Review: The Legend of Zelda: Skyward Sword HD

Sem precisar carregar o mundo nas costas, Skyward Sword finalmente tem momento ao Sol

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 14.07.2021 10H00

A vida de um fã da Nintendo dez anos atrás era muito diferente de como é hoje. Quando Skyward Sword foi lançado originalmente em 2011, o Wii já completara alguns anos de marasmo enquanto o sucessor era preparado. Tudo dependia da muito adiada nova aventura de Link.

O mundo desconectado e a reciclagem de conteúdo de Skyward Sword, assim como o foco absoluto em controles por movimento para alguns, foram problemas grandes demais para um jogo que carregava a responsabilidade de salvar o final da vida do Wii e a franquia Zelda como um todo.

Em 2021, nem o Switch, nem Zelda precisam de salvação – eles passam muito bem, obrigado. E assim, recauchutado com dezenas de pequenas, porém impactantes melhorias, Skyward Sword finalmente tem um momento de cisne após uma década sendo visto como o patinho feio da família.

Divulgação/Nintendo

Skyward Sword é a história da primeira aventura de Link e Zelda, posicionada bem no início da cronologia da franquia.

Moradores de um conjunto de ilhas flutuantes chamado Skyloft, essas versões de Link e Zelda são grandes amigos de infância que estudam lado a lado na escola de cavalaria. Utilizando enormes montarias aladas chamadas de Loftwing para vasculhar os arredores das ilhas, os cavaleiros são os protetores desse pequeno enclave nos céus.

Tudo corre bem durante a cerimônia de graduação de Link, até que uma repentina tempestade o separa de Zelda, que desaparece. O futuro herói então segue uma misteriosa aparição até o local de repouso de uma espada sagrada, e descobre que tanto ele, quanto Zelda estão envolvidos em uma profecia que fala sobre a restauração da superfície – o mundo que existe escondido abaixo do mar de nuvens, aonde o jovem Link precisa ir para procurar Zelda.

A proximidade de Link e Zelda desde o início do jogo é uma quebra de paradigmas grande para a franquia, que tem em Skyward Sword uma de suas histórias mais emocionantes. A jornada da dupla de protagonistas é tão envolvente quanto aquela vista em The Wind Waker, em grande parte pelo nível de expressividade de Link, que demonstra vulnerabilidade de um jeito que suas outras versões raramente fazem.

O primeiro terço da aventura corre de maneira esperada, com Link perseguindo Zelda como já fez tantas outras vezes. Mas não demora para que a trama tome rumos inesperados, subvertendo as expectativas de fãs de longa data da série.

Divulgação/Nintendo

Vale deixar claro: Skyward Sword não é Breath of the Wild.

Completamente diferente em foco e escopo, o jogo original de Wii talvez seja o último título da série a seguir a estrutura básica apresentada por Ocarina of Time lá atrás no Nintendo 64. Link é guiado por uma narrativa linear, enfrentando calabouços e inimigos em uma ordem específica na medida em que desbloqueia novas armas e ferramentas.

Enquanto Breath of the Wild oferece um mundo aberto com obstáculos que devem ser vencidos na base da insistência e experimentação, Skyward Sword conduz o jogador através de passeios cênicos com quebra-cabeças para os quais há uma única resposta certa.

Em 2011, após uma campanha de marketing que prometia dar aos jogadores tamanha liberdade que eles poderiam até explorar os céus, isso foi uma decepção. Hoje, em um mundo pós-Breath of the Wild, a natureza hermeticamente fechada de Skyward Sword é estranhamente refrescante.

Juntas, todas as áreas de Skyward Sword formam uma enorme ‘dungeon’ – a culminação da fórmula de Ocarina of Time. Fora de Skyloft, Link não tem descanso: ele precisa estar sempre atento ao cenário para encontrar maneiras de avançar, inimigos para vencer e atalhos para desbloquear. Trata-se de um mundo enxuto, sem rebarbas, montado meticulosamente para desafiar o jogador a todo momento.

Divulgação/Nintendo

O foco constante na resolução de quebra-cabeças, porém, também evidencia o maior problema de Skyward Sword, que já existia no Wii e persiste no Switch: o mundo jogo é composto por áreas desconectadas, sem muita coesão.

Imagine um Ocarina of Time em que, em vez de atravessar Hyrule Field nas costas da Epona para alcançar seus objetivos, Link apenas saltasse da Kokiri Forest direto para a Death Mountain ou o Zora’s Domain. Esse é Skyward Sword – um jogo que desprestigia a exploração, que era um dos pontos mais fortes de todos os seus predecessores.

Sem uma conexão direta entre as áreas, o mundo de Skyward Sword passa uma melancólica sensação de artificialidade. Link sempre é teletransportado exatamente para os lugares que ele precisa visitar, e tais áreas não cedem espaço para nenhum detalhe extra que não seja parte de um quebra-cabeça ou cenário de batalha. Para um jogo que é herdeiro dos legados de títulos como Majora’s Mask, que tratava o cenário como um personagem, cheio de complexidades e pequenos excessos, esse é um tropeço difícil de engolir.

O problema é acentuado pela maneira como Skyward Sword obriga os jogadores a explorarem as mesmas áreas repetidas vezes. A cada visita, Link usa novas ferramentas para abrir mais caminhos – mas até mesmo os belíssimos cenários em aquarela de Faron Woods ou Lanayru Desert cansam após meia dúzia de horas em cada um deles.

Divulgação/Nintendo

Felizmente, Skyward Sword não deixa a exploração de lado por mero capricho. A consequência positiva do foco absoluto em quebra-cabeças e mecânicas de combate é a maneira como, em termos de quebra-cabeças e mecânicas de combate, Skyward Sword é o melhor jogo da série.

Todos os calabouços que Link encontra pela aventura são geniais, incluindo o primeiro, que em outros jogos Zelda costumam ser experiências inofensivas na forma de tutoriais glorificados. Itens engenhosos como o Beetle e as Clawshots são utilizados em desafios progressivamente mais inventivos, e até mesmo clássicos como a bomba ganham novos usos por conta das mecânicas de controles por movimento.

Os mesmos adjetivos valem também para o combate, que gira em torno de uma espada que pode desferir golpes em diferentes ângulos e direções.

Pegue um dos tipos mais básicos de inimigos, as plantas carnívoras Deku Baba: se a boca da criatura estiver aberta na horizontal, não importa quantos cortes verticais com a espada Link desferir, ele nunca vencerá. O corte precisa ser na direção certa, atingindo o ponto fraco do inimigo. Um outro exemplo do início do jogo é a aranha Skulltula, que precisa ser golpeada com um ataque de baixo para cima para que seu único ponto fraco seja revelado.

Não demora para que as batalhas contra tipos básicos de inimigos também se transformem em uma espécie de quebra-cabeça – algo que normalmente só vale para os chefes de cada calabouço. O jogador que apenas chacoalha a espada de maneira desgovernada não chegará a lugar algum.

Divulgação/Nintendo

Apesar de seu caráter polêmico, os controles por movimento de Skyward Sword eram tecnicamente irretocáveis no Wii, e continuam sendo no Switch. A grande novidade da versão HD é a possibilidade de controlar a câmera diretamente com a ajuda do segundo direcional analógico – uma adição muito bem-vinda.

Para quem prefere jogar com controles tradicionais (e para quem joga no Switch Lite e, portanto, não tem outra opção), Skyward Sword HD também permite, pela primeira vez, com que a espada de Link seja controlada pelo analógico direito. Naturalmente, a opção sacrifica a movimentação livre da câmera, que pode ser parcialmente substituída por uma opção que usa os sensores giroscópios do sistema para orientar Link.

O acréscimo dessas opções é uma vitória, e o maior trunfo de Skyward Sword HD em relação ao original. Elas permitem que mais jogadores possam aproveitar o game da maneira que preferirem. Até mesmo quem gosta de controlar a espada com o Joycon pode, por exemplo, alterar rapidamente o método de controle para não precisar usar os sensores de movimento na hora de voar com o Loftwing.

Muitas outras melhorias feitas pela versão HD também se encaixam na categoria de “opções.” É possível acelerar as caixas de diálogo e pular cutscenes. As dicas da parceira Fi agora também são opcionais – um grande alívio, já que o jogo original tinha o péssimo costume de revelar a solução para os quebra-cabeças mais difíceis antes que você tivesse o tempo de descobrir sozinho.

Mudanças como os trechos de tutorial encurtados e a remoção das telas de descrição de item repetidas podem parecer pequenas no papel, mas tornam a experiência de jogo muito mais fluida no Switch.

Divulgação/Nintendo

É impossível reescrever o passado. O time de desenvolvimento de Skyward Sword fez escolhas que decepcionaram muitos dos fãs mais assíduos da série em seu lançamento para Wii, e nenhuma remasterização seria capaz de mudar o jogo de uma maneira dramática o suficiente para remediar esses questionamentos.

Mas tudo o que podia ser feito para melhorar a experiência original, Skyward Sword HD fez.

Ideias que talvez parecessem cansadas em 2011 hoje têm um ar de novidade, e o estilo gráfico atemporal da aventura é ainda mais proveitoso rodando a 60 quadros por segundo.

Talvez o momento de Skyward Sword finalmente tenha chegado, mesmo que com dez anos de atraso. Para quem só conhece Breath of the Wild, o relançamento pode ser uma ótima porta de entrada para o passado da série. E para quem já jogou no Wii, a soma entre as melhorias e o distanciamento daquela época tensa para fãs de Zelda pode gerar uma nova perspectiva.

Nota do crítico