerne dos mistérios da cidade e sua noite de caçada - e sequer experimentei devidamente o componente multiplayer, que inclui jogo cooperativo e competitivo (semelhante a Dark Souls 2). Há muito o que explorar ainda em Yarnham.

Completamente na contramão do mercado, a From Software segue transformando a vida dos gamers em uma experiência quase masoquista. Morre-se o tempo todo e qualquer descuido é invariavelmente fatal. Mas é justamente daí que vem a satisfação quase animalesca - digna de torcedor de futebol em momento de gol do time no domingo - de matar um chefe difícil, que inferniza sua vida há dias. O "chuuuupa" na janela é inevitável, assim como os palavrões, que explodem da garganta, como se aquele oponente realmente existisse. Há poucos games tão prazerosos no mercado hoje. Na dificuldade reside a diversão de Bloodborne.

Bloodborne é exclusivo de PlayStation 4.

Nota do crítico