Review: Super Mario 3D All-Stars

Conversões minimamente decentes de três dos melhores jogos de plataforma já criados

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 16.09.2020 11H53

Discussões em torno de Super Mario 3D All-Stars inevitavelmente colocarão em cheque o "valor" da coletânea, e não sua qualidade.

Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy são três dos melhores jogos de plataforma já concebidos. Chuto até que, para muitos, talvez sejam os três melhores. A qualidade, portanto, está assegurada.

Mas será que conversões pouco ambiciosas destes três jogos "valem" R$ 300?

Divulgação/Nintendo

Lançado em 1996 bem a tempo de mudar para sempre a maneira como jogos exploravam a terceira dimensão, Super Mario 64 continua sendo um deleite em 2020.

Mergulhar novamente nos quadros do castelo da Peach é uma oportunidade perfeita para observar de perto o misto de inocência e engenhosidade que deu origem a praticamente todos os preceitos do gênero de plataforma 3D. A inocência transparece, por exemplo, na necessidade que os desenvolvedores sentiram de contextualizar a câmera distante como as lentes da câmera de um Lakitu que segue Mario por todos os lados. E a engenhosidade, por sua vez, fica clara na maneira como cada uma das 15 fases parecem universos próprios, com suas próprias regras e desafios, apesar de utilizarem exatamente as mesmas mecânicas básicas de controle.

Super Mario 64 envelheceu como um bom vinho. Controlar Mario, com movimentos como a mergulhada ou o salto triplo, ainda é muito satisfatório. Como o mais recente Super Mario Odyssey, trata-se de um jogo em que o mero ato de explorar o cenário é prazeroso (algo que também pode ser dito sobre Sunshine e Galaxy).

Dentre todos os jogos presentes em 3D All-Stars, Super Mario 64 é o que menos impressiona em termos técnicos. O jogo continua rodando na proporção 4:3, e o controle da câmera pelo direcional analógico direito apenas simula os botões C do Nintendo 64 - o que pode causar certa frustração em jogadores mais novos.

Mesmo assim, a nitidez da imagem e as texturas remasterizadas (adeus moedas pixelizadas!) fazem desta a versão definitiva de Super Mario 64 dentre todos os lançamentos oficiais.

Divulgação/Nintendo

Super Mario Sunshine hoje já não é mais visto tão bem quanto era em 2002. Tratado como o patinho feio da família Mario 3D, ele acabou ganhando má fama entre fãs da série por ter entrado para a história cercado justamente por Mario 64 e Mario Galaxy, ambos incontestáveis.

Sunshine tem muitos defeitos. Em certos cenários, a câmera se perde de maneira frustrante e aparentemente inexplicável. Os controles também pecam em alguns objetivos específicos, como o festival da melancia em Gelato Beach, irritando mais do que divertindo.

Ao meu ver, o maior problema do game - que o coloca, sim, abaixo dos demais - é a existência de upgrades para a F.L.U.D.D., bomba d'água que acompanha Mario na jornada por Delfino. A sensação de desbloquear uma nova habilidade como em um Metroid é gostosa, mas não compensa a decepção de, em vários momentos ao longo do jogo, tentar alcançar um certo objetivo e não conseguir apenas porque você ainda não ultrapassou a barreira arbitrária de progresso que habilita certo power-up.

Divulgação/Nintendo

Mas o jogo também tem muito a seu favor, e faz por merecer o lugar na coletânea. Delfino é um cenário muito diferente e carismático, e poder acompanhar a evolução da Delfino Plaza - o equivalente ao castelo da Peach em Sunshine - ao longo da aventura é um prêmio por si mesmo. A F.L.U.D.D. pode trazer problemas, mas também permite que Mario faça coisas impensáveis em outras situações, como usar pequenas lulas como jet-skis ou saltar como um foguete. Até mesmo a inclusão de Shadow Mario cria uma sensação de mistério envolvente na trama.

No original de GameCube, botão R analógico permitia ao jogador medir a força do dedo para aumentar ou reduzir a força do jato d'água da F.L.U.D.D. - algo que não é possível no Switch. Na nova versão, o jogador precisa alternar entre os botões R e ZR para controlar com eficácia o aparelho. É algo que causa estranheza nos primeiros momentos, mas que logo é superado.

Como com Mario 64, Sunshine ganha muita nitidez no Switch (na dock, o game roda em 1080p), além de um benefício inédito: o modo widescreen, que é muito bem-vindo.

Divulgação/Nintendo

A joia da coroa (principalmente porque Galaxy 2 não está no pacote), Super Mario Galaxy chega ao Switch como deveria: em belíssima alta definição e com a maior parte dos controles por movimento remapeados para botões.

Ao contrário do que alguns temiam, o jogo pode ser aproveitado inteiro mesmo no Switch Lite. As ressalvas: o cursor que coleta Star Bits ao longo da aventura deve ser controlado através dos sensores de movimentos ou da tela sensível ao toque do Switch, e os controles por movimento ainda são obrigatórios nas fases em que Mairo faz malabarismo em cima de uma bola ou assume o controle da arraia.

O jogo em si, por sua vez, segue irretocável. Poucos jogos são capazes de surpreender o jogador tantas vezes consecutivas quanto Galaxy. É impossível prever o que vai acontecer a cada novo objetivo: ao trocar os cenários tradicionais pela dinâmica de 'planetoides,' a Nintendo deu asas à própria criatividade.

Diferente do que acontece em Sunshine, o progresso em Galaxy depende apenas da habilidade do jogador no controle. É a mecânica de plataforma em sua forma mais primordial, extrapolada em cenários fantásticos que misturam elementos clássicos da franquia a outros nunca antes vistos.

Divulgação/Nintendo

Mas então: Super Mario 3D All-Stars... "vale"?

Coletâneas recentes como Crash Bandicoot N. Sane Trilogy e Spyro Reignited Trilogy afetaram bastante nossas expectativas para como esses produtos devem existir. 3D All-Stars não chega nem perto de fazer o que a Activision fez com estes outros remakes de plataforma. Mas os jogos da produtora americana tinham como propósito ressuscitar Crash e Spyro e viabilizar novas sequências - algo que Mario não precisa fazer. Mas comparações são inevitáveis.

De minha parte, o que fica é o seguinte: Super Mario 3D All-Stars almejou fazer o mínimo necessário para revitalizar estes três clássicos, e conseguiu. De um ponto de vista técnico, a coletânea é boa. São as melhores versões oficiais dos três jogos do pacote, que continuam excelentes.

Meça suas expectativas contra a realidade e faça sua escolha. Mas faça logo, porque a coletânea não será mais comercializada a partir de abril de 2021.

Nota do crítico