Review: The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom fecha era Switch com chave de ouro
Primeiro título com Zelda jogável é união de filosofias modernas com gameplay clássico
É claro que não há característica mais importante em The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom do que a sua protagonista. A princesa Zelda, personagem-titular da série de jogos de aventura da Nintendo, sempre foi importante. Muitas vezes, foi a verdadeira heroína da história. Mas, em 38 anos de história da franquia, nunca havia sido uma personagem jogável. Até agora.
Só de tirar Link do papel principal, a Nintendo faz de Echoes of Wisdom um daqueles jogos de Zelda que rompem paradigmas da franquia sem medo, assim como Wind Waker e sua direção de arte cartunesca, ou Breath of the Wild e sua abordagem com o mundo aberto sem amarras.
Mas, para além do ineditismo de finalmente termos a princesa Zelda como protagonista, o mais surpreendente aqui é a maneira como essa nova aventura consegue virar de cabeça pra baixo a maneira como se pensa as aventuras clássicas da franquia fazendo mudanças muito óbvias. Tão óbvias que ninguém havia percebido ainda.
Echoes of Wisdom é um Zelda que mistura gráficos e visuais em 3D com a jogabilidade de tabuleiro dos games antigos da série do Nintendinho e do Super Nintendo. Seu parente mais próximo acaba sendo o remake de Link's Awakening, que também saiu para Switch e também tem a mesma direção de arte.
A grande diferença está na maneira como Zelda interage com o mundo. Sua principal ferramenta é um cetro, com o qual ela é capaz de criar cópias de objetos e criaturas do cenário chamadas ecos. Além disso, ela também consegue se “conectar” a estes objetos, mudando sua posição ou sincronizando seus movimentos com os do alvo.
Na história, esses poderes surgem após um poder misterioso criar fendas dimensionais por toda Hyrule, fazendo pessoas desaparecerem. No processo, o próprio Link é engolido, junto de outras figuras importantes do reino. Ao mesmo tempo, monstros começam a sair destes buracos, aterrorizando os sobreviventes.
Para combater esse mal, Zelda une forças com Tri, essa simpática bolinha dourada cujo trabalho é manter o equilíbrio entre Hyrule e o mundo inerte, que está engolindo lugares por meio das fendas. É de Tri que vem o poder de memorizar e copiar itens do cenário, que são chamados de “ecos”.
A partir daí, o jogo segue, com algumas reviravoltas aqui e ali, o padrão que você já deve conhecer, ao visitar regiões diferentes do mapa para fechar as fendas, incluindo aí as clássicas masmorras em templos, com cenários de luta, puzzles e chefes.
A grande diferença em Echoes of Wisdom está justamente na maneira como se interage com esse cenário. É a tal mudança óbvia e simples que altera completamente as estruturas de um jogo já conhecido.
Por meio dos ecos, você pode copiar monstros e colocá-los para lutar no seu lugar, criando, inclusive, um metajogo estilo Pokémon no qual criaturas têm vantagens e desvantagens. Da mesma forma, você também pode copiar qualquer tipo de objeto do cenário, e utilizá-los de formas diferentes para atravessar o cenário ou resolver quebra-cabeças.
Se você pensou na mesma dinâmica de jogo de Tears of the Kingdom, acertou. Echoes of Wisdom aplica a mesma lógica do Zelda de 2023 ao modelo de jogo 2D consagrado pela franquia em décadas.
Essa associação é bem lógica, e a Nintendo não esconde a vontade de fazer uma conexão entre estes jogos, até porque o design dos menus, dos atalhos de ecos, a descoberta do mapa e até mesmo a estrutura de missões principais e paralelas são exatamente as mesmas de Tears of the Kingdom e Breath of the Wild.
Mas o grande truque de sucesso deste novo jogo é conseguir replicar, em um cenário totalmente diferente, a lógica de pensamento que só um jogo com múltiplas soluções para um problema pode proporcionar.
Enquanto os Zelda 2D geralmente se valiam de uma resolução única para quebra-cabeças e outros desafios de cenário, normalmente se valendo de um acessório ou item importante para cada templo, Echoes of Wisdom deixa que você exercite a criatividade e faça as coisas do seu jeito, de modo até a você eleger suas ferramentas de solução de puzzles favoritas.
Quando você menos percebe, essa linha de raciocínio vai se espalhando para todos os lados do gameplay. Eu percebi isso quando me vi ignorando as estradas comuns do mapa e usando plataformas e outros objetos para atravessar de um ponto a outro do cenário quase em linha reta, assim como em Tears of the Kingdom e Breath of the Wild.
O mais interessante de tudo isso é que Echoes of Wisdom consegue fazer isso ao mesmo tempo em que tem ali um caminho linear e mais rígido a ser seguido, como outros jogos da franquia faziam. O maior exemplo disso é justamente um modo de poder temporário em que Zelda usa a Espada do Poder para herdar o conjunto de habilidades de Link.
Mas, na maior parte do jogo, e de uma maneira assustadora, a Nintendo conseguiu aplicar a maneira de pensar em 3D em um jogo 2.5D.
Outro ineditismo importante que Echoes of Wisdom traz, ao menos para o público brasileiro, é justamente na localização, pois este é o primeiro jogo da história da franquia a ter menus e legendas totalmente traduzidos em português. E a localização faz bonito, abusando da criatividade em nomes de criaturas, ou até mesmo no uso de expressões populares em diálogos de NPCs.
Echoes of Wisdom é a maneira ideal de fechar, com chave de ouro, a era mais bem sucedida de Legend of Zelda, que consegue fazer da consistência de qualidade a sua característica principal na era do Nintendo Switch.
Enquanto outras gerações viram Zelda se metamorfosear em vários estilos artísticos e propostas de gameplay, Echoes of Wisdom é o ponto final de uma linha muito bem traçada desde Breath of the Wild, e que passa por Tears of the Kingdom. Três jogos muito diferentes entre si, mas que fecham com chave de ouro a era da franquia no Nintendo Switch justamente por compartilharem entre si um exercício inabalável de fé na criatividade e capacidade do jogador de trilhar o seu próprio caminho.