Review: Pikmin 3 Deluxe

Melhor versão do melhor jogo da série é excelente porta de entrada para novos jogadores

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 28.10.2020 10H00

O mundo merece uma chance de conhecer Pikmin.

Nesta que é secretamente uma das melhores séries da Nintendo, jogadores devem explorar paisagens que são ao mesmo tempo alienígenas e familiares ao lado de pequenas criaturas floridas, aproveitando-se de uma engenhosa mecânica que mistura ação e estratégia.

Por ironia do destino, apesar de todos os méritos, a série nunca teve uma real chance de brilhar: os três jogos principais da marca estrearam nas plataformas menos populares da Nintendo, o GameCube e o Wii U. Mas Pikmin 3 Deluxe chega agora ao Switch com uma real chance de colocar tudo nos eixos.

Cabe estabelecer isto desde o início: Pikmin 3 Deluxe é o ápice da franquia. Tudo o que já era bom no Wii U retorna, aliado a uma série de melhorias de interface e controle, novos modos e desafios, mais recursos de ajuda para jogadores iniciantes e até mesmo uma dificuldade inédita para veteranos corajosos.

Divulgação/Nintendo

Os protagonistas da aventura são três exploradores vindos de Koppai, um planeta cujos recursos naturais foram todos consumidos por uma população irresponsável. Os heróis saem rumo ao espaço em busca de uma maneira de sanar a crise de fome em sua terra natal, e acabam se deparando com PNF-404: um planeta selvagem que guarda os recursos dos quais eles tanto precisam, além de muitos segredos e ameaças.

Sozinhos, Alph, Brittany e Charlie não conseguem fazer quase nada. Felizmente, eles logo encontram ajuda na forma dos pequenos Pikmin - criaturinhas coloridas e muito altruístas que não hesitam em lutar e carregar enormes tesouros em nome dos exploradores.

Os monstrinhos agem quase como formigas domesticadas, que se enfileiram para cumprir objetivos quando comandadas. Elas podem ser arremessadas pelos exploradores contra inimigos ou objetos, e agem automaticamente de acordo com o contexto. Elas partem para a porrada quando estão de frente com um inimigo, por exemplo, ou então formam grupos para carregar frutas e outros objetos de volta para a base.

A mecânica central de Pikmin 3 gira em torno da manutenção de um exército de até 100 das criaturas. Os três exploradores ainda podem se separar, essencialmente dividindo os Pikmin em 3 batalhões capazes de cumprir várias tarefas ao mesmo tempo. Os monstrinhos, por sua vez, têm diferentes habilidades dependendo de suas cores - os vermelhos, por exemplo, são resistentes ao fogo, enquanto os roxinhos conseguem voar.

A aparente fofura da série esconde a complexidade dos sistemas do jogo, que são fáceis de compreender, mas muito difíceis de dominar. Mas o processo de aprendizado é um deleite: controlar o exército de Pikmin é intuitivo e muito satisfatório, de maneira que até mesmo o simples ato de coletar um tesouro e ver os monstrinhos carregando-o de volta para a base já é prazeroso. (Detalhe: descrevo como "aparente fofura" porque a realidade em PNF-404 é bem cruel. Espere até você sentir a dor de perder um batalhão inteiro de Pikmin.)

Divulgação/Nintendo

Os dias no planeta PNF-404 duram cerca de 15 minutos no mundo real. Ao pôr do Sol, o jogador deve encontrar uma maneira de reunir seus Pikmin e retornar para a base para não ser alvo de predadores noturnos. No dia seguinte, a exploração pode ser retomada de onde parou.

O limite de tempo se encaixa perfeitamente na mecânica de estratégia, por obrigar o jogador a encontrar maneiras de otimizar e priorizar as ações de seu exército. Em certos momentos, você precisará deixar um tesouro para trás e carregar uma fruta no lugar dele, para não correr o risco de passar fome durante a noite. O tesouro ainda estará lá no dia seguinte, então não é como se o jogo fosse muito punitivo - mas a presença de pequenas escolhas assim ao longo da campanha torna a experiência mais envolvente.

No Switch, o processo de otimizar o uso dos Pikmin ganha uma nova dimensão por conta da maior novidade da versão Deluxe: a campanha inteira agora pode ser enfrentada ao lado de um amigo no modo cooperativo em tela dividida. A opção co-op já existia nos modos paralelos da versão de Wii U, mas é ainda mais proveitosa na história por possibilitar o uso de estratégias mais complexas, por exemplo, em batalhas contra chefes.

Os demais modos do Pikmin 3 de 2013 também retornam, incluindo todo o conteúdo que fora lançado originalmente como DLC pago, e mais duas campanhas extras de desafios chamadas de 'Side Stories'. Com fatores como limites de tempo e leaderboards, esses outros modos elevam ainda mais a mecânica do jogo, obrigando os exploradores a serem extremamente eficientes para conseguir as melhores pontuações.

Merece destaque ainda o engenhoso modo Bingo Battle, que coloca dois jogadores frente a frente em uma batalha direta de coleta de tesouros. O objetivo é preencher fileiras ou colunas em uma cartela de bingo antes do adversário, sendo que os campos da cartela são representados por inimigos que precisam ser vencidos ou tesouros a serem coletados.

Os únicos tropeços de Pikmin 3 Deluxe dizem respeito a problemas técnicos: como era no original, é comum perder um ou outro Pikmin por dia porque eles ficaram presos em alguma colina ou saliência no cenário, o que pode ser frustrante. No modo portátil, a baixa resolução também faz com que alguns detalhes no cenário e da ação passem despercebidos.

Vale mencionar também que, ainda que Pikmin 3 Deluxe seja perfeitamente jogável em opções de controle tradicionais, a melhor experiência da série continua sendo, como era nas versões anteriores, na combinação entre direcionais analógicos e sensores de movimento. É recomendável ativar o giroscópio dos controles a partir do menu e controlar a 'mira' dos exploradores com leves movimentos do pulso - algo que pode ser feito até mesmo no Switch Lite.

Apesar de carregar o número "3" no nome, Pikmin 3 Deluxe é a porta de entrada perfeita para jogadores iniciantes. Seja bem-vindo(a), aproveite, e depois junte-se a nós na aparentemente interminável espera por Pikmin 4.

Nota do crítico